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Carlsen triunfa; Anand falha

Um erro do indiano sob grande tensão prolonga por dois anos o reinado do norueguês

Leontxo García
Carlsen, durante a partida decisiva.
Carlsen, durante a partida decisiva.YEVGENY REUTOV (efe)

A história dirá que o vencedor foi Magnus Carlsen (6,5-4,5), mas a verdade é que Viswanathan Anand, cujos nervos não aguentaram a pressão quando estava perto de dar um golpe brutal no duelo de Sochi (Rússia), é que perdeu. O norueguês, letal ao aproveitar esse erro, reinará até o fim de 2016 e levará 600.000 euros, contra 400.000 do indiano, mas ambos devem doar 20% para a Federação Internacional (FIDE).

“É óbvio que meus nervos falharam”, reconheceu Anand alguns minutos depois de felicitar o campeão por sua vitória com um aperto de mãos e o primeiro sorriso que lhe dedicou em todo o duelo; depois conversou amigavelmente durante quinze minutos. Apenas uma hora antes, o numeroso séquito de familiares e amigos do norueguês, assim como o exército de jornalistas de seu país, tinham mudado sua esperança de triunfo pela angústia de um possível desastre. E com motivos: Anand tinha encontrado uma ideia magnífica e se também encontrasse a continuação precisa, Carlsen sofreria uma pressão brutal, no tabuleiro, no relógio e em sua cabeça.

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Até aquele momento já estava cumprindo a séria advertência que Garry Kasparov fez ao escandinavo em uma entrevista a este jornal (publicada na quinta-feira): “Se ele pretende ser campeão bordeando a costa em vez de aceitar o combate em alto mar, vai se meter em um campo minado”. Contrariamente à valente atitude que demonstrou em várias partidas muito importantes de sua carreira, jogando para ganhar quando o empate bastava, Carlsen enfrentou esse penúltimo assalto de forma muito conservadora, permitindo que Anand propusesse, mais uma vez, o pétreo ‘muro de Berlim’, uma defesa que ninguém conseguiu quebrar de forma convincente desde que Vladimir Kramnik destronou Kasparov com ela em 2000.

Anand e Carlsen durante uma de suas partidas no Mundial.
Anand e Carlsen durante uma de suas partidas no Mundial.YEVGENY REUTOV (EFE)

Essa estrutura costuma produzir posições muito tediosas para os fãs de baixo nível técnico. Mas nem sempre, e esta foi uma das exceções: Anand fez tremer o tabuleiro com uma ideia genial na 23, que lhe dava vantagem. Além disso, o relógio começava a apertar os dois. A tensão era extrema: se o indiano convertesse essa vantagem em vitória, igualando o marcador, conduziria as peças brancas na terça-feira, na última partida e com o moral de Carlsen no chão. A decisão de Carlsen de não arriscar no penúltimo assalto poderia jogá-lo contra as rochas.

Carlsen, de 24 anos, selou a queda do pentacampeão Anand, de 44

O Karpov dos melhores tempos ­–o gélido Anatoli­– provavelmente teria ganho a partida com as peças de Anand. Mas este não conseguiu controlar seus nervos e cometeu dois erros: primeiro, não viu uma jogada difícil, mas nem tanto quanto a que acabava de fazer, que teria colocado Carlsen contra as cordas; e então perdeu o norte —“Não sei por que fiz essa jogada”— com uma ideia que lhe deixou perdido.

Como de hábito, Carlsen não fugiu da autocrítica: “Hoje joguei mal em um período muito delicado da partida, mas depois fui muito preciso ao aproveitar o erro de Anand”. Em relação a seu rendimento em todo o duelo, deu razão a Kasparov, que tinha diagnosticado que sofria de “síndrome da revanche”: “Há um ano não esperava que Anand fosse capaz de vencer o Torneio de Candidatos poucos meses depois de perder o título. Ou porque meu rival foi o mesmo ou porque melhorou muito em relação ao ano passado, meu jogo foi inconsistente, com momentos bons e ruins. Sem dúvida alguma, posso fazer melhor”.

Carlsen repetiu várias vezes a palavra “aliviado” para descrever seus sentimentos, o que novamente nos leva a Kasparov. Este, no Mundial de Sevilha de 1987, depois de ganhar a última partida de Karpov, correu para onde estavam sua mãe e seus ajudantes, e gritou: “Mais três anos!” referindo-se ao fato de que durante esse tempo não teria de pensar em Karpov obsessivamente, dia e noite. Guardadas as proporções —Carlsen não teve de sofrer nem um milímetro as pressões políticas que apertaram os dois K durante a maior rivalidade da história de todos os esportes—, o norueguês poderá se dedicar agora a confirmar que já é um dos melhores de todos os tempos, ainda que não tenha sequer completado 24 anos. Em Sochi ele não demonstrou, mas o importante era selar o declínio do pentacampeão Anand, de 44 anos. E conseguiu.

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