Contra o Boko Haram
O ocidente tem de assumir a iniciativa diante do grupo jihadista que age na Nigéria
Provavelmente algo teria de ter sido feito antes. Mas já é hora de a comunidade internacional se envolver na luta contra a guerrilha islâmica do Boko Haram, na Nigéria, cujas atrocidades se repetem há meses sem que os meios até agora empregados tenham surtido efeito.
Não é exagerado dizer que o Boko Haram é responsável por uma das maiores perseguições religiosas registradas no século XXI. Afeta principalmente os cristãos, mas também muçulmanos que não se submetem ao fundamentalismo. E tudo isso no país mais populoso da África —no qual 50% de seus habitantes são cristãos e cerca de 45%, muçulmanos—, e que, além disso, é um dos principais produtores mundiais de petróleo.
As provas de crimes contra a humanidade cometidos pelo grupo extremista se sucedem, às vezes anunciadas pelos próprios jihadistas e em outras ocasiões por denúncias de organismos e associações internacionais. Há dois bons exemplos: do primeiro caso, o sequestro de 200 meninas de um colégio cristão, perpetrado há nove meses. Foi o próprio Boko Haram — cujo nome se traduz por “a educação ocidental é pecado” — quem distribuiu as imagens das jovens capturadas e cobertas com o véu islâmico, prontas para serem “divididas” como gado entre seus captores. O segundo exemplo são as imagens de satélite distribuídas pela Anistia Internacional, nas quais se vê a devastação causada pela guerrilha jihadista, que na semana passada matou 2.000 pessoas, destruiu suas casas e cortou suas árvores.
Quis o acaso que tanto a matança como o cumprimento de nove meses do sequestro tenham coincidido com as enormes manifestações contra os assassinatos de Paris, dando lugar a um justificado sentimento de abandono da população nigeriana, que é preciso remediar.
Boko Haram não é um problema local em uma região da África subsaariana e portanto distante de nossas fronteiras. Basta dar uma olhada nas rotas de imigração africana para a Europa para dar-se conta de suas implicações. Além disso, a Nigéria é peça-chave no quebra-cabeças jihadista mundial, que já controla amplas áreas do Mali e o deserto saariano. Que um país tão pobre como o Chade tenha se comprometido a ajudar o Congo para evitar a entrada do Boko Haram deveria fazer refletir os Governos ocidentais: é preciso encarar o problema o quanto antes.