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O capital de confiança do ministro

Levy responde a uma plateia de empresários cheia de dúvidas, mas simpática ao emissário: “Não prometo soluções fáceis"

C.J.
O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, na Câmara França Brasil
O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, na Câmara França BrasilP. Whitaker/Reuters

As perguntas feitas pela plateia de empresários ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy, deram bem o tom das preocupações que afligem o setor produtivo brasileiro neste momento sui generis em que reinam mais dúvidas que certezas. Como lidar com o dólar em alta, a tributação complexa, com o risco de perder o grau de investimento pelas agências de risco, e ao mesmo tempo virar a página do caso Petrobras e empreiteiras, fundamentais para o crescimento econômico. Uma fala do ministro ao longo da sua apresentação na manhã desta segunda-feira poderia ser aplicada: “Não prometo soluções rápidas e fáceis”, afirmou o ministro, deixando claro que o Brasil de 2015 será um ano de ‘aprender fazendo’, como apontava sugestivamente um dos slides da sua apresentação para empresários em São Paulo.

O dólar em alta é uma das principais preocupações neste momento, em que a moeda americana está cada dia mais perto dos 3 reais. “O Banco Central está procurando estabilizar a moeda, mas no mundo o dólar está volátil”, disse Levy, lembrando que em sua passagem por Davos, em janeiro deste ano, a alta do dólar era uma das maiores insatisfações dos suíços. “O franco estava mais alto que os Alpes”, brincou o ministro, lembrando que também a China estava começando uma política de short selling para atenuar a flutuação da moeda americana diante do iuane. “O câmbio não vale mais 1,60 reais, está acima dos 2,60 reais”, afirmou Levy (nesta segunda, o dólar estava sendo negociado a 2,90 reais).

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O número um da Fazenda também falou da Petrobras, ainda que não tenha mencionado os imbróglios jurídicos em que a estatal se vê envolvida. “Chamo a atenção para a produção [da Petrobras], que havia se estabilizado, mas desde 2014, está em crescimento. O pré-sal já corresponde a um terço da produção da companhia, e agora devemos ter [a produção] de gás”, disse.

Levy defendeu, ainda, as “medidas corajosas” do Governo Dilma ao realinhar o custo de energia – leia-se, reajustes tarifários para garantir a receita das empresas do setor – assim como o empenho em simplificar programas que ajudem o setor privado. “Temos a intenção de fazer ajustes na área de impostos, como a simplificação de tributos como o PIS Cofins, e em paralelo o (tributo estadual) ICMS”, sinalizou Levy.

O ministro reconheceu que é preciso dar mais um passo no caminho do desenvolvimento do Brasil, hoje fechado nas empresas que vem ao país para crescer com o mercado interno. E para tal, tem mantido conversas com o seu colega Armando Monteiro, titular da pasta de Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior (MDiC). “Temos de ir além, inserir-nos mais em linhas de produção, e as multinacionais têm um papel. É preciso ter disposição das companhias e do próprio governo, para entender o que é necessário para que as empresas sejam mais agressivas e competitivas, e cresçam mais no mercado internacional”, completou.

As doses de otimismo em seu discurso foram bem recebidas pela plateia de executivos e empresários, que creditam “um enorme capital de confiança” em Levy, segundo as palavras de Louis Bazire, presidente da Câmara de Comércio França Brasil. “Ele tem apoio geral do setor privado”, garante o economista-chefe do banco Bradesco, Octávio de Barros, que aposta também no apoio do Congresso para que as mudanças necessárias propostas por Levy, como é o caso dos ajustes de benefícios como seguro-desemprego, sejam aprovadas sem grandes dificuldades. 

Barros entende que os ajustes propostos pelo ministro, que podem incluir a redução de gastos de alguns ministérios, serão bem-sucedidos. Porém, preocupa o desafio de aumentar a receita do Governo em 2015, um ano que enfrentará clara dificuldade, com previsão inclusive de queda do PIB. “A atividade econômica está desacelerando a arrecadação, e ainda as mudanças na concessão de benefícios, são um desafio”, afirma.

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