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Morre o escritor uruguaio Eduardo Galeano, aos 74 anos

Sua obra ‘As Veias Abertas da América Latina’ é um clássico da literatura política

Eduardo Galeano, em uma entrevista em 2010.
Eduardo Galeano, em uma entrevista em 2010.SAMUEL SÁNCHEZ

O escritor uruguaio Eduardo Galeano morreu nesta segunda-feira em Montevidéu, aos 74 anos, informou sua editora a este jornal. Na sexta-feira, ele havia sido internado por causa de um câncer de pulmão.

Galeano era autor de As Veias Abertas da América Latina, livro que desde seu lançamento, em 1971, se tornou um clássico da literatura política latino-americana. Sua obra, na qual se destaca também Memória do Fogo (1986), foi traduzida para cerca de 20 idiomas.

A notícia era esperada pela mídia uruguaia desde cedo. Em uma cidade como Montevidéu, onde todos se conhecem, era difícil esconder a informação sobre a morte de Galeano, em um dos maiores hospitais da capital. Mas, por respeito, a mídia segurou até as 10h a notícia, que só inundou as rádios e sites quando a família confirmou a morte. Médicos disseram depois que o autor de As Veias Abertas da América Latina estava internado há vários dias em estado grave, na fase terminal de um câncer de pulmão que já vinha se arrastando há vários anos.

A última aparição pública do escritor aconteceu no final de fevereiro deste ano, para receber o presidente da Bolívia, Evo Morales. O mandatário visitou Montevidéu durante a posse do presidente Tabaré Vázquez, que assumiu o poder no lugar de José Mujica. Nas fotos, Galeano aparecia magro e sorridente, enquanto recebia um livro das mãos de Morales com os argumentos bolivianos para exigir uma saída para o mar, um livro que batizou como o “Livro do Mar Roubado”.

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O escritor era frequentador assíduo do Café Brasileiro, na Cidade Velha de Montevidéu, onde se encontrava com o arquiteto e ex-prefeito da cidade, Mariano Arana. “Passávamos momentos muito agradáveis nesse pequeno local. Também era frequentado por Mario Benedetti. Galeano tinha uma personalidade especialmente perspicaz e lúcida em sua maneira de expressar a realidade. Foi uma referência para todo o país, embora não fosse uma unanimidade”, afirma Arana.

Nas últimas eleições, Galeano voltou a apoiar publicamente o partido de esquerda Frente Ampla, o que resultou num forte ataque do Partido Nacional, da oposição, que em seu programa eleitoral tentava promover outras referências culturais, e o classificava de representante da cultura oficial. O Uruguai espera o retorno do presidente Vázquez da Cúpula do Panamá para iniciar as homenagens ao escritor.

Antes de se tornar um intelectual destacado da esquerda latino-americana, Galeano trabalhou como operário industrial, desenhista, pintor, mensageiro, datilógrafo e caixa de banco, entre outros ofícios.

As Veias Abertas... saiu quando Galeano tinha 31 anos. Naquela época, como admitiu depois o próprio escritor, ele não tinha formação suficiente para a tarefa à qual se dispôs. “Tentou ser uma obra de economia política, só que eu não tinha a formação necessária”, afirmou ele sobre o seu livro mais famoso. “Não me arrependo de tê-lo escrito, mas é uma etapa que, para mim, está superada”, acrescentou.

Em 2009, durante a Quinta Cúpula das Américas, o então presidente da Venezuela, Hugo Chávez, presenteou seu colega norte-americano, Barack Obama, com um exemplar de As Veias Abertas..., livro que havia sido proibido nos anos setenta pela censura das ditaduras militares do Uruguai, Argentina e Chile. Na época do presente de Chávez a Obama, o livro saltou em um só dia da 60.280ª. para a 10ª. posição na lista de mais vendidos da Amazon.

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