Os 50 dias e os 44 crimes que mudaram a vida de João Vaccari
Dirigente arrasta PT e sua própria família para centro do escândalo de desvios na Petrobras
De discreto tesoureiro do PT a denunciado por 44 crimes de lavagem de dinheiro. De morador de uma aconchegante casa de classe média em São Paulo a residente em uma cela de seis metros quadrados na superintendência da Polícia Federal em Curitiba. Esse é o resumo dos últimos 50 dias de João Vaccari Neto, o dirigente que arrastou oficialmente o partido de Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva para o escândalo da Lava Jato.
Tido como um leal chefe da sigla que há 12 anos governa o Brasil, Vaccari é acusado de ser um dos principais operadores do esquema de desvio de dinheiro da Petrobras, conforme duas denúncias apresentadas pelo Ministério Público Federal. Nesta segunda-feira, ele foi acusado formalmente pela Procuradoria da República de 24 crimes de lavagem de dinheiro. No mês passado, já havia se tornado réu por outros 20 delitos.
Ao ser preso, Vaccari não levou somente o PT para o centro do escândalo, mas também uma cunhada dele, Marice Correia Lima. Ela chegou a ficar detida por uma semana sob a suspeita de ajudar o petista em movimentações ilegais. Defensores dela afirmarem que a mulher que aparece em imagens do circuito interno de um banco depositando dinheiro em uma das contas correntes investigadas não seria Lima, mas Giselda, a irmã dela esposa de Vaccari. Ela foi libertada depois que o juiz Sergio Moro admitiu que "aguarda a elucidação completa da questão" sobre o vídeo.
Afastado da tesouraria do partido após ser preso na Lava Jato, o petista também responde pelos crimes de corrupção ativa e passiva e por formação de quadrilha. Até a detenção dele, os caciques petistas costumavam dizer que não havia nada contra seu tesoureiro e que o partido não havia participado de nenhum esquema criminoso para desviar recursos da maior petroleira brasileira. Na CPI que investiga a Petrobras, o próprio dirigente negou que tenha pedido dinheiro para diretores da Petrobras repassarem recursos para o seu partido. Mas as investigações mostram o contrário.
De acordo com as denúncias, que ainda serão julgadas, Vaccari seria o responsável direto por desviar 7 milhões de reais da Petrobras. Na primeira acusação, outras 24 pessoas respondem pelo crime. Na segunda, são mais dois: o ex-diretor da Petrobras Renato Duque (um indicado do PT na petroleira) e Augusto Mendonça, empreiteiro da Setal Óleo e Gás, que fez o acordo de delação premiada e confessou os crimes. O valor ainda pode ser maior, já que a própria empreiteira admite que a corrupção corroeu cerca de 6 bilhões de reais de seu orçamento no ano passado.
Neste caso, denunciado nesta segunda-feira, os desvios teriam ocorrido por meio de uma gráfica. O dinheiro, de acordo com a acusação, fora pago por Mendonça para Duque que repassou os valores para o PT, por intermédio de Vaccari.
Para tentar reagir à crise, o PT anunciou logo depois da prisão de Vaccari que proibirá a doação de empresas para campanha políticas _é a segunda vez em menos dez anos que o financiamento ilegal de campanha aparece no coração de dois escândalos —antes da Lava Jato, foi o mensalão.
Pluripartidário
Apesar do destaque dado aos petistas, segundo o procurador Deltan Dallagnol, o esquema era pluripartidário. Desde o início do ano, já foram denunciados mais de 60 dirigentes, empreiteiros, doleiros e lobistas ligados também ao PP e ao PMDB. “A partidarização do olhar sobre as investigações prejudica os trabalhos, porque tira o foco do que é mais importante, que é a mudança do sistema, o qual favorece a corrupção seja qual for o partido”, afirmou Dallagnol em nota.
Mesmo após o início das investigações, os acusados continuaram praticando os crimes
Um fato que chamou a atenção dos investigadores é que, mesmo após o início das investigações, há quase um ano, os acusados continuaram praticando os crimes. Por essa razão, os procuradores agora defendem a permanência de ao menos 17 dos acusados na cadeia. “Caso sejam soltos, estarão em posição de continuar a praticá-los, pois são donos e dirigentes de empresas com grandes contratos com o poder público, ou mantêm milhões em propinas no exterior que poderão ser escondidas ou gastas”, explicou o procurador da República Roberson Pozzobon.
Além de correrem o risco de ficarem presos (pelo período de três a dez anos), Vaccari, Duque e Mendonça, poderão ter de restituir o valor que teriam desviado e ainda pagar uma indenização de 4,8 milhões de reais, segundo o Ministério Público.
Procurado, Luiz Flávio D’Urso, o advogado de Vaccari, não atendeu aos pedidos de entrevista feito pela reportagem. Em nota, ele informou que nenhuma prova foi apresentada quanto à participação de seu cliente no esquema e que ele só tratou de doações oficiais ao PT, conforme prevê a legislação eleitoral. Os defensores de Duque e de Mendonça não foram localizados.
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