_
_
_
_

A Alemanha ganha como nunca

Os alemães dão à Europa o primeiro título na América ante uma resistente Argentina Ninguém jogou melhor no campeonato que o time do técnico Joachim Löw

José Sámano
Rio de Janeiro -
Götze marca o gol da vitória da Alemanha.
Götze marca o gol da vitória da Alemanha.gabriel bouys (afp)

O Messi atual não bastou para ser o protagonista com que tanto sonhava a sua querida Argentina. A final chegou tarde para Leo. Para Götze, ela não pôde ser mais pontual. Um gol para a história pelo seu valor de romper uma barreira imbatível desde 1930: pela primeira vez, a Europa pôde comemorar na América. O mérito fez justiça a uma grande equipe, uma seleção que sempre foi respeitada porque botava medo. Agora, a Alemanha, com seu quarto título, merece ser admirada. Ninguém jogou melhor na Copa. E, com poucos recursos, ninguém foi tão competitivo quanto a Argentina. O jogo tornou maiores as duas equipes.

Foi uma final que honrou o Maracanã, um jogo que o Brasil merecia ver, porque o fracasso de sua seleção não pode apagar os arquivos dourados de seu futebol. Alemanha e Argentina jogaram de peito aberto, cada uma com seu futebol, sem que ninguém se escondesse. Não houve fogos de artifício, mas sim um duelo corpo a corpo, com boas jogadas nas duas áreas, com Romero e Neuer em alerta máximo, com os alemães mantendo a bola junto aos pés, em todas as suas linhas, com um apoteótico Lahm, um Müller com muita raça, um Neuer monumental e um Kroos solene. A Alemanha, com afeto, dedicação e paciência, montou um timaço, que pode fazer escola. A Argentina não tem esse time, mas conseguiu ser erguer como uma equipe trabalhadora e com muita vontade. Se os alemães dominaram os espaços reduzidos, os sul-americanos dominaram o campo aberto, e Messi fazia dele um mundo próprio.

A Argentina se impôs e fez mais do que parecia ser capaz, pelo menos pelo que mostrou em sua estupenda atuação no maior dos dias. O time foi unido como sempre, mas nunca aceitou o papel heroico dos mais fracos. De acordo com seu DNA, todos foram argentinos até a medula, com tudo isso que supõe: nada de se intimidar. Sob a batuta de Mascherano, a Albiceleste fechou-se à frente de seu goleiro, mas não titubeou em sair com ímpeto para o jogo.

A Alemanha, glorificada para sempre depois de arrasar o Brasil, sentia-se ameaçada, não estava diante de um adversário com taquicardia. Higuaín a fez prender a respiração após um erro grotesco de Kroos, que tentou recuar de cabeça para o goleiro quando no meio do caminho estava o Pipa. O atacante argentino correu em linha reta, cara a cara com Neuer, mas chutou torto. Às vezes, com o gol tão próximo, alguns ficam cegos. Higuaín, por duas vezes, teve o paraíso na ponta das chuteiras. A realidade o superou. E ele acabou indo para o banco.

Os dois times jogaram de peito aberto, cada um com seu futebol, sem que ninguém se escondesse

A equipe de Löw, didática e harmônica com seus passes subordinados, remava pela lateral de Lahm e Müller, mas na outra borda tinha uma brecha considerável. Özil, o de sangue frio em tantas ocasiões, não auxiliava Höwedes, um zagueiro adaptado como lateral, de carroceria pesada. A equipe de Sabella matou a charada, e seus ataques chegavam por essa rota de fuga. Em uma delas, Lavezzi, depois de uma excelente manobra de Messi, disparou e cruzou para Higuaín mandar para redes –mas com um corpo de impedimento. O ataque seguinte coube ao capitão. Messi fez uma infiltração tipicamente sua pela esquerda de Neuer, mas Hummels e Boateng se juntaram para varrer a bola quando ela se aproximava do gol.

Messi observa a celebração dos jogadores alemães.
Messi observa a celebração dos jogadores alemães.MICHAEL DALDER (REUTERS)

Um fato acidental corrigiu os alemães. Kramer, escalado na última hora para o lugar de Khedira, que se sentiu mal no aquecimento, sofreu uma forte pancada num choque de cabeça com Garay e foi a nocaute. O garoto saiu grogue, e Löw recorreu a Schürrle, que cobriu o vazio deixado por Özil na esquerda, fazendo o atleta do Arsenal se deslocar para o centro, onde tem melhor visão panorâmica e atribuições menos tediosas. A Argentina já não tinha caminho livre, e Höwedes devolveu o susto de Higuaín com uma cabeçada na trave, nos estertores do primeiro tempo. Schürrle, além disso, produziu alguns quantos arremates.

Higuaín, por duas vezes, teve o paraíso na ponta das chuteiras. A realidade o superou

Sabella, ou seja lá quem for, moveu as fichas no intervalo, e Messi trocou de sócio: Agüero, que atravessa uma época de abatimento, deu lugar ao ativo Lavezzi. Em nada melhorou a equipe sul-americana. Leo recuou um passo, tendo o Pipa – e depois Palacios, seu substituto - e Kun como referências. Na frente, Özil se animou, e a Alemanha encontrou outro recurso. Não houve quem conectasse o gancho final, por mais que o confronto fosse lá e cá, com labaredas em ambos os lados. Messi estava lá – não aquele de outro planeta, mas estava. E isso é muito. Quem também andava solto era Müller, esse predador que caça gols como num safári. A partida, sem parêntesis para o tédio, tinha curvas, ninguém estava a salvo. A Alemanha, exuberante e sem se acomodar, não deixava de insistir. A Argentina, com seus corsários, não baixava a cabeça: o reputado Schweinsteiger não impressionava Biglia, nem Enzo Pérez se esgotava diante do badalado Kroos. O duelo era sufocante, de alta voltagem, sem tempo para uma piscadela. Com a pulsação disparada, já na prorrogação, quando as cãibras campeavam no gramado, de novo a Argentina teve o céu aos seus pés. Palacios, tendo esse Golias que é Neuer no seu nariz, tentou encobrir o goleiro. O argentino mascou a bola com a tíbia, e ela foi para o vazio. Aí a Argentina se desvaneceu, já com Messi fora de foco.

Com os pênaltis à vista, Schürrle se aventurou pela esquerda, e seu cruzamento caiu aos pés de Götze, que afundou a Argentina inteira –e talvez também Messi, o último grande gênio, o menino de Rosário que até ontem cumpria todos e cada um dos sonhos alvicelestes. Para ele não haverá consolo na Copa. A Alemanha o impediu ao ganhar como nunca: por seu bom futebol e por seu rastro indelével na América. E ganhou em pleno Maracanã, que expressava o seu mal-estar a cada imagem da presidenta Dilma Rousseff. Para o Brasil, a Copa deixa um gosto amargo.

Lahm levanta o troféu no Maracanã.
Lahm levanta o troféu no Maracanã.Natacha Pisarenko (AP)

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_