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Cotação do dólar dispara e fecha a 3,29 reais, maior valor desde março

Países emergentes sofrem com nervosismo causado pela crise na Grécia

Sonia Corona
Um banco mexicano exibe a taxa de câmbio.
Um banco mexicano exibe a taxa de câmbio.Mario Guzmán (EFE)

O peso mexicano vive seus momentos de maior baixa. Outra vez. Na quarta-feira a moeda mexicana foi cotada em 16,40 pesos por dólar norte-americano, segundo estimativa do Banco do México. Duas semanas atrás a moeda dos EUA tinha alcançado um máximo histórico em decorrência da tensão em torno da crise da dívida grega. O México e outros países emergentes, como o Brasil — onde a cotação da moeda norte-americana disparou 2% e fechou a quinta-feira em 3,29 reais (o dólar turismo estava sendo vendido por até 3,69 reais) — estão sofrendo o nervosismo que essa situação provoca entre os investidores internacionais. Estes preferem apostar em moedas mais estáveis, como o dólar, até que a situação na Europa ganhe definição maior.

Desde o início do ano a moeda mexicana começou a sentir os efeitos da recuperação da economia dos EUA e do fortalecimento do dólar. Em janeiro, a taxa de câmbio superou a barreira dos 15 pesos por dólar, e na terça-feira se aproximou dos 16 pesos por dólar. Embora a depreciação do peso tenha sido gradual, já está afetando o panorama previsto para os próximos meses. Na quarta-feira alguns bancos da Cidade do México já estavam vendendo a moeda norte-americana por mais de 16 pesos por dólar.

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Além disso, o México vive dias de incerteza diante da elevação iminente dos juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), prevista para setembro. O dinheiro está voltando para o Norte, deixando a economia mexicana com as sobras. “Enquanto essas questões não forem resolvidas, acho que vamos continuar a assistir a esta volatilidade”, comentou Carlos Serrano, economista chefe do BBVA Bancomer.

A previsão de crescimento do país foi enxugada nos últimos meses, e é possível que o México consiga elevar seu PIB em entre 2,5% e 3,5%. A inflação se manteve estável, entre 2,8% e 3%. Nessas condições, o sobe e desce da taxa de câmbio tem reflexos sobre os seguintes setores:

Turismo. O dólar mais caro desencoraja os mexicanos (assim como os brasileiros) de viajar ao exterior, mas é um incentivo aos turistas estrangeiros, que podem encontrar no México uma opção acessível para suas férias. O setor turístico mexicano vem crescendo significativamente nos últimos anos e foi beneficiado pela volatilidade atual. Em 2014 o turismo internacional cresceu 4,7%, segundo a Organização Internacional de Turismo.

Exportações. Como país exportador, o México se beneficia com a alta do dólar. A venda de produtos manufaturados no país adquire um valor importante no comércio internacional, cuja moeda é o dólar norte-americano. O pujante setor automotivo, por exemplo, conquista certa estabilidade, apesar de a demanda de carros não ter aumentada no mercado dos EUA.

Enquanto a situação na Europa não se definir melhor, os investidores preferem apostar em moedas mais estáveis, como o dólar, o que afeta países emergentes como México e Brasil

O perigo da inflação. O México importa boa parte de seus insumos, fato que gera uma cadeia que encarece diferentes produtos. Mas Serrano assinala que as condições atuais e estáveis da economia mexicana tornam pouco provável que a alta do câmbio tenha impacto sobre a inflação. “Não prevemos que a inflação suba. Há folga na economia, e, nessas condições, é muito difícil a força do dólar se refletir nesse indicador. Além disso, o Banco do México goza de ampla credibilidade porque soube manejar as políticas restritivas”, ele comenta.

Dívida das empresas transnacionais mexicanas. Algumas firmas mexicanas contraíram dívidas em dólares nos últimos anos, incentivadas pelos juros baixos e o momento positivo da economia mexicana. Serrano indica que aquelas que operam na moeda norte-americana não terão problemas maiores, mas as que precisam converter a moeda em suas operações – uma minoria de empresas – podem passar por apuros.

Poupanças. As poupanças dos mexicanos em pesos não vão perder valor, assegura Serrano, desde que a inflação não seja afetada pela alta do dólar. O México está crescendo menos que seu índice potencial, estimado em 3%, e por essa razão a alta da taxa de câmbio ainda não está tendo consequências que afetem diretamente o bolso dos mexicanos. “Esperamos que a incerteza se dissipe antes que o crescimento volte a subir”, observa o economista.

A evolução das taxas de câmbio nos últimos anos.
A evolução das taxas de câmbio nos últimos anos.Banco de México

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