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Grécia antecipa eleições e vive o maior cataclismo político desde a crise

Primeiro-ministro Andonis Samarás anuncia novo pleito para o dia 25 de janeiro Partido de esquerda Syriza, que defende renegociação da dívida, lidera pesquisas

O primeiro-ministro grego, Andonis Samarás, durante a votação nesta segunda-feira, no Parlamento.Foto: reuters_live | Vídeo: YANNIS BEHRAKIS | REUTERS-LIVE!
María Antonia Sánchez-Vallejo

O que teoricamente era apenas um trâmite parlamentar, a eleição para presidente da Grécia, tornou-se o maior cataclismo político vivido pelo país desde o início da crise econômica, depois de duas fracassadas tentativas prévias de eleger o chefe de Estado, que atiçaram a instabilidade e os temores de Bruxelas e da tróika [Fundo Monetário Internacional (FMI), União Europeia e Banco Central Europeu (BCE)] e que, nesta segunda-feira, levaram o país definitivamente às urnas, em convocação antecipada, ao encerrar a eleição presidencial sem resultado. As pesquisas indicam que o partido esquerdista Syriza -- que é contrário à política de austeridade e defende a renegociação da dívida pública -- vencerá essa eleição, em 25 de janeiro.

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Por votação nominal em voz alta, os 300 deputados gregos se pronunciaram a favor ou contra o único candidato à chefia do Estado, o conservador Stavros Dimas, ex-comissário europeu e várias vezes ministro da Nova Democracia, o partido do primeiro-ministro Andonis Samarás. Dimas tinha sido proposto pelo Governo (que tem apenas 155 cadeiras) e, diferentemente das vezes anteriores, precisava de 180 votos. Obteve apenas 168, o mesmo que na segunda votação, no dia 23.

Em suas primeiras declarações na saída do Parlamento, Dimas disse aos jornalistas que esperava esse resultado e ressaltou que “só o que importa agora e sempre são os interesses da Grécia, a favor dos quais todos devem trabalhar juntos, com sangue frio”, o mesmo, afirmou, com que recebeu o resultado.

Para o Executivo de Samarás ficou impossível atrair mais apoios, apesar de seu apelo no sábado, quando pediu pela responsabilidade dos legisladores para “evitar a aventura” das urnas. O Parlamento será dissolvido em prazo de dez dias a partir desta segunda-feira, para em seguida haver a convocação de eleições. O primeiro-ministro anunciou que o pleito eleitoral será em 25 de janeiro, na primeira das datas consideradas.

As pesquisas apontam para o triunfo da esquerdista Syriza, com 28% dos votos, e para a ruína do bipartidarismo da Nova Democracia —o partido de Samarás— e dos socialistas do Pasok, que tiveram o poder durante quatro décadas de cômoda alternância.

Pesquisas apontam para o triunfo da esquerdista Syriza e para a ruína do bipartidarismo da Nova Democracia (do Governo) e dos socialistas do Pasok, que se revezam no poder há quatro décadas

A transmissão ao vivo pela televisão pública Nerit, com uma tarja em que se lia “eleição da presidência ou urnas”, foi uma sucessão de atualizações sobre um placar na tela, como numa partida de futebol, em que figuravam as duas únicas opções possíveis, Stavros Dimas ou “parada” (presente, como em voto em branco, a opção de 132 parlamentares); desde os primeiros votos ficou claro que era uma eleição no matadouro e que Dimas não seria eleito.

Mudança no cenário político

Outra das leituras que podem ser feitas da crise grega é que os partidos participantes do Governo vão pagar preço muito alto por sua política de ajustes.

Para Pavlos Eleutheriadis, professor de direito em Oxford e membro do To Potami, partido criado em março por profissionais liberais distantes da política e que fez da luta anticorrupção a sua bandeira, o cenário político no país será de mudanças profundas nos próximos anos. “Uma nova Grécia está depois da esquina, mas temos que ser pacientes: a democracia tem seu próprio ritmo”, declara. O professor assinala vários fatores de mudança: a necessária e progressiva renovação geracional da Nova Democracia, “atualmente um partido desgastado, mas com jovens deputados claramente europeístas e muito mais cosmopolitas que a liderança atual”; a implosão ou até a dissolução do Pasok, que participou das eleições europeias e conseguiu apenas duas cadeiras, ou as diferenças internas na Syriza, “entre uma pequena facção pró-europeia e outra muito mais ampla contrária a Bruxelas”.

O panorama de ingovernabilidade se descortina assim em Atenas. Privado de seu único aliado possível na esquerda (Dimar), e dadas as diferenças irreconciliáveis com os comunistas, restaria à Syriza apenas se coligar com os Gregos Independentes (Anel, direita ultranacionalista e anti-resgate), caso esse partido consiga entrar no Parlamento, o que parece um pacto antinatural.

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