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A vergonha de Graça Foster

"Tenho um constrangimento muito grande de olhar para vocês", afirmou Graça Foster, ex-presidente da Petrobras, em depoimento à CPI que investiga a corrupção na estatal

Gil Alessi
Graça Foster durante a CPI da Petrobras.
Graça Foster durante a CPI da Petrobras.AgBr

“Entrei em várias CPIs com muito mais coragem que entrei hoje. (...) Tenho um constrangimento muito grande de olhar para vocês", afirmou Graça Foster, ex-presidente da Petrobras, nesta quinta-feira (26), em declaração à Comissão que investiga as irregularidades na estatal. Não é pouca coisa vindo de uma veterana da empresa – a executiva entrou na companhia aos 17 anos como estagiária – e depoente tarimbada: ela foi convocada diversas vezes no ano passado quando ocorreram duas CPIs da estatal no Congresso. Não foi o único momento hoje em que Foster lamentou a situação da empresa. Ao longo da sessão, que durou em torno de oito horas, as palavras “vergonha” e “desonra” apareceram diversas vezes em suas respostas.

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Apesar de não ser investigada pela operação Lava Jato, que investiga desvios na estatal, até o momento, Foster é parte em processos movidos por acionistas da estatal nos Estados Unidos, onde responde na condição de presidente da Petrobras porque os esquemas de corrupção teriam provocado perdas para os investidores.

O depoimento do ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco à CPI, no início de março, parece ter tido grande parcela de culpa no sentimento de Foster com relação ao escândalo investigado pela Lava Jato: “[Antes] Poderia ter todas as suspeitas, mas não tinha os fatos”, afirmou. “O que chateia, o que desonra, o que envergonha, são as questões colocadas [propina na Petrobras] aqui pelo Pedro Barusco”. Em seu depoimento, Barusco admitiu que recebia propina desde 1997, mas que apenas a partir de 2003, durante o mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o esquema de propina na estatal foi “institucionalizado”. Segundo ele, o dinheiro fruto de corrupção foi repassado para a campanha da então candidata Dilma Rousseff em 2010.

“O Barusco era um engenheiro naval admirável. Quando a gente ouve ele falar aquelas coisas, nós pensamos que estamos em outro planeta”, disse a ex-presidente da estatal. A relação de Foster com a companhia é quase visceral: além de ter galgado todos os degraus na empresa até se tornar uma das mulheres mais poderosas do setor, em diversas entrevistas a ex-presidente declarou seu amor incondicional à Petrobras, e se refere a si própria como uma “petroleira”.

Foster também citou o caso do gasoduto Gasene, que segundo Barusco foi uma das obras em que ele recebeu propina: “Gostaria que tudo isso fosse mentira e que não tivesse tido propina alguma”. À época a executiva era diretora de Gás e Energia, departamento responsável pela iniciativa.

A ex-presidente da estatal se mostrou cética quanto à afirmação de que durante o Governo do tucano Fernando Henrique Cardoso a propina era cobrada por ele de forma “individual”, e que a sistematização da corrupção começou em 2003, no Governo de Luiz Inácio Lula da Silva. “Não consigo imaginar que possa, uma pessoa sozinha no meio da estrutura, ter feito uma coisa isoladamente", afirmou. Foster mencionou sua experiência em todos os escalões da empresa para descartar a afirmação de Barusco: “Tenho dificuldade de aceitar que um gerente no meio da linha hierárquica possa receber vantagem por alguma coisa, sem que outro soubesse”. Segundo a ex-presidente da empresa, a operação Lava Jato muda a Petrobras "para melhor".

Foster defendeu o cálculo de 88,6 bilhões de reais em perdas na Petrobras que seriam incluídos no adiado balanço da empresa, mas negou que este valor se refira integralmente a desvios e corrupção. “Esses 88 bilhões representam o valor justo por conta de uma série de ineficiências, até mesmo por causa de chuva e outros, não são o número da corrupção”, disse. A divulgação do valor, feito quando ela ainda era presidente da estatal, teria servido de estopim para sua demissão.

Ausência de operador do PMDB na CPI provoca bate-boca

“Não há articulação para impedir a convocação do Fernando Baiano”, falou no seu tom calmo costumeiro o relator da CPI da Petrobras, Luiz Sérgio (PT-RJ). O lobista Fernando Soares, conhecido como Baiano, é apontado nas investigações como o operador das propinas para o PMDB. Seu depoimento aos investigadores da Lava Jato é um dos que acusa o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Na sessão anterior da comissão não houve consenso quanto à convocação do lobista, e nesta quinta-feira o assunto voltou à tona: “Por que vocês têm medo de ouvir o Fernando?”, questionou Jorge Solla (PT-BA), ao que Sérgio respondeu afirmando que “foram apresentados 538 requerimentos [de convocação]”, e que "não era possível no plano de trabalho apresentar todos. Apresentei os que achei melhor para o início dos trabalhos na comissão”. A convocação do policial Jayme Oliveira, o Careca, que também outro delator que implica Cunha, também não foi aprovado na semana passada.

Cunha compareceu espontaneamente à comissão em 12 de março, e foi elogiado pelos parlamentares da CPI, inclusive os de oposição. Ele já criticou duramente a inclusão de seu nome na lista do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, dos parlamentares que serão investigados na Lava Jato.

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