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Líder oposicionista venezuelano Leopoldo López encerra greve de fome

Dirigente havia iniciado o protesto na prisão há 30 dias

Protesto na Venezuela pede libertação de presos políticos.
Protesto na Venezuela pede libertação de presos políticos.F. PARRA (AFP)

O político oposicionista venezuelano Leopoldo López abandonou nesta terça-feira sua greve de fome depois de 30 dias de protesto. O anúncio foi feito por sua esposa, Lilian Tintori, em uma entrevista à imprensa na qual mostrou uma carta, escrita à mão por López, e intitulada “A mudança já tem data”, em referência ao pronunciamento oficial do Conselho Nacional Eleitoral na tarde desta segunda-feira, marcando as eleições parlamentares para 6 de dezembro.

O anúncio do CNE foi visto pela facção da oposição representada por López como uma vitória e motivo para abandonar a greve, que teve a adesão de outros militantes de seu partido, aos quais ele se referiu na carta. “A vocês, irmãos e irmãs, peço com a mão no coração que assumamos com humildade as conquistas obtidas neste protesto e que, juntos, todos encerremos a greve de fome.”

Não está claro ainda se todos acolheram o chamado de López. Um grupo de oposicionistas conhecido como JAVU, que no passado recorreu a esse método de protesto, até mesmo costurando os lábios, havia expressado mais cedo que não desistiria da greve enquanto outras exigências não fossem cumpridas. Depois de ficarem sabendo da decisão de López, por suas contas no Twitter, vários deles disseram que manteriam a greve enquanto a Defensoria Pública não fizesse alguns anúncios.

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A data das eleições é apenas uma das exigências de López e da oposição ao governo. Os outros dois itens da petição são a observação internacional qualificada das eleições e a libertação os presos políticos. Quanto a esse último ponto, López afirmou na carta que esperava que a Defensoria Pública, a Procuradoria e o Tribunal Supremo de Justiça tomassem medidas nas próximas horas.

Quanto aos observadores internacionais na eleição, embora a presidenta do CNE, Tibisay Lucena, tenha dito que estendia o convite à UNASUL, na condição de acompanhante das próximas eleições, a oposição venezuelana considera que essa não é uma opção válida e pediu que a Organização dos Estados Americanos e a União Europeia enviem uma missão formal. Depois do anúncio oficial do CNE, o secretário-geral da OEA, Luis Almagro, voltou a reiterar sua oferta de participação como observadores.

À parte o modo como a oposição venezuelana continuará com suas reivindicações para uma disputa que se prenuncia difícil, a suspensão da greve de fome por López é, diante de tudo, uma notícia positiva para sua família, seus companheiros de partido e também outros venezuelanos, que, mesmo que não necessariamente simpatizem com ele, temiam pelas consequências para sua saúde, com danos irreversíveis. Nas últimas horas, segundo Tintori, López já não podia caminhar e tinha perdido 15 quilos.

Além dos detalhes comunicados por sua esposa, não há informação médica sobre o estado real de saúde de López. Há vários dias a família havia solicitado à Procuradoria que permitisse o exame do político pelo seu médico pessoal. Mas ele não recebeu autorização para entrar no presídio de Ramo Verde, onde López se encontra detido. Os dois médicos que a Procuradoria enviou puderam entrar na penitenciária, mas López se negou a ser examinado por eles.

O governo permitiu que outros presos em estado delicado de saúde sejam levados a centros hospitalares e depois passem à prisão domiciliar, como foi o caso do prefeito metropolitano de Caracas, Antonio Ledezma. As autoridades da Venezuela ainda não se pronunciaram sobre a situação de López, que é acusado de ser o responsável pelos protestos violentos contra o governo no ano passado, nos quais morreram 43 pessoas.

A mudança já tem data

LEOPOLDO LÓPEZ

Faz 30 dias assumi com meu irmão Daniel Ceballos a responsabilidade de iniciar uma greve de fome como uma expressão de protesto consciente, pacífico e não violento. Mais democrático do que nossa petição é impossível: que seja marcada a data das eleições, observação internacional qualificada da OEA e da UE, e que essas eleições sejam realizadas sem presos políticos, censura e repressão.

Os dias têm sido lentos e duros, mas alimentados pela convicção da justeza dos motivos que nos levaram a assumir esse protesto. Durante essas quatro semanas conseguimos avanços, mas resta caminho a percorrer nesta luta pela conquista da democracia que finalmente leve todo o nosso povo por um caminho de paz, bem-estar e progresso.

Sobre a data das eleições só tenho a dizer com muita esperança: a Venezuela já tem data para a mudança. Da mesma forma reconhecemos como muito significativos os pronunciamentos da UNASUR, da OEA e da União Europeia sobre sua intenção de participar como observadores durante o processo eleitoral. Agradecemos por esses pronunciamentos que representam um claro compromisso com a democracia na Venezuela.

Esperamos igualmente que nas próximas horas seja honrado o compromisso da Defensoria Pública, Procuradoria e Tribunal Supremo de Justiça de solicitar a rápida libertação de quem se encontra injustamente preso, em especial os mais afetados em sua saúde.

Quero agradecer a todas as pessoas e organizações nacionais e internacionais que apoiaram nossas reivindicações. Em particular quero expressar um profundo agradecimento e minhas palavras de respeito à centena de pessoas que se uniram a este protesto pacífico de maneira ativa por meio de uma greve de fome.

A vocês, irmãos e irmãs, peço com a mão no coração que assumamos com humildade as conquistas obtidas neste protesto e que, juntos, todos encerremos a greve de fome. Como nosso povo nos disse: nós precisamos de vocês saudáveis, cheios de vida, para conquistar a paz e a liberdade para todos os venezuelanos.

Assumimos este protesto não para morrer, mas para que todos os venezuelanos possam viver dignamente. A greve de fome é um método de luta. Encerramos a greve, mas a luta continua e, além do mais, estou convencido de que a Unidade e todas as forças democráticas estão mais preparadas do que nunca para esta batalha.

Finalmente, quero agradecer a todas as pessoas e instituições que manifestaram sua preocupação com a nossa saúde. Digo-lhes: eu me recuperarei e continuarei lutando por uma Venezuela Melhor.

Venezuelanos, eu lhes juro que jamais me renderei, e vocês também não o façam. Aquele que se cansa, perde, e nós jamais nos cansaremos.

Força e Fé Venezuela

Leopoldo López

Preso Político

Prisão Militar de Ramo Verde, 22 de junho 2015

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