_
_
_
_

A Justiça dos EUA impede a Argentina de pagar sua dívida reestruturada

Um juiz de Nova York bloqueia o envio de dinheiro a credores do passivo em estado regular e determina que o Governo de Cristina Fernández entre em acordo primeiro com os fundos abutres

A.R.
Buenos Aires -
Axel Kicillof, ministro da Economia da Argentina.
Axel Kicillof, ministro da Economia da Argentina.Diego Levy (Bloomberg)

A Argentina não poderá pagar na próxima segunda-feira os 539 milhões de dólares (1,19 bilhão de reais) que devia e queria destinar aos credores da dívida reestruturada em 2005 e 2010. No entanto, tem um período de graça até 30 de julho para evitar a suspensão de pagamentos, que seria a segunda neste século, depois da de 2001.

O fato é que o ministro da Economia argentino, Axel Kicillof, tinha anunciado na quinta-feira que o país enviaria aquele dinheiro para arcar com o vencimento da dívida emitida nos EUA, Reino Unido e Japão, apesar da sentença do juiz de Nova York Thomas Griesa que obriga a Argentina a pagar primeiro 1,33 bilhão a três fundos abutres e a outros credores que rejeitaram as trocas de 2005 e 2010, e que continuam reclamando na justiça os papéis não pagos desde 2001.

Griesa determinou na sexta-feira que a Argentina não poderia concretizar o pagamento da dívida reestruturada por considerá-lo “ilegal” e mandou o país negociar com os abutres.

O Governo de Cristina Fernández de Kirchner se nega a pagar os credores litigantes porque teme que se acumulem demandas num total de 15 bilhões dos 7% dos que rejeitaram as trocas, uma soma de dinheiro equivalente a mais da metade das reservas do Banco Central argentino. Mas também quer mostrar que mantém a vontade de pagar os 93% que aceitaram a reestruturação. Por isso, Kicillof anunciou na quinta-feira que enviaria os 539 milhões a esses investidores. Para isso, depositou o dinheiro no mesmo dia nas duas contas que o agente fiduciário da dívida, The Bank of New York, tem no Banco Central do país sul-americano, de tal modo que na segunda-feira chegassem às mãos dos credores da dívida nova. Apesar de alguns peritos especularem que esse dinheiro poderia ser embargado por Griesa para ressarcir os queixosos, de acordo com o estabelecido em sua sentença, outros analistas descartaram essa possibilidade porque os EUA não podem congelar ativos na Argentina e porque tão logo The Bank of New York transfira o dinheiro aos donos de títulos esse montante já lhes pertence, e não mais ao país sul-americano.

A Argentina tem até 30 de julho para evitar a suspensão de pagamentos

A reação dos fundos abutres ao anúncio de Kicillof não se fez esperar. O fundo NML pediu na quinta-feira a Griesa uma audiência para verificar se o pagamento não implicava um desacato à justiça norte-americana. O juiz de Nova York, de 84 anos, aceitou a petição e convocou a reunião para sexta-feira. Ali, Griesa não se referiu a embargo algum, mas, tal como solicitaram os abutres, ordenou a The Bank of New York que não fizesse o pagamento aos credores da dívida reestruturada e que devolvesse o dinheiro ao governo argentino. O advogado do banco norte-americano, presente na audiência, disse que a instituição acataria o que o juiz dissera. Os representantes da Argentina responsabilizaram Griesa, os litigiosos e The Bank of New York pelo não cumprimento do vencimento da dívida nova.

O juiz se queixou de que com esse anúncio de pagamento a Argentina havia interrompido as negociações iniciadas por um mediador designado por ele na segunda-feira. No entanto, Griesa mandou que essas conversações prossigam. “Seria desejável, se for possível, chegar a um acordo.” Mas nem todo o discurso do juiz foi tão suave. Ele também tachou de “explosiva” a decisão da Argentina de expedir o dinheiro. Os advogados do país sul-americano se justificaram dizendo que se não o fizessem os credores da dívida reestruturada poderiam iniciar ações legais.

Agora se abre um período de um mês no qual a Argentina e os abutres discutirão como se executa a sentença. Não está em debate o valor reivindicado, pois a sentença ordena pagar sem reduções como as aceitas pela maioria dos credores em 2005 e 2010. O que se avalia é se Buenos Aires pagará em dinheiro, como determinou o juiz, apesar de o Governo de Cristina considerar impossível assumir isso, ou com títulos públicos, cujos vencimentos ocorrerão nos próximos anos.

O problema enfrentado pela Argentina é que se oferecer aos abutres títulos públicos pelos 100% que reclamam desde 2001, os credores que aceitaram as trocas de 2005 e 2010 também podem exigir o mesmo tratamento, de acordo com uma cláusula de seus bônus. Uma alternativa é que, dada a escassez de divisas de que padece a Argentina e que levou este ano à desvalorização do peso, inflação de 35% e recessão, o país sul-americano consiga financiamento de algum banco de investimentos para pagar à vista os litigantes sem sacrificar suas reservas internacionais. Vários bancos fazem fila para oferecer o dinheiro porque acreditam que, se a Argentina resolver esse caso, as cotações de seus títulos saltarão nos mercados, já o país mantém, além do mais, uma baixa dívida externa com o setor privado, da ordem de 8% do PIB.

Mas enquanto o conflito pelo julgamento se agrava, há províncias argentinas que têm de adiar seus planos de emitir dívida para custear gastos cotidianos. Por sua vez, a Argentina continua acumulando apoios de organismos internacionais e outros países à sua posição porque eles preveem um possível efeito sistêmico com a sentença de Griesa a favor dos que rejeitam as reestruturações de dívidas e apostam na reclamação pela via judicial. Na quinta-feira foi a vez da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), órgão das Nações Unidas.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_