Na era do ‘selfie radical’, veja nove dicas para evitar morrer pela foto
Cada vez mais crescem os riscos de se fazer um autorretrato na busca por mais audiência
No mundo do selfie –ou do autorretrato, se você é um purista do idioma –, importa cada vez menos quem sai na fotografia e cada vez mais o cenário e a adrenalina que a imagem exala. Os selfies radicais parecem ser o destino natural de uma moda que ou evolui ou pode desaparecer. Pois resta ainda alguma coisa a se mostrar depois do enésimo selfie? O narcisismo, que esteve na base do sucesso dessa atividade, já não basta, e também deve ser reciclado. Misture a mesma dose de ego com uma descarga de adrenalina e, se convier, com um pau de selfie, e o fenômeno irá ganhar muitos anos de vida.
A chegada do pau –um equipamento que possibilitar tomar imagens com maior perspectiva e, de passagem, disfarçar a papada e as olheiras, para se obter um selfie mais apresentável –, estimulou as pessoas que se dispõem a arriscar a vida para conseguir transformar em viral pelo menos uma de suas fotografias.
Semanas atrás, o Ministério do Interior da Rússia lançou uma campanha com um slogan aterrorizante: “Seu próximo selfie pode ser o último”. Segundo o Governo desse país, os autorretratos arriscados foram responsáveis pela morte de 10 pessoas e mais de 100 feridos até agora neste ano. Alguns casos, como o de Xenia Ignatyeva (de 17 anos), deixam um selfie póstumo para os anais da história. A jovem subiu em uma ponte com nove metros de altura, tirou uma fotografia e depois perdeu o equilíbrio, caindo sobre um cabo de alta tensão que a eletrocutou.
O selfie arriscado permite não só conquistar e impressionar amigos, mas também construir uma carreira na Internet. É o caso de Kirill Oreshkin, que ficou famoso com suas imagens tiradas à beira de abismos. Não é de estranhar que as peças de divulgação usadas pela campanha do Governo russo por mais segurança façam referência a histórias de casos verídicos: selfies com animais selvagens que acabaram atacando o fotógrafo, selfies na beirada de terraços onde uma pessoa pisou sem querer em um cabo de alta tensão, selfies com armas de fogo (aparentemente muito populares na Rússia), imagens feitas sobre trilhos de trens (com o trem bem próximo, pois, se não for assim, perde a graça).
Ninguém está isento de cometer esse pecado. Em março de 2014, a Espanha registrou uma das primeiras mortes por selfie do mundo. Um grupo de amigos subiu no teto de um trem parado em Andújar (Jaén) para fazer a fotografia. Um deles, de 21 anos, morador do distrito de Vegas de Triana, tocou em um cabo de 3.500 volts e morreu na hora.
O selfie arriscado permite não só conquistar e impressionar amigos, mas também construir uma carreira na Internet
Como a vontade de liberar adrenalina aumenta quando estamos em viagem e fora dos ambientes rotineiros, elaboramos aqui um guia fácil de sobrevivência aos selfies.
1. As situações de risco são reais, mesmo sendo percebidas através de uma câmera de celular.
O seu telefone é muito inteligente e pode ser bem caro. Tem muitas utilidades, mas dentre elas não está a de que a sua tela o proteja daquele trem que está se aproximando e que parece que vai atropelá-lo a qualquer momento. Se, na tela, ele aparece prestes a passar por cima de você, certamente está prestes a fazê-lo na realidade.
Caso real: quatro amigos indianos viajavam de carro para conhecer o Taj Mahal e decidiram parar para tirar um selfie sobre um trilho quando o trem, de alta velocidade, estivesse “o mais próximo possível”, segundo o testemunho do único sobrevivente do grupo. Um erro de cálculo de tempo e de distância levou-os a serem atropelados pelo trem.
2. Não espere ficar muito bêbado para começar a fazer as fotos.
O álcool desinibe, altera a sua percepção da realidade, faz você perder o equilíbrio, faz você acreditar que tem superpoderes. Um selfie arriscado o será ainda mais se você antes tiver bebido.
Caso real: Óscar Otero Aguilar, um mexicano de 21 anos, passava o dia na casa de um amigo, onde bebiam havia já várias horas. Era vidrado em tirar selfies com carros e com armas. Lá pelas tantas, em algum momento da noitada, achou que seria uma boa ideia fazer uma fotografia dele mesmo apontando uma pistola para a sua cabeça, a qual disparou acidentalmente. Isso aconteceu em julho de 2014. Sua intenção era divulgar a foto no Facebook. Não deu certo: ele morreu.
3. Evite fazer selfies enquanto está dirigindo. São muito banais, não impressionam ninguém e, além disso, são perigosos.
Um estudo da Ford revela que um em cada quatro europeus entre 18 e 24 anos de idade já fez uma foto de si mesmo enquanto dirigia. A lista é encabeçada pelos britânicos, alemães e franceses. Na Espanha, apenas 18% dos entrevistados disseram ser viciados em fazer selfies ao volante.
Caso real: Em 26 de abril de 2014, Courtney Sanford, de 32 anos, postou no Facebook um selfie e um comentário enquanto dirigia um carro na Carolina do Norte. Eram 8h33. Segundos depois, seu automóvel se chocou com um caminhão e ela morreu no ato. A polícia foi alertada do acidente às 8h34.
4. Vivendo a céu aberto ou em cativeiro, os animais não querem fazer um selfie com você. Entenda isso.
As histórias de pessoas atacadas por animais que aguardaram pacientemente que o fotógrafo finalizasse sua obra para atacá-las indicam que não é uma boa ideia deixar um testemunho visual de suas andanças pela selva, de seu safari no Quênia ou de sua visita ao zoológico do Bronx. Além disso, os parques nacionais norte-americanos recomendam aos seus visitantes que se abstenham da “estupidez” de fazer um selfie com os ursos. “Ursos são animais selvagens e imprevisíveis, que podem atacar caso se sintam agredidos. Não podemos permitir que os visitantes criem situações arriscadas para si próprios e para outras pessoas”, alertam em um comunicado. A porta-voz do parque nacional de Lake Tahoe, Lisa Herron, afirma ter visto verdadeiras multidões correndo atrás de ursos para fazer selfies com eles.
Casos reais: Um homem foi atacado por um cisne no zoológico do Kansas, sem maiores consequências. Outro frequentador foi atacado por um esquilo, que aguardou astuciosamente que ele terminasse de fazer o selfie para depois atacá-lo pelas costas. O protagonista deste caso divulgou a sequência no Reddit.
5. Não faça um selfie se você não consegue manter o equilíbrio.
Se você chegou a um local onde, por causa da altura, da topologia do terreno ou das correntes de ar, se sente obrigado a se segurar com as duas mãos, não solte uma delas para pegar o celular e deixar um registro de sua passagem por ali. Pode ser a última coisa que você fará nesse dia.
Casos reais: A adolescente italiana Isabella Fracchiolla, de 16 anos, tentava fazer um autorretrato nos penhascos da costa de Taranto, onde estava em viagem de estudos com seus colegas de classe. Caiu de uma altura de 18 metros e morreu diante dos amigos. Também caíram no vazio enquanto se fotografavam Michal Mackowiack e sua mulher, ambos poloneses, de um penhasco de Cabo da Roca, em Sintra, Portugal. Seus filhos, de 5 e 6 anos, testemunharam essa cena terrível.
6. Telhados e pontes são superfícies finitas. Não se esqueça disso.
Por mais que você não tenha ainda conseguido encontrar o enquadramento que está procurando para a sua foto, saiba que o limite do terraço ou da ponte foi definido pelo arquiteto responsável pela obra desde o ano da sua construção, e você não tem como lutar contra a lei da gravidade. São dois fatos que a sua paixão pela fotografia não pode alterar em nada. Leve em conta, além disso, que nos dois casos pode haver cabos de alta tensão.
Caso real: Uma estudante polonesa de 23 anos, identificada pelas iniciais R. S. A., despencou sobre o passeio de concreto armado da margem do rio Guadalquivir quando tentava fazer um autorretrato com a ponte de Triana ao fundo. A jovem faleceu dias depois da queda.
7. Se você não sabe mexer com uma arma, não faça um selfie com ela. Se sabe, também não faça: não tem graça nenhuma.
Em sua campanha, o Governo russo adverte: “Um selfie com uma arma pode matar”. Infelizmente, o chamado gun selfie (selfie com arma) já constitui uma categoria à parte dentro desse tipo de fotografia.
Infelizmente, o chamado ‘gun selfie’ (‘selfie’ com arma) já constitui uma categoria à parte dentro desse tipo de fotografia.
Casos reais: um jovem moscovita de 21 anos atirou acidentalmente contra a sua própria cabeça ao fazer um autorretrato com uma pistola. O rapaz sobreviveu para contar. Não houve nenhum registro de imagens, mas lhe ficou de lembrança uma enorme cicatriz. Em maio passado, também em Moscou, uma mulher encontrou um revólver de nove milímetros em seu escritório e tentou fazer um selfie com ela, mas o gatilho disparou e ela levou um tiro na cabeça. A arma pertencia ao chefe de segurança da empresa, que estava em férias.
8. Nas noites de tempestade, deixe o pau de selfie em casa. Não o leve, também, a eventos com grande aglomeração de pessoas ou a parques de diversão.
O pau, que é metálico, pode atrair descargas elétricas em meio a uma tempestade. Além disso, mesmo com tempo bom, um pau de selfie no meio de uma multidão e um sujeito obcecado pela sua própria imagem em perspectiva são uma combinação perfeita para causar um acidente. Se dois sujeitos com essas características se reúnem, cada um com seu pau de selfie, o confronto pode ser muito mais grave do que o de seus próprios egos.
Caso real: O dia 8 de julho passado ficará gravado na história da tecnologia, se é que alguém está registrando tudo isso, como o da primeira morte causada por um pau de selfie. Ela aconteceu no parque nacional de Brecon Beacons, no País de Gales. Em meio a uma tempestade, um caminhante foi atingido por um raio e morreu. Segundo o jornal The Telegraph, o homem levava consigo um pau de selfie que pode ter funcionado como para-raios.
9. Em caso de ego transbordante, opte por uma montagem. É mais seguro, e, de qualquer maneira, a Internet é um território difícil para se verificar.
Caso (de montagem) sem verificação: o australiano Terry Tufferson fez uma gravação de si mesmo na primavera de 2014 lutando com um tubarão branco depois de ter saltado de uma ponte em Sidney. Em agosto, um outro vídeo dele também se tornou viral: seu carro se aproximava perigosamente de um furacão, tanto que Terry se abaixa para viver a experiência com mais intensidade. Tamanha sorte para sobreviver a esses perigos e a essa produção tão gigantesca de adrenalina acabaram por despertar inúmeras suspeitas na Internet, onde até agora a autenticidade de seus selfies está em suspenso.
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