O filme secreto de Woody Allen
O curta-metragem 'Men of crisis: The Harvey Wallinger story', sátira da era Nixon, está 'online'
Como outros grandes criadores, Woody Allen também tem seu filme oculto, essa obra que ficou esquecida e da qual todo mundo fala, mas poucos viram. Em seu caso, trata-se de um curta-metragem de 30 minutos que o diretor realizou por encomenda da rede de televisão pública PBS e que nunca viu a luz do dia. Depois de Um assaltante bem trapalhão (1969) e antes de seu primeiro grande sucesso como ator e roteirista com Sonhos de um sedutor (Herbert Ross, 1972), Woody Allen concebeu um engenhoso produto, Men of crisis: The Harvey Wallinger story, a meio caminho entre o falso documentário e a ficção, uma experiência que anos mais tarde desenvolveria com sucesso de público e crítica em Zelig (1983), agora já como longa-metragem.
Men of crisis: The Harvey Wallinger story é uma paródia feroz dos anos de governo republicano de Richard Nixon e da equipe política que governava a Casa Branca na época: o vice-presidente Spiro Agnew, o secretário de Justiça John N. Mitchell... Nomes que ficariam imortalizados com a explosão do caso Watergate. Para essa sátira sobre o partido conservador no poder, Allen se vale de um alter ego de Henry Kissinger, o todo-poderoso conselheiro que governou como um monarca absolutista nos anos Nixon e que no filme é batizado como Harvey Wallinger, que o próprio ator se encarrega de interpretar e dar vida.
Sexo, política, cultura, Bob Hope, Vietnã e outros elementos importantes da vida norte-americana da época se sucedem e se misturam sem compaixão nem piedade no retrato biográfico do falso político republicano, tudo isso temperado com a excelente mordacidade que o comediante esbanjava naqueles tempos. Esse humor que ignorava de cara toda correção e censura e que prosseguiu em filmes como Bananas, Tudo o que você sempre quis saber sobre sexo e tinha medo de perguntar, O dorminhoco... Até chegar ao classicismo de Noivo neurótico, noiva nervosa ou Manhattan.
Entre as colaborações artísticas, a participação de duas mulheres e musas do diretor, Louis Lasser e Diane Keaton. Esta última, no papel de mulher divorciada que não pôde resistir às aventuras extraconjugais do político conservador, principalmente quando a traição foi perpetrada com uma seguidora do Partido Democrata.
A exibição do filme pela televisão coincidiu com o começo da campanha pela reeleição do presidente Nixon, o que provocou sua retirada devido ao temor de emissora a sofrer algum tipo de censura econômica por parte do governo. Woody Allen encarou a frustrada experiência com bastante resignação. Ficou claro que a televisão não era o veículo mais adequado para seus projetos criativos e o cinema, ao contrário, oferecia a ele melhores oportunidades.
Hoje, 40 anos depois, Men of crisis: The Harvey Wallinger story continua guardando as melhores essências do humor woodyalleniano, essa combinação de inteligência, atrevimento e desenvoltura, aqui sem destilar, agora disponível e online.
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