_
_
_
_
Editoriais
São da responsabilidade do editor e transmitem a visão do diário sobre assuntos atuais – tanto nacionais como internacionais

A Escócia agita

A possibilidade do triunfo independentista seria um sismo adicional para a Europa

A aparição da primeira e até agora única pesquisa que prevê uma maioria pró-independência no referendo da Escócia sobre a permanência no Reino Unido fez disparar subitamente a temperatura da política e das finanças nas ilhas. Sobretudo porque essa sondagem não constitui fato isolado, mas marca uma tendência em favor dos secessionistas, crescente à medida que se aproxima o dia D, o 18 deste mês.

A reação política veio marcada pelas promessas de aumento na amplitude de sua autonomia se os escoceses rejeitarem a separação, precipitadamente formuladas pelo ministro da Economia, George Osborne. Trabalhistas e liberais endossam a estratégia flexibilizadora dos conservadores, mas ainda não foram capazes de um acordo sobre os detalhes, o que ilustra o quão improvisada está sendo a resposta de Londres à milimétrica campanha do Partico Nacional Escocês. As resistências iniciais do premiê David Cameron em ir até a Escócia e participar da campanha –corrigidas agora– só serviram para corroborar seus erros, sendo o primeiro deles o menosprezo aos rivais.

A reação dos mercados financeiros beirou o pânico, outorgando assim verossimilhança à tendência das pesquisas: o despencar da libra, o aumento das taxas de juros e a queda das grandes empresas na Bolsa são indícios do temor ante o possível desmembramento do Reino Unido, eventualidade que não seria nenhum bom presságio para os europeus, empenhados em aumentar sua integração e superar as divisões.

O segredo do êxito da campanha nacionalista tem sido sua estratégia positiva; sua argumentação sobre o modelo social em perigo por causa da política de austeridade; seu delinear de uma sociedade, apesar de idílica e fantasiosa, supostamente atraente, próspera graças a projeções exageradas sobre o petróleo do Mar do Norte do qual disporia no futuro; e a exibição de uma enorme desenvoltura sobre hipóteses incertas, como a continuidade na UE, a permanência da coroa e a manutenção da libra (para que a independência se antecipadamente se renuncia à política monetária?) diante do alvoroço dos sentimentos.

O unionismo, que enfrentou bem a investida inicial, com sólidas razões acadêmicas e econômicas, não soube disputar a hegemonia com o secessionismo em seu próprio terreno: o dos horizontes morais, psicológicos, inovadores. A tardia oferta de novos poderes –a ampliação do autogoverno– se mostrou, assim, suspeita de ter sido forjada de modo oportunista: não por convicção, mas para evitar o pior. E os do grupo de Salmond puderam criticá-la como tentativa de suborno resultante do pânico.

Falta aos partidários da união uma semana para conferir credibilidade a propostas que deveriam ter sido formuladas tempos atrás. Se não conseguem, o impacto ameaça atravessar as fronteiras britânicas, exacerbar outras aspirações nacionais e prejudicar o conjunto da UE justo quando os europeus lutam para eludir a terceira recessão desde o fatídico 2008.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_