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Na Itália, Liga Norte ameaça prefeitos que acolherem refugiados

Presidente regional da Lombardia cortará repasses a municípios que ajudarem imigrantes

Imigrantes desembarcam na ilha de Lampedusa.
Imigrantes desembarcam na ilha de Lampedusa.Mauro Buccarello (AP)

Existe uma Itália solidária, que luta a cada dia com unhas e dentes para salvar a vida de imigrantes no Mediterrâneo -desde os pescadores da Sicília até os marinheiros da Guarda Costeira e da Marinha-, e outra Itália, representada pelos dirigentes da Liga Norte, que não apenas não se envergonha de sua falta de solidariedade como se fia nela para se catapultar ao poder. Roberto Maroni, presidente regional da Lombardia e um dos maiores expoentes da Liga, escreveu uma carta aos prefeitos do Norte do país ameaçando-os com sanções econômicas caso decidam acolher alguns dos milhares de refugiados –quase 4.000 nas últimas 24 horas– que continuam a chegar à costa italiana, vindos da Líbia.

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A carta de Roberto Maroni, que foi ministro do Interior durante o último Governo de Silvio Berlusconi (2008-2011), é uma ameaça com todas as letras. “Decidi escrever para os prefeitos”, explica, “para avisá-los que reduziremos os repasses regionais aos municípios que resolverem acolher imigrantes. Trata-se de um desincentivo porque não devem fazer isso, e quem o fizer, violando a lei, sofrerá as consequências.”

A ira do presidente da Lombardia contra os imigrantes encontrou eco imediato nos dirigentes da Liga Norte no poder. Luca Zaia, o reeleito presidente regional do Vêneto, joga mais lenha na fogueira: “É uma loucura que o Governo [de Matteo Renzi] nos chame para gerir a fase aguda da imigração, quando todos sabemos que não é aguda, e sim crônica. Deixemos de acreditar na ilusão de conseguir suportar e administrar um êxodo bíblico”. Como se não fosse o bastante a Liga Norte, cuja estratégia eleitoral passa claramente pela tentativa de rentabilizar o medo do estrangeiro, também a Forza Italia pega em armas, por meio de Giovanni Toti, ganhador das eleições regionais na Ligúria: “Embora ainda não possa fazê-lo, porque não sou ainda presidente, faremos como a Lombardia, o Vêneto e o Valle de Aosta. Também não acolheremos mais imigrantes”.

A declaração de guerra da Liga Norte foi feita logo depois que as autoridades marítimas italianas –em colaboração com outros países da Europa— resgataram nas últimas 24 horas quase 4.000 imigrantes no Canal da Sicília. Desde então vários representantes da centro-esquerda italiana se apressaram em contestar Roberto Maroni e seus correligionários. Talvez os mais beligerantes tenham sido Maurizio Landini, secretário geral do FIOM-CGIL –o setor metalúrgico do principal sindicato italiano– e Arturo Scotto, líder dos deputados do SEL (Esquerda, Ecologia e Liberdade). Segundo Landini, não pode ser aplicada a lógica de condomínio –“fecho a porta e é isso; é típico de bárbaros”. Scotto vai além: “Roberto Maroni chantageia os prefeitos com métodos mafiosos. O Governo precisa intervir”.

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