'Surfe' a boa onda do cinema latino-americano em São Paulo
Festival de cinema latino de SP faz 10 anos com 11 filmes gratuitos até 5 de agosto
No fim dos 90 – década em que América Latina viu agonizar muitas de suas cinematografias –, vários países da região começaram a recuperar seus cinemas e a viver a chamada buena ola. Essa retomada, que também existiu no Brasil, aconteceu graças à criação de institutos nacionais (re)criados para pensar a produção audiovisual e, sobretudo, fomentá-la. Os esforços (estatais, em grande parte) renderam frutos, e ainda rendem: a cada ano, mais e mais filmes são feitos, distribuídos para festivais, premiados e exibidos em circuito comercial.
O Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo, que em 2015 completa uma década de existência, é testemunho dessa boa onda. Em suas primeiras edições, eram poucos os países representados na programação (o trio dos mais ativos, em geral) e muitas as dúvidas sobre a resposta do público aos filmes. Hoje, o evento que acompanhou os anos magros da retomada latino-americana é reconhecido em toda a região, e se vê obrigado a deixar muitos títulos fora de sua seleção – cada vez mais ampla – e sossega com sessões quase sempre cheias.
Brasil, Argentina e México – os três principais produtores de cinema da região – têm hoje uma indústria prolífica, ainda que em construção, e países como Chile, Colômbia, Uruguai e Peru vem ganhando um destaque cada vez maior com seus filmes em vitrines internacionais, como os festival de Cannes, Sundance e Berlim. Caminho, esse, que costuma pavimentar uma boa relação com o público, porque pauta festivais locais e garante que mais salas os exibam.
O clima, portanto, é ótimo e convida toda a cidade a surfar – e ainda é grátis. Este ano, foram anunciadas 111 produções de 17 países a serem exibidas a partir desta quinta-feira, 30 de julho, até o dia 5 de agosto, em 11 salas paulistanas – recorde na história do evento, que fez grande esforço para driblar a crise e acontecer com menos recursos que em anos anteriores.
Na curadoria de Francisco César Filho, Jurandir Müller e João Batista de Andrade – atual diretor do Memorial da América Latina –, há exibições de filmes (contemporâneos, clássicos, produções de escolas de cinema, documentários televisivos e outros musicais) e mais, com destaque para o seminário internacional Caminhos do Audiovisual Latino-Americano no Século XXI, com cinco mesas cuja missão é colocar especialistas para debater com o público.
Destaques da programação
Nas telas, brilha a sempre prolífica Argentina, com longas-metragens como Morte em Buenos Aires, de Natalia Meta, em que atua Chino Darín, filho do grande galã latino-americano Ricardo Darín, e As insoladas, de Gustavo Taretto, diretor do celebrado Medianeras.
Brilha também a Colômbia, a nova queridinha do cinema latino-americano, que marca presença em São Paulo com seis títulos nos vários blocos do programa, incluindo Viva a música, de Carlos Moreno – filme inspirado no livro de mesmo nome que é um dos maiores hits literários colombianos, escrito por Andrés Caicedo, que morreu jovem, nos anos 70.
Outro destaque é o Peru, com Sozinhos, a nova entrega de Joanna Lombardi, neta de Francisco Lombardi, o principal cineasta do país; e Videofilia (e outras síndromes virais), de Juan Daniel Molero, o primeiro peruano a ganhar o prêmio máximo do Festival de Rotterdam.
Da América Central, que aparece, ainda que com menor quantidade de filmes, chamam a atenção Los Maes de la Esquina, documentário de Juan Manuel Fernández sobre adolescentes que vivem na periferia na Costa Rica, e Miskitu, de Rebeca Arcia, sobre o deslocamento forçado de uma comunidade nativa da Nicarágua por conta da guerra.
Entre os brasileiros, há várias pré-estreias nacionais, como Sermão dos peixes, de Cristiano Burlan, Fome; Trago comigo, de Tata Amaral, e As fábulas negras, realizado por quatro importantes nomes do terror brasileiro – Rodrigo Aragão, Petter Baiestorf, Joel Caetano e José Marica Marins, o Zé do Caixão. Também há oportunidades de rever títulos elogiados que ficaram pouco tempo em cartaz, como o documentário Domiguinhos, de Joaquim Castro, Eduardo Nazarian, Mariana Aydar.
Sem falar nas homenagens especiais aos cineastas Lírio Ferreira e Hector Babenco, que reune preciosidades: Baile perfumado, Cartola – Música para os olhos e Árido Movie, no caso do primeiro, e Lúcio Flávio – Passageiro da agonia, Pixote – A lei do mais fraco, O beijo da mulher-aranha e Carandiru, no segundo. Só não surfa quem não quer.
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