Bachelet se lança no caminho da mudança em meio à freada econômica

Presidenta chilena aposta nas reformas e no investimento público

Mina de cobre chilena Los Bronces.REUTERS

Grande parte do segundo mandato da socialista Michelle Bachelet, iniciado em março, tem sido marcado pela discussão sobre a desaceleração econômica que o Chile atravessa. Depois de um crescimento médio de 5,8% entre 2010 e 2012, e de uma expansão de 4,17% em 2013, as últimas previsões do Banco Central chileno indicam que a economia passa por uma desaceleração que fará 2014 terminar com um tímido 1,9%.

As últimas previsões do Banco Central apontam que a economia crescerá 1,9% em 2014

O Governo socialista tentou explicar que essa situação se arrasta desde a Administração de direita de Sebastián Piñera por culpa da queda internacional dos preços das matérias-primas e, estruturalmente, pelo fato de o Chile por muitos anos não ter realizado as mudanças que o Executivo promove atualmente, como a reforma da educação. Não existe, porém, consenso: os empresários, a direita e alguns técnicos governamentais reconhecem a importância dos fatores externos, mas responsabilizam a intensa agenda reformista do Governo, sua rapidez e multiplicidade, por gerar incerteza e levar à queda do investimento e consumo.

Em setembro foi aprovada uma reforma tributária para financiar as mudanças na educação. Esse debate, no entanto, causou uma das principais dores de cabeça ao Executivo porque não obtém o apoio esperado da população. Não é a única transformação prometida por Bachelet: antes de concluir seu mandato, em 2018, deverá aprovar uma Constituição e uma reforma trabalhista.

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Para os críticos, a forma que o Palácio La Moneda usou para dar impulso a essas mudanças reafirma o caráter de refundação estabelecido pelo Governo, o que põe em risco os êxitos macroeconômicos do Chile nas últimas três décadas. Na quinta-feira, no encontro público-privado Enade 2014, Bachelet admitiu que suas iniciativas causaram incerteza, mas não retrocedeu: “Prefiro assumir e conduzir as inevitáveis divergências que as reformas criam em vez de aceitar resignada que esta oportunidade de desenvolvimento seja frustrada”. O empresariado também não cedeu diante da presidenta: “Não estamos contra as mudanças, mas as mudanças que aperfeiçoem, não só as que agradam aos que gritam”, afirmou o presidente da Confederação da Produção e Comércio, Andrés Santa Cruz.

O Governo adotou medidas para mitigar a freada: o gasto público se expandirá em 9,8% em 2015, basicamente em investimento, que crescerá 27,5%, o que mobilizará o equivalente a 6,4 bilhões de reais, cerca de um ponto do PIB. O Executivo aposta que essa medida gerará emprego. De todo modo, o principal problema do ministro da Fazenda, Alberto Arenas, é muito político: os empresários lhe retiraram apoio. A remoção do chefe do Tesouro a menos de um ano da arrancada do Governo seria algo inédito.

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