Nikkei se compromete a preservar a independência do ‘Financial Times’
O grupo japonês afirma que o ‘Financial Times continuará a ser o Financial Times’
A cúpula do Nikkei, o grupo japonês de comunicação que nesta quinta-feira fechou a compra do Financial Times (FT), um dos jornais mais influentes do mundo, comprometeu-se nesta sexta-feira a manter-se inteiramente separado das equipes editoriais e prometeu a “total independência” do diário britânico. A direção da holding japonesa ressaltou, numa entrevista coletiva em Tóquio, que a aquisição tornará o Nikkei “um dos conglomerados de veículos econômicos mais poderosos do mundo”.
"Não vamos integrar os dois jornais”, esclareceu o presidente e CEO do grupo japonês, Naotoshi Okada. "O Financial Times e o Nikkei continuarão cobrindo as mesmas informações: não haverá nenhuma diferença. O que vamos fazer é colaborar e estreitar laços, mas não vamos mudar a organização editorial Financial Times", afirmou. "Será completamente independente: a compra não afetará o que é escrito no FT. A independência estará plenamente garantida”, insistiu.
"O FT.com é uma referência e, somado à potência do Nikkei, será mais ainda, com 900.000 assinantes online", disse o executivo principal do grupo japonês. “É do FT que temos que aprender para nos tornarmos mais fortes. São especialistas na promoção de atividades e na gestão de clientes.”
Perguntado sobre a sinergia entre as duas empresas, Okada destacou unicamente o aspecto material —"em vez de ter mais de uma redação numa capital do mundo, o que faremos será reunir ambas num só espaço físico"— e ressaltou que a importância do tratamento "microscópico" da informação financeira asiática da Nikkei Asian Review também será importante para o FT. "Trará uma visão detalhada da Ásia. A Nikkei Asian Review quer continuar sendo líder na Ásia e nossa vontade é incluir mais jornalistas, não só japoneses”, disse.
"A compra acelera nossos esforços de globalização. Para um veículo japonês não é fácil dar o salto global e por isso decidimos entrar nesse processo de mãos dadas com a FT”, observou Okada. “Até agora tivemos uma relação estreita, especialmente nos últimos cinco anos, com acordos de intercâmbio de conteúdo e a organização conjunta de seminários. Quando a compra se concretizar, queremos ir além: trocar recursos humanos, know how e conhecimentos técnicos", afirmou. "Queremos aprofundar nossa relação e combinar forças”.
John Fallon, conselheiro delegado de Pearson, explica os motivos da venda./ FT
Por sua vez, o presidente não executivo do Nikkei, Tsuneo Kita, destacou os pontos em comum entre “a filosofia e os valores” de seu jornal e do Financial Times, que qualificou como “o melhor sócio possível”. “Entendo a preocupação de alguns funcionários e leitores [em relação à compra], mas o FT sempre será o FT e agora estará ainda mais forte. Não se deve temer essa operação; nossos valores são os mesmos: equanimidade e imparcialidade. Sentimos uma grande responsabilidade por manter os valores associados à marca FT”, insistiu.
Kita se disse "seguro" de que ambos os veículo poderão "trabalhar juntos”. O presidente não executivo confirmou, também, que os contatos com a alta direção da Pearson ocorreram “nos últimos meses” e se intensificaram nos últimos dias, com várias viagens de executivos para a Pearson em Londres, mas “os detalhes e o preço só foram fechados ontem”.
Pearson perde 395 milhões até junho
O grupo editorial britânico Pearson, que na quinta-feira fechou a venda do Financial Times ao Nikkei, registrou um prejuízo de 79 milhões de libras (395 milhões de reais) no primeiro semestre deste ano, diante do lucro de 226 milhões de libras (1,16 milhão de reais) no mesmo período de 2014, segundo informações da própria empresa. O resultado operativo do grupo editorial britânico acumulou perdas de 182 milhões de libras (938 milhões de reais), triplicando a cifra negativa do ano anterior.
Nesse período, o Financial Times aumentou em 9% sua circulação paga, chegando a 737.000 exemplares entre impressos e digitais. O número de usuários online aumentou 14% de um ano para ou outro, chegando a quase 520.000, praticamente 70% do total.
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