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Poesia, a grande comoção da Flip

As mesas com poetas foram as mais aplaudidas da festa literária O livro mais vendido foi ‘Jóquei’, de Matilde Campilho, sucesso total desta edição

Matilde Campilho, entre os nomes mais celebrados em Paraty.
Matilde Campilho, entre os nomes mais celebrados em Paraty.Vera Sepúlveda

Mesmo depois de muitas discussões políticas, a poesia venceu nesta 13ª Festa Literária de Paraty. E não só a poesia como metáfora para a arte, mas o gênero poético mesmo – normalmente o mais judiado, em termos comerciais, das manifestações literárias.

As mesas preferidas do público – as mais cheias, que mais arrancaram aplausos enquanto aconteciam e boas avaliações nos corredores ao final – são a que reuniu Matilde Campilho e Mariano Marovatto, na quinta-feira, e a de Arnaldo Antunes e Karina Buhr, no sábado. Todos poetas, mantendo uma distância segura dos embates PT x PSDB que marcaram presença na festa, mais preocupados com versos do que com opiniões.

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Mas a poesia também levou o troféu no aspecto comercial: Jóquei (editora 34), de Matilde Campilho, foi o título mais vendido da Livraria da Travessa, parceira oficial da Flip, e, antes mesmo do fim do evento, desapareceu das prateleiras das outras três livrarias da cidade.

Para a portuguesa, que, depois de morar no Rio de Janeiro entre 2010 e 2013, vive em Lisboa, “o poema tem isso de oferecer um momento de descanso, até mesmo por mais curto que um romance e poder ser lido entre uma coisa e outra no meio do dia”. Na tenda dos autores, quando se apresentou, foi questionada, assim como Mariano Marovatto, sobre os atuais tempos de conservadorismo. “A poesia não salva o mundo, mas salva um minuto”, disse ela, que foi a autora-sucesso desta edição.

A celebração da poesia cobrou vida também na voz e na fala dos músicos Arnaldo Antunes e Karina Buhr, que lançaram Agora Aqui Ninguém Precisa de Si (Companhia das Letras) e Desperdiçando Rima (Fábrica231/Rocco). Eles cantaram e entonaram versos incitados pela mediadora da mesa, a escritora Noemi Jaffe, e conquistaram o público, que cantou junto.

Buhr inclusive leva para casa o mérito de ter sido a primeira pessoa a carregar consigo um pandeiro para uma mesa da Flip – que ela questionou por não ter mesa, “só cadeiras”. Ganhou aplausos calorosos, assim como quando leu um trecho de Mario de Andrade que diz: “Do jeito que as coisas estão indo, a sentença é de morte”.

Vendas e crise

C.M.

Segundo dados apresentados na coletiva de imprensa de encerramento pelo curador Paulo Werneck, 336 unidades de Jóquei – que já caminha para a segunda edição no Brasil e está na quarta em Portugal – foram vendidas na Livraria Travessa até sábado à noite. Em seguida, na lista dos livros mais vendidos, aparecem uma caixa com três livros do homenageado Mario de Andrade (Nova Fronteira), com 237 exemplares, e Limiar (Vieira e Lent), do cientista Sidarta Ribeiro, com 230.

Sobre a atual crise econômica, que dificultou a captação de recursos para esta Flip, Mauro Munhoz, presidente da organizadora do evento, a Casa Azul, declarou: “Ficou claro para a gente que a crise não é uma coisa que impacta. Não é tão diferente fazer uma Flip em ano de crise”. O orçamento de 7,4 milhões deste ano foi o menor do evento na última década.

Também fez parte do balanço de encerramento a questão da violência em Paraty, que apareceu entre as várias manchetes sobre a cidade nos últimos dias. Munhoz considera que essa é uma questão de política pública: “A cultura tem um papel fundamental na saúde do tecido social, mas não pode resolver problemas de segurança”.

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