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A beatificação de Romero, padre que se tornou ícone da América

Assassinado durante uma missa em 1980, sacerdote salvadorenho viveu pelos pobres

Sacerdotes na cerimônia de beatificação de Óscar Romero, no sábado.
Sacerdotes na cerimônia de beatificação de Óscar Romero, no sábado.JORGE DAN LOPEZ (REUTERS)

Óscar Arnulfo Romero, arcebispo de San Salvador assassinado há 35 anos por pistoleiros de ultradireita, foi oficialmente declarado beato no sábado pelo papa Francisco, que, numa carta lida a uma multidão em El Salvador, descreveu o religioso como “exemplo de servo de Deus” e “pai dos pobres”. As cerca de 300.000 pessoas concentradas na praça Salvador del Mundo, na capital salvadorenha, ovacionaram e deram vivas a Romero depois da leitura da carta por Jesús Delgado, um bispo que foi secretário particular do novo beato.

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A beatificação foi concretizada quando uma relíquia de Romero – a camisa ensanguentada que usava no dia do seu assassinato, flores e uma palma que significa “a vitória dos mártires” – foi incensada pelo cardeal Angelo Amato, enviado do Papa.

Amato, que presidiu a liturgia, enfatizou que “esta é uma festa de regozijo e de fraternidade para a Igreja e para a nação salvadorenha”. “Romero não é um símbolo de divisão, e sim de fraternidade e concórdia”, acrescentou.

A cerimônia teve a participação dos presidentes Salvador Sánchez Cerén (El Salvador), Rafael Correa (Equador), Juan Carlos Varela (Panamá) e Juan Orlando Hernández (Honduras), além do primeiro vice-presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, e do vice-presidente da Venezuela, Jorge Arriaza, entre outras autoridades latino-americanas. Surpreendeu a presença do prefeito da cidade de Santa Tecla, Roberto D’Aubuisson, filho e homônimo de um militar ultradireitista acusado de ordenar a morte de Romero, ocorrida em 24 de março de 1980.

A Comissão da Verdade criada pelas Nações Unidas depois da guerra civil salvadorenha para investigar a violência política nesse conflito acusou D’Aubuisson, morto em 1992, e seus seguidores mais próximos de serem os autores do assassinato de Romero, perpetrado enquanto ele celebrava missa na capela de um hospital da capital.

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, elogiou a beatificação de Romero: “Hoje me uno às pessoas de El Salvador e de todo o mundo para receber com regozijo a beatificação do arcebispo Óscar Romero. O religioso foi uma figura inspiradora para as pessoas de El Salvador e de todo o continente americano. Foi um sacerdote inteligente e um homem valente, que perseverou apesar de precisar enfrentar uma oposição proveniente dos dois extremos do espectro político”, disse ele em nota.

O arcebispo italiano Vicenzo Paglia, ao ler a biografia do beato na praça, afirmou que “Romero foi um exemplo de pastor que defendeu os pobres. Romero continua falando e pedindo nossa conversão. Hoje continua a missa que interromperam no dia da sua morte”.

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