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‘Divertida Mente’, nova animação da Pixar, é ovacionada na França

O filme, dirigido por Pete Docter, aposta na melancolia com um roteiro imenso

Sequência do filme ‘Divertida Mente’.

É possível explicar toda a complexidade da mente e os sentimentos humanos em desenhos animados e pensando em um público predominantemente infantil? Sim, a Pixar e, especialmente, o diretor Pete Docter conseguiram. Inside Out, que no Brasil será lançado como Divertida Mente, com previsão de estreia em junho, conseguiu recuperar a esperança na fábrica Pixar, que havia errado em seus últimos filmes e na aposta em sequências de suas obras-primas anteriores.

Divertida Mente é original, surpreendente, faz uso da melancolia que já se exalava em Toy Story e é marcado por um roteiro imenso, repleto de descrições e narrações acertadas com uma gloriosa imaginação, que resolve de forma simples e fascinante a ilustração dos sentimentos. Dentro de Riley, uma menina de 12 anos, convivem a Alegria, a Decepção, a Tristeza – de cor azul, em um lógico reflexo visual do duplo sentido em inglês de blue – a Ira e o Medo.

Juntos tomam as decisões que guiam a menina e crescem com ela, cuidando de suas lembranças e vendo como suas âncoras emocionais se desenvolvem: as ilhas da família, a amizade, a diversão e o hockey (o passatempo de Ridley). Mas a família se muda de Minnesota a San Francisco, e a nova vida de Ridley, ao lado de uma explosão de problemas em seu interior, faz com que a Alegria e a Tristeza embarquem em uma apaixonante aventura.

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O filme foi ovacionado em no Festival de Cannes – onde é projetado na seção Oficial fora do concurso –, à altura da obra de Docter, também animador de Up – Altas Aventuras e Monstros S.A. John Lasseter, o cérebro da Pixar, contou em Cannes, durante a apresentação à imprensa, que a ideia original foi de Docter. “E soube desde esse momento que ia ser um de nossos filmes mais complexos. Tivemos que pesquisar muito, porque infinitos detalhes precisavam ser completados.”

Docter disse que sua filha tinha nove anos quando emprestou a voz à menina de Up – filme que também estreou em Cannes. “Foi crescendo e, aos 13, vi como se tornava apática e pensei: ‘O que deve acontecer aí dentro?’. Assim surgiu a faísca.” Divertida Mente defende a importância da tristeza na vida das pessoas – algo muito presente na história da Disney, casa da Pixar. “Ainda assim, gosto dos finais felizes e desde o começo isso estava claro.”

Em sua busca por certo realismo, Docter expõe na filmagem conceitos como a memória de curto prazo, a depressão. “Nos aprofundamos nos amigos imaginários, no medo de palhaços, coisas com as quais a equipe se identificava e espero que o mesmo aconteça com o público.” Nesse personagem, reúne fatos que o diretor considera muito importantes: “Não vamos contar muito, mas seu envolvimento absoluto em ajudar a Alegria e a Tristeza me parece fundamental para entender a melhor parte do ser humano”. Docter também detalhou a vantagem que ele vê em trabalhar na Pixar: “Você mostra seu filme aos outros diretores, aos colegas, e a cada corte de edição eles te fornecem conselhos valiosos”.

“As emoções têm um trabalho e um propósito. Não podemos silenciá-las. E pesquisamos o interior de cada sentimento para construir seu reflexo como personagens, para que o público entenda sua importância”, comentava o produtor Jonas Rivera, que também está entre os mentores do Divertida Mente.

Lasseter detalhou como os filmes de animação mudaram desde a criação desse gênero, que agora encontra seu lugar em Cannes. “Estar aqui já é um orgulho. Não importa competir ou não. Quando comecei, a animação era quase morta como indústria. Não havia trabalhos para a televisão, a Disney fazia a cada quatro ou cinco anos. Mas eu sabia que havia um público e talento para criar bons filmes. O que acontecia é que a indústria do cinema errava no objetivo. Walt Disney nunca fez seus desenhos apenas para crianças, mas para todos os públicos. O mesmo acontecia com as séries de televisão do cartoon clássico. Nesse impulso, nos inspiramos em Coppola, Scorsese ou Lucas no começo dos anos setenta, com a nova Hollywood, na busca do novo espectador, e sabíamos que podíamos enfrentar esse mesmo desafio na animação. Quando estreamos Toy Story, o primeiro longa da Pixar, e conseguimos esse enorme sucesso, fiquei muito aliviado. Porque confirmava os sentimentos que carregava. Falamos de contar histórias, não de tecnologia: se você começa a fazer um filme de desenho animado pensando mais na tecnologia do que no roteiro, está equivocado.” Docter acrescentou: “Na Pixar, fazemos filmes quase com o mesmo processo dos que são protagonizados por atores de carne e osso. Algo no que John sempre insiste é na história, no roteiro”. Não há dúvidas que Divertida Mente seria um grande concorrente à Palma de Ouro.

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