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Cunha é chamado de homofóbico e corrupto, e vê ‘beijaço’ gay

Protesto em São Paulo ofusca agenda de presidente da Câmara na Assembleia Legislativa

Manifestantes criticam Cunha na Assembleia paulista.
Manifestantes criticam Cunha na Assembleia paulista.Jorge Araújo (Folhapress)

Na tribuna da Assembleia Legislativa de São Paulo estavam o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), uma dúzia de parlamentares e o vice-governador paulista, Márcio França (PSB-SP). Todos atônitos. No plenário, cerca de 30 pessoas xingavam Cunha, pediam sua saída da função, empunhavam faixas o chamando de corrupto, de homofóbico e alguns faziam um beijaço gay.

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O evento desta sexta-feira era para ouvir a população de São Paulo sobre a crise hídrica e as reformas política e fiscal, mas, por conta do público pífio, majoritariamente formado por manifestantes, não seguiu o esperado. Pior, as poucas pessoas que assistiam à audiência e não estavam protestando foram temporariamente proibidas de acompanhar os debates.

Os ânimos começaram a se exaltar quando militantes de entidades LGBT e do movimento Juntos, ligado ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), estenderam faixas chamando Cunha de corrupto e homofóbico. “Machistas, fascistas, não passarão”, gritava o grupo. Na sequência, três casais gays começaram a se beijar.

Ao lado deles havia outras 30 pessoas pedindo a instalação de uma Assembleia Constituinte para discutir a reforma política e a revisão da Constituição Federal. “Esse Congresso não nos representa. Constituinte já”, bradavam os militantes da Centra Única dos Trabalhadores (CUT), do Movimento dos Sem-Terra (MST) e do Movimento dos Atingidos por Barragens, entidades historicamente vinculadas ao Partido dos Trabalhadores (PT).

A confusão fez com que o presidente da Assembleia, Fernando Capez, fechasse o auditório ao público

A gritaria abafou a fala de Cunha na abertura dos trabalhos da Câmara Itinerante, o programa criado pelo presidente da Câmara para "resgatar a importância do Legislativo" no momento em que o Congresso é mais mal avaliado pela população desde os anos 90.  O protesto parece ser um indicativo de que, apesar das sucessivas demonstrações de poder em Brasília, o evangélico Cunha deve ter de enfrentar constrangimentos fora da capital, entre outras coisas, por ter apresentado projeto pelo "dia do orgulho heterossexual ". “Viemos aqui para fazer um escracho do Eduardo Cunha. Ele representa o que há de mais reacionário no Congresso e não podemos deixar alguém que defenda o dia orgulho heterossexual continue pautando a Câmara”, disse o estudante de sociologia Pedro Serrano, um dos membros do Juntos. O grupo deverá seguir Cunha nas próximas sessões da Câmara Itinerante e já prevê fazer um novo protesto no dia 30 de abril em São Paulo e no Rio.

“A sociedade não acredita nesses deputados que aí estão. Por isso queremos uma constituinte específica para debater assuntos que eles não querem debater, inclusive o financiamento público de campanhas”, disse o secretário de políticas sociais da CUT, João Batista Gomes.

Do pouco que foi possível ouvir Cunha, era possível escutar ele pedindo educação e chamar os manifestantes de intolerantes. “A educação nos diz que devemos ouvir”. Ao final do evento, em entrevista coletiva, o peemedebista reclamou de seus críticos, mas disse que o protesto faz parte da democracia.

A confusão fez com que o presidente da Assembleia Legislativa, Fernando Capez (PSDB-SP), atendesse ao pedido de um correligionário seu, o deputado Luiz Fernando Machado, e fechasse o auditório ao público. A justificativa era que o regimento interno da Assembleia proíbe manifestações durante suas sessões. Só teriam direito a fala, quem se inscrevesse junto ao cerimonial. Assim, vários manifestantes foram retirados à força pelos policiais e ao menos uma pessoa se feriu. “Estou com arranhões nos braços e indignada com a forma autoritária que essa casa se comportou ao expulsar o povo e nos impedir de participarmos das discussões”, disse a jornalista e militante Luka Franca, após ser arrastada por dois policiais.

Havia um grupo de manifestantes, formado por bacharéis em direito que pedia a aprovação de uma PEC

Além desses dois grupos de manifestantes havia um terceiro, formado por bacharéis em direito que atuam como defensores públicos, advogados da União e procuradores de autarquias, entre outros. Eles também empunhavam faixas, mas sem acusar ninguém. Pediam apenas a aprovação da PEC 82, que dá autonomia funcional a essas carreiras. Foram os únicos que acabaram recebidos por Cunha, em clima de festa. Quando, após a audiência, o peemedebista se encaminhava para conversar com a imprensa, foi aplaudido pelos pacíficos protestantes. A razão: o deputado pautou a votação da PEC 82 para a próxima segunda-feira.

Não à constituinte

Apesar do debate esvaziado – menos de 15 pessoas estavam no plenário depois que a galeria foi reaberta –, Cunha disse que a audiência pública foi válida. “Ela foi transmitida pela TV Assembleia, pela TV Câmara, pela internet. Nem sempre os debates na Câmara têm público e isso não significa que a discussão não é importante”, afirmou.

Quando questionado se apoiava a criação de uma Assembleia Constituinte, o peemedebista disse ser “frontalmente contrário” e que a proposta era uma pauta política específica de partidos como o PT e o PSOL. “Não vamos criar um grupo de brasileiros exclusivos. Pelo que conheço essa proposta não tem nenhum tipo de apoio. É uma minoria do parlamento, talvez do mesmo tamanho do grupo de manifestantes que estava aqui”, disse.

Sobre a acusação de ser homofóbico, ele disse que não estava em São Paulo para discutir costumes nem sua atuação parlamentar, mas como representante de um poder Legislativo. Investigado pela operação Lava Jato, Cunha também não se manifestou sobre os gritos de corrupto que ouviu.

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