_
_
_
_

‘Highway 61 Revisited’, de Bob Dylan: uma nova consciência

Poucos discos têm uma arrancada como o golpe de bateria em 'Like a Rolling Stone'

Bob Dylan, em 1965.
Bob Dylan, em 1965.

A recente turnê de Bob Dylan pela Europa maravilha a desafiante juventude que o jovem Zimmerman viu preservada para sempre na capa —obra do fotógrafo David Kramer— de Highway 61 Revisited, seu sexto álbum e o primeiro totalmente elétrico.

Mais informações
O que seu gosto musical diz sobre você
B. B. King, a grande memória do ‘blues’, morre aos 89 anos
Não nos esqueceremos, Amy Winehouse
O frescor assombroso de Gil e Caetano
‘Like a Rolling Stone’: meio século de um marco na música popular
‘Yesterday’ faz 50 anos
Quando Joe Cocker era a poderosa voz do excesso
Beatles e Stones contra os clichês
O ‘tesouro’ oculto de Bob Dylan sai à luz 45 anos depois
Pete Townshend: “A minha geração foi longe demais”

Poucos LPs têm uma arrancada tão crucial como esse golpe do baterista Bobby Gregg no início de Like a Rolling Stone, candidata a melhor composição de sua época ou de qualquer outra, tão abismal em seu desdém –para com a musa de Andy Warhol, Edie Sedgwick, mas também para consigo mesmo depois de entediar-se do dogma folk– que Greil Marcus precisou de todo um livro para eviscerá-la e observar em seus pedaços, como nas folhas de chá no fundo de uma xícara, a vertigem de uma época convulsionada. “Um toque de bateria que soa como um disparo de pistola”, escreve Marcus. “Em Like a Rolling Stone a força de atração do passado era tão forte como a força de atração do futuro, e este era fortíssimo”. O órgão casual de Al Kooper, o sopro de blues impressionista, o eco do Studio A da Columbia Records, a torrencial letra e essa pergunta universal no estribilho –como alguém se sente quando não encontra o caminho de casa– a tornaram uma dessas peças que nunca faltam. Depois aparece a solene diatribe contra os meios de comunicação que o interpretam mal e pervertem tudo, em Ballad of a Thin Man, conduzida pelo trepidante piano do próprio Bob, aqui venenoso como escorpião encurralado. Uma réstia de atípicas, e tagarelas baladas equilibrava o conjunto: a cadenciada It Takes a Lot to Laugh, it Takes a Train to Cry e sua oxidada gaita, a melodiosa Queen Jane Approximately, a desolada Just Like Tom Thumb’s Blues… E a verborreia final que vai vomitando Desolation Row, onze minutos de entropia lírica, com guitarra espanhola pontuando o avanço até nenhum lugar.

"Foi a via principal do country blues, começa onde eu comecei’", esclareceu Dylan sobre a estrada que dá título ao álbum. "Meu lugar no universo, sempre senti que a levava no sangue". Apesar do substrato rural, Highway 61 Revisited transborda culto e referências, aguerrido e sinuoso. Iguala a cantora de blues Ma Rainey a Beethoven, cita Jack o Estripador e Dalila na mesma letra, Einstein e Nero, Ofélia e Romeu, T.S. Eliot e Ezra Pound. As alegorias se reviram tal qual uma enxurrada de folhas levadas pelos ventos outonais, enquanto a aguda guitarra de Michael Bloomfield impõe o estigma rock and roll à exaurida matriz do folkie criado nas catacumbas do Greenwich Village.

A arrancada de uma nova era, uma nova consciência.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_