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Editoriais
São da responsabilidade do editor e transmitem a visão do diário sobre assuntos atuais – tanto nacionais como internacionais

Golpe demolidor

A detenção e o interrogatório de Sarkozy dificultam muito sua volta à primeira linha da política

Em um fato sem precedentes na história republicana francesa, um ex-presidente – Nicolas Sarkozy – foi detido na última segunda-feira em uma unidade da polícia judiciária de Paris para ser interrogado por dois delitos cometidos durante o exercício da mais alta magistratura do Estado: tráfico de influências e violação do segredo de instrução.

Os fatos nos quais está implicado o ex-mandatário combinam atos de extrema gravidade, como espionagem contra a policia e propostas de suborno ao menos a um juiz do Supremo Tribunal, com episódios mais baixos, como a utilização de um celular a nome de um Paul Bismuth imaginário para debochar da vigilância policial e coletar informação de seu advogado — que também usava outro celular encoberto — sobre o desenrolar das investigações judiciais contra ele, por um suposto financiamento irregular da campanha eleitoral que o levou ao Palácio do Eliseu em 2007.

Desde 2012, quando foi derrotado pelo socialista François Hollande, Sarkozy nunca aceitou perder o apoio popular. O político conservador atribuiu o resultado eleitoral adverso à crise econômica e não aos escândalos que mancharam seu mandato, como as acusações de nepotismo ou sua perigosa relação com alguns ditadores africanos, como o líbio Muamar Kadafi – suspeito, precisamente, de financiar sua campanha à presidência. Insensível a esse estado de ânimo, Sarkozy pretendia se converter agora na figura salvadora de um político francês de centro-direita que se vê vencido eleição após eleição — assim como a esquerda — pelo populismo de extrema direita da Frente Nacional. Buscava um regresso triunfal à primeira linha da política aproveitando a queda livre da popularidade de Hollande. E nessa equação, os processos judiciais só pareciam ser um incômodo lançado ao acaso, com mais ou menos sorte.

Mas em um país de arraigada tradição republicana, onde os símbolos têm um significado quase sagrado para o espectro político e para a sociedade, a figura de um ex-presidente interrogado em uma delegacia como um delinquente comum é simplesmente imperdoável. Sarkozy terá que brigar muito para desmontar as acusações que pesam contra ele. E ainda que, pessoalmente, consiga se sair bem disso, a situação vivida na segunda-feira representa um golpe demolidor às suas aspirações políticas.

 

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