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Editoriais
São da responsabilidade do editor e transmitem a visão do diário sobre assuntos atuais – tanto nacionais como internacionais

Medicina preventiva

A decisão de Angelina Jolie antecipa um cenário futuro que apresenta grandes desafios

Por causa da sua enorme popularidade e o respeito internacional conquistado por seu trabalho humanitário, a decisão adotada por Angelina Jolie para se proteger do câncer teve uma grande repercussão pública. Dois anos depois de se submeter a uma dupla mastectomia, agora se submeteu a uma extração de ovários. Jolie é portadora de uma mutação genética hereditária pela qual morreram sua avó, sua mãe e sua tia. Em virtude dessa alteração, ela tinha 87% de sofrer câncer de mama e cerca de 50% de sofrer câncer de ovário. A decisão de Jolie é respeitável e está justificada em termos médicos, embora outras pessoas possam preferir submeter-se a controles mais exaustivos em lugar de recorrer a uma solução tão radical. Na Espanha, a mutação do gene BRCA, o mesmo que ela sofre, é a causa de 5% dos 22.000 novos casos de câncer de mama que são diagnosticados a cada ano e 10% dos de ovário.

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O dilema que Jolie foi obrigada a enfrentar antecipa um cenário que será cada vez mais frequente. Conforme avança a pesquisa genética, a medicina preventiva permitirá determinar se uma pessoa apresenta mutações genéticas que podem implicar um maior risco de sofrer câncer ou outra patologia. No entanto, como ocorre no caso de Jolie, ser portador não significa que vá sofrer necessariamente a doença, o que coloca dúvidas e terá repercussões, individuais e coletivas.

Por um lado, viver sabendo que há uma espada de Dâmocles em cima da cabeça não é fácil. Por outro, diagnosticar um risco exigirá pelo menos medidas de acompanhamento das pessoas afetadas, e em muitos casos intervenções preventivas. Agora existem testes genéticos que podem determinar o risco de sofrer cerca de 200 patologias. Em muitos casos, a previsão não vai além do que pode oferecer a estatística da doença em função dos fatores de risco. Mas cada vez haverá mais conhecimento útil sobre alterações genéticas que comportam riscos avaliáveis, que deverão ser canalizados através das unidades de conselho genético.

Os sistemas de saúde terão que enfrentar este novo desafio do que será um importante avanço, pois evitará muitas mortes prematuras; mas também implicará o perigo do exagero e, em todos os casos, terá um custo que deverá ser financiado. A valente atitude de Angelina Jolie ao explicar seu dilema permite abrir uma conversa pública muito necessária sobre estes novos problemas.

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