Crise das empreiteiras brasileiras abre espaço para invasão chinesa
Investigações e sanções a construtoras nacionais devem atrair grupos estrangeiros
Outrora dispostas a duelar com os chineses pelo mercado africano, principalmente em Angola e Moçambique, as empreiteiras brasileiras correm o risco de serem engolidas pelas concorrentes dentro da própria casa por conta de alguns passos errados. O maior escândalo de corrupção da história do país levou a Petrobras a suspender negócios com 23 das empresas citadas na a Operação Lava Jato e já ameaça a conclusão de obras como a refinaria de Abreu e Lima e o Complexo Petroquímico do Estado do Rio de Janeiro. Para evitar prejuízos e tentar cumprir os prazos, a estatal informou que "buscará fornecedores de bens e serviços de forma a garantir procedimentos competitivos", acrescentando que "isso poderá, eventualmente, envolver empresas estrangeiras".
Segundo fontes do mercado, essas empresas devem vir principalmente da China e dos Estados Unidos. A expectativa é de que esses grupos estrangeiros se associem com empresas de médio porte no Brasil, incapazes de assumir sozinhas obras tocadas por construtoras como Queiroz Galvão e OAS, que já começaram a demitir e enfrentam problemas para concluir obras e vendem participação em consórcios para exploração de serviços públicos. Nesse cenário emergencial, as empresas estatais chinesas devem sair na frente, já que trabalham com taxas de retorno mais baixas e têm, portanto, preços mais competitivos.
“Os chineses serão os primeiros a se apresentar”, diz Rodolpho Salomão, presidente da Associação Nacional dos Analistas e Especialistas em Infraestrutura (Aneinfra). “Eles estão se aproximando. Vão continuar desenvolvendo a inteligência deles e aproveitar um mercado grande como o Brasil, junto com outros países que estão passando por estagnação econômica, que vão encontrar no nosso mercado a possibilidade de se reerguer”, comenta.
Presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China, Charles Tang também diz esperar um aumento do investimento chinês em infraestrutura no Brasil, pois, além da China, "nenhum outro país tem 4,4 trilhões de dólares para investir". "Os chineses estão consolidados no setor de petróleo e gás brasileiro. A Câmara tem trabalhado pela vinda de empresas chinesas, e não entendo por que o Brasil vinha resistindo. Os dois governos têm boa relação e o leilão do Campo de Libra só saiu porque as empresas chinesas entraram [no consórcio vencedor para a exploração]", diz.
Os chineses serão os primeiros a se apresentar”
Rodolpho Salomão, presidente da Aneinfra
Tang se refere à exploração do Campo de Libra, estimado como maior reserva do pré-sal, de cujo consórcio participam as chinesas CNPC e CNOOC. Outras duas empresas da China, Sinopec e Sinochem, já investem na área de petróleo no Brasil desde 2010, como destaca o último relatório do Comitê Empresarial Brasil-China, de março de 2014. Segundo o estudo, grupos chineses anunciaram 31 projetos no país em 2012 e 2013, dos quais 24 foram confirmados e totalizam 6,86 bilhões de dólares, com destaque para os montantes investidos nas áreas de petróleo e de energia elétrica.
Infraestrutura
Apesar dos investimentos, não existem empresas chinesas atuando em obras de infraestrutura de grande porte no Brasil — o relatório do Comitê Empresarial destaca que “a área de infraestrutura apresenta capacidade para receber mais projetos de investimento chinês”. O presidente do Comitê Empresarial Brasil-China, embaixador Sergio Amaral, pondera que a chegada dessas empresasdependeria de algum incentivo do Governo brasileiro. “O fato é que o Brasil necessita fazer grandes obras de infraestrutura, mas não sei se as empresas chinesas teriam capacidade para se apresentar de forma tão rápida, pois não estão acostumadas, por exemplo, a lidar com a questão de regulação ambiental”, diz.
Outro porém, segundo Adriano Pires, que dirige o Centro Brasileiro de Infraestrutura, são as contrapartidas que os chineses costumam impor, como a reserva de um percentual de trabalhadores e de empresas de maquinário da China. Mesmo assim, Pires ainda vê nos chineses a saída mais rápida para destravar as obras que vierem a ser prejudicadas pela queda em desgraça das empreiteiras nacionais. Além do mais, depois de dominar o mercado africano, onde instalaram mais de 2.000 empresas e mantêm presença em pelo menos 22 países, os chineses passaram a mirar suas baterias para a América Latina.
Pelo menos na área de óleo e gás, eles já ampliam seus tentáculos há anos e avançam com velocidade. Em julho do ano passado, o presidente chinês Xi Jinping deu um giro por Brasil (onde firmou 32 acordos econômicos), Argentina, Cuba e Venezuela, onde, no ano passado, a petroleira chinesa Sinopec anunciou um investimento de 14 bilhões de dólares em um campo de petróleo. No mesmo ano, a PetroChina, subsidiária da CNPC, adquiriu todos os ativos da subsidiária peruana da Petrobras por 2,6 bilhões de dólares. Já no Equador, eles investem em energia elétrica: sete das oito hidreléticas de médio porte em construção estão nas mãos de chineses — enquanto apenas uma é tocada pela Odebrecht.
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