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Peru disputa o sonho chileno

O ‘clássico do Pacífico’ mais interessante em anos garantirá lugar na final da Copa América

Santiago de Chile -
Paolo Guerrero comemora um gol nas quartas de final contra a Bolívia.
Paolo Guerrero comemora um gol nas quartas de final contra a Bolívia.JUAN MABROMATA (AFP)

O Peru e o Chile, como se sabe, disputam entre outras coisas a paternidade do pisco e a da ‘chilena’ (‘chalaca’ para os peruanos, ‘bicicleta’ para os brasileiros): para os anfitriões desta noite a jogada foi feita pela primeira vez em uma partida disputada no Talcahuano em janeiro de 1914 mas, segundo os peruanos, o lance foi tentado pela primeira vez no porto de Callao no fim do século XIX. O ‘clássico do Pacífico’ (chamado assim devido à Guerra do Pacífico, 1879-1893), considerado um dos dez duelos internacionais mais ‘quentes’ do futebol, tem esta noite uma edição estelar que pode dar ao Chile a possibilidade de disputar por fim um título em 90 minutos e em casa. O ambiente em torno do duelo é um tanto confuso. Por mais que antes das quartas de final o time local já fosse visto com um pé na final, o avanço peruano diante da Bolívia e a voracidade do ‘Matador’ Paolo Guerrero (que marcou três gols nesse dia) mantém a torcida local mais cautelosa, apesar de o Chile chegar como a equipe com mais gols (11) e mais domínio do campeonato, e de ter eliminado, além disso, o último campeão nas quartas de final. Javier, dono de um quiosque próximo à Plaza Baquedano (tradicional ponto de comemoração das vitórias chilenas em Santiago), se exibe orgulhoso de ter sido entrevistado por duas redes internacionais de televisão na véspera do Chile e Uruguai e de ter acertado o resultado: 1 a 0. E amanhã? “Amanhã, cara, não sei, amanhã de repente parece que está mais difícil”.

O técnico chileno, Jorge Sampaoli, diante do Uruguai.
O técnico chileno, Jorge Sampaoli, diante do Uruguai.RICARDO MORAES (REUTERS)

A baixa do meio-campo Gonzalo Jara obriga o treinador Sampaoli a recompor a defesa sem que seu compatriota e colega peruano, Ricardo Gareca, tenha revelado sua equipe titular e, portanto, sem saber se ele voltará a alinhar de início o trio de ataque Guerrero-Farfán-Pizarro. No primeiro tempo, o Peru igualou, contra a Bolívia (16), o recorde de conclusões efetuadas por uma seleção em um único período, que tinha sido estabelecido precisamente pelo Chile diante da Bolívia. “Enfrentamos um time que vem crescendo e que vem seguro, e com mais argumentos ofensivos do que os do Uruguai. Vai ser difícil”, afirmou ontem Sampaoli; o técnico lamentou a “grande perda” de Jara, mas ressaltou que “temos dois jogadores por posição, igualmente treinados para jogar”. O treinador provavelmente incluirá na equipe Miko Albornoz ou José Rojas no lugar do zagueiro punido. Se se decidir por este último, não se descarta que Albornoz substitua Eugenio Mena na lateral esquerda.

Os peruanos, que já chegaram a um ótimo resultado posicionando-se entre os quatro primeiros da América do Sul pela segunda vez consecutiva, jogam há dias no sentido de contestar o favoritismo chileno. O lateral esquerdo Juan Vargas afirmou depois da vitória contra a Bolívia: “Já joguei contra Alexis e Vargas e não são nada de outro mundo”. “Nem Alexis nem Vidal me assustam. São bons jogadores, mas nós nos garantimos”, afirmou por sua vez o lateral direito Luis Advíncula. O ‘Tigre’ Gareca, que desde o início do torneio reconheceu que sonha em levar o campeonato, reafirmou suas expectativas com mais elegância: “Vejo que as pessoas do Chile estão muito entusiasmadas”, afirmou ontem; “essa pressão pode ser uma carga muito pesada, porque parece que só existe a possibilidade de ganhar [...] Não vejo a partida com tanta dificuldade. Somos onze contra onze”, concluiu o treinador, visivelmente satisfeito por poder contar com os 23 jogadores convocados em plenas condições.

“As pessoas estão muito entusiasmadas no Chile. Essa pressão pode ser uma carga muito pesada, porque parece que só existe a possibilidade de ganhar”, concluiu Gareca

A seleção vermelha e branca recuperará sua dupla titular no centro do campo, Ballón e Lobatón, punidos no duelo das quartas. É provável que seu técnico tome hoje mais precauções do que diante da Bolívia, devido à qualidade e à vocação ofensiva do quadro chileno: no contra-ataque, com o veloz Christian Cueva e os laterais Luis Advíncula e Juan Vargas acompanhando permanentemente a jogada, é uma equipe a se temer. Guerrerro, recentemente contratado pelo Flamengo, é o goleador máximo do torneio (três tentos) ao lado de Arturo Vidal.

Apesar de o Chile ser muito superior na classificação conjunta de partidas entre as duas seleções (41 vitórias, 21 derrotas), a disputa da Copa América em particular é surpreendentemente parelha: 7 vitórias chilenas, 6 peruanas e 6 empates. O Peru levantou a Copa em duas ocasiões, apesar de a segunda ter sido há 40 anos. A última vez que o Peru derrotou o Chile como visitante foi em 1985. A previsão é a de uma partida de intensa esta noite no Estádio Nacional (20:30, hora local e também de Brasília). Como disse Guerrero da última vez que enfrentou o Peru, em 2014, sem um título em vista, “com o Chile não existem partidas amistosas”.

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