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Análise
Exposição educativa de ideias, suposições ou hipóteses, baseada em fatos comprovados (que não precisam ser estritamente atualidades) referidos no texto. Se excluem os juízos de valor e o texto se aproxima a um artigo de opinião, sem julgar ou fazer previsões, simplesmente formulando hipóteses, dando explicações justificadas e reunindo vários dados

Dias de ira pela morte de um bebê

Pode ser o início de uma guerra entre o jihadismo e o extremismo nacionalista judeu

Juan Carlos Sanz
Um homem enfrenta o Exército Israelense em Hebrón.
Um homem enfrenta o Exército Israelense em Hebrón.A. A. H. (EFE)

Israel encarou o primeiro Shabbat de agosto em um clima de tensão sem precedentes desde a guerra de meados do ano passado em Gaza. O sequestro e a morte de três adolescentes judeus e o assassinato de um jovem palestino queimado vivo precederam o conflito mais mortífero desde a Guerra dos Seis Dias (1967) e o mais longo desde o da Independência (1948-1949).

Ainda são imprevisíveis as consequências do ataque incendiário ocorrido na madrugada de sexta-feira em Duma, que provocou a morte de um bebê de 18 meses e causou ferimentos graves em seus familiares, mas tanto o Governo de Israel como a Autoridade Palestina tentam evitar que o incêndio se espalhe por toda a Cisjordânia.

Nem o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu nem o presidente Mahmud Abbas parecem dispostos a pagar o preço de desencadear a Terceira Intifada. O dirigente de Israel não demorou a condenar o terrorismo “venha de onde vier”, mesmo que do lado judeu. O mandatário da Autoridade Palestina mobilizou suas forças de segurança nas mesquitas para que o dia de oração não levasse a uma explosão de ira.

Mas a escalada da tensão que marca o fim das semanas muçulmana e judaica não convida ao otimismo. Os incidentes protagonizados por colonos judeus depois da demolição de construções declaradas ilegais pelo Supremo Tribunal israelense no assentamento de Beit El inflamaram os ânimos no campo nacionalista. E a detenção de dois extremistas judeus pelo Shin Bet (segurança interior) como responsáveis pelo incêndio da igreja do milagre dos pães e dos peixes na Galileia há dois meses caiu como uma bomba entre os defensores da colonização das bíblicas Judeia e Samaria (atual Cisjordania).

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A presença de judeus ultrarreligiosos na Esplanada das Mesquitas de Jerusalém, terceiro lugar mais sagrado do islamismo depois de Medina e Meca e local do Monte do Templo na tradição judaica, jogou ainda mais lenha na fogueira. O Hamas, movimento de resistência islâmica hegemônico em Gaza e com crescente influência na sociedade civil da Cisjordânia, aproveitou a situação para convocar uma jornada de protestos durante a prece de sexta-feira. A organização agora reforça seus apelos à vingança.

Como apontava Amos Harel em uma análise de emergência no jornal Haaretz, podemos estar assistindo ao nascimento de uma guerra religiosa entre o jihadismo islâmico e o extremismo nacionalista judeu. Netanyahu declarou-se “comovido e enfurecido” após visita a um hospital israelense para ver a família vítima do ataque incendiário em Duma, no norte da Cisjordânia, cujo filho menor morreu queimado vivo. Foi um ataque de represália atribuído a radicais judeus que pretendem impor uma estratégia de “olho por olho” e “fazer pagar um preço” por cada retrocesso na política de colonização.

O próprio Netanyahu, que ficou à frente das condenações ao ataque com líquidos inflamáveis contra uma família em plena madrugada, e seus ministros do partido Lar Judeu (nacionalista e pró-colonos) que o apoiaram imediatamente, guardaram silêncio e fizeram vista grossa durante os seis últimos anos no Governo diante de outros ataques incendiários contra lares palestinos em que não se registraram vítimas. Ou contra mesquitas e igrejas.

A impunidade dessas ações e a permissividade com a violência nacionalista estão por trás da progressiva radicalização de alguns grupos de colonos, incentivados por seus próprios dirigentes políticos e rabinos exaltados. Agora até Netanyahu cruza os dedos para que o pavio aceso pelos radicais judeus não reavive as brasas ainda ardentes após décadas de conflito.

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