_
_
_
_

Argentina, uma economia que ainda se debate entre a queda e a recuperação

Uma suspensão de pagamentos agravaria a leve recessão no país, enquanto uma saída da disputa melhoraria as perspectivas econômicas

A. R.

Seria bonito trazer uma manchete dizendo que a Argentina pode ir do inferno ao paraíso em um mesmo dia, se finalmente o país incorrer na suspensão de pagamentos, ou se, apesar do desentendimento com os fundos abutres, conseguir encontrar uma saída. Mas diversos analistas concordam que não seria uma catástrofe caso Buenos Aires caísse na suspensão de pagamentos, apesar de agravar a atual recessão leve que está sofrendo. E se o país acabasse encontrando uma solução para o conflito judicial de sua dívida nos Estados Unidos, haveria uma festa nos mercados com as ações e bônus argentinos, mas não uma chegada em massa de capitais. A economia se recuperaria, mas a um ritmo moderado.

O economista Eduardo Levy Yeyati, professor nas universidades de Buenos Aires e Harvard, afirmou, na quarta-feira, que se a Argentina solucionar a ação judicial, o país começaria a sair da recessão já no último trimestre deste ano. Seu prognóstico é de que a economia alcançaria um crescimento médio de 0% em 2014 - em vez da retração de 0,8% prevista até o momento - e melhoraria cerca de 2% em 2015. “Se houver solução, a Argentina cortaria a escassez de dólares que sofre (desde 2011), algumas províncias poderiam emitir suas dívidas fora, a nação poderia fazer duas trocas da dívida que vence em 2015 e talvez até emitir títulos neste ano e no ano que vem”, disse Levy.

Mais informações
A Argentina esgota o prazo de negociação sem acordo com os fundos abutres
As chaves para entender o conflito judicial da dívida argentina
Um novo calote argentino vai passar fatura aos exportadores do Brasil

Buenos Aires não lança papéis nos mercados internacionais desde 2001, antes do calote. O prêmio de risco da Argentina é de 679 pontos básicos, muito abaixo dos 5.000 anteriores ao não-pagamento de 2001. Levy considera que, sem a disputa com os fundos abutres, o país poderia superar os 418 do Equador, dada a baixa dívida pública de Buenos Aires. Ainda assim não se equipararia aos 212 do Brasil, já que certos investidores desconfiam da presidenta argentina, Cristina Kirchner, que encerra seu mandato em dezembro de 2015. “As compras de ações e de bônus argentinos cresceriam. Eu não esperaria uma entrada em massa de capitais antes de 2016, mas alguns investimentos já se antecipam desde 2013 a uma mudança de Governo”, afirmou Levy sobre o panorama financeiro.

A economia real também melhoraria, mas não se juntaria ao clima festivo dos mercados. “Se a escassez de dólares diminuísse, as taxas de juros poderiam baixar, e as pessoas deixariam de acumular dólares e gastariam mais, o investimento privado se recuperaria, o setor da construção civil se reativaria”, previu o professor, que também é sócio da consultoria Elypsis.

Os mercados comemorariam o acordo do Executivo

Mas se o pior acontecer e a Argentina cair na suspensão de pagamentos, dois cenários são possíveis. Um deles é Buenos Aires não cumprir apenas com o pagamento dos bônus cujos juros vencem este ano, totalizando cerca de 22,3 bilhões de reais, e conseguir convencer os credores de que os pagará em 2015. A outra situação é os investidores começarem a fazer exigências e conduzir o país ao não-pagamento de toda a sua dívida reestruturada, que chega a 90 bilhões de reais. Levy acredita que se ocorrer uma suspensão de pagamentos circunscrita a determinados títulos, a economia poderá cair 1,5% em 2014 e se recuperaria em 2015, ano eleitoral. “Seria necessário suportar seis meses de falta de dólares, aumento dos juros e da taxa de câmbio e queda de empregos”, afirmou o economista, confiante em uma solução. Segundo ele, se a suspensão de pagamentos fosse total, o PIB cairia 2% neste ano e a recessão se estenderia em 2015.

O economista Guillermo Wierzba, de um centro de pesquisas do banco estatal da Argentina, reconhece que um bloqueio judicial aos pagamentos da dívida por parte dos Estados Unidos poderia aumentar a volatilidade dos valores dos títulos públicos, o que geraria “dificuldades” e “impediria a política econômica de combater os verdadeiros problemas do país”.

O grande risco é cair no não-pagamento de toda a dívida reestruturada

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_