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O gol mais triste de Cristiano Ronaldo

A vitória contra Gana foi inútil para Portugal, cuja eliminação foi selada na derrota por goleada contra a Alemanha, na estreia

Ramon Besa
Cristiano marca um gol contra Gana.
Cristiano marca um gol contra Gana.Jorge Silva (Reuters)

Um abatido Cristiano Ronaldo foi incapaz de classificar Portugal, uma seleção acabada e distante de qualquer possibilidade de golear no Brasil, mas que acabou com as aspirações de Gana. O gol do atacante do Real Madrid propiciou uma vitória honrosa da sua equipe e acabou por condenar o time do técnico Appiah, que com 1 x 1 no placar precisava apenas de mais um gol para se classificar para as oitavas de final da Copa. Mas apareceu CR, para desgraça de Gana e sorte dos EUA.

O pranto final do goleiro Beto, alquebrado pela dor física e da alma, simbolizou a despedida de Portugal, muito prejudicado pelas lesões de Cristiano. Por mais que tenha tentado, o atacante não teve sorte nem precisão no arremate. Por outro lado, o árbitro fechou os olhos sempre que um atacante de Gana caía na área de Beto – inclusive no lance em que Ayew foi derrubado por Bruno Alves.

Não era fácil jogar no sol de Brasília, inclusive porque a classificação de Portugal e Gana passava pelo resultado da partida disputada sob chuva torrencial em Recife. E demorou muito tempo até que surgissem notícias de EUA x Alemanha. O empate em zero colocava ambos nas oitavas-de-final, e assim os goleiros Howard e Neuer tinham uma tarde tranquila.

Nada a ver com a tortura de Dauda, o arqueiro ganense, surpreendido reiteradamente por Boye. O zagueiro arrematou no seu próprio gol com mais acerto que Cristiano Ronaldo. Ao tentar interceptar de joelho um cruzamento de Veloso, a bola descreveu uma parábola e ficou fora do alcance de Dauda. Gana não parecia ter intenção de complicar a vida de Portugal.

A capacidade de autodestruição dos Black Stars, extensiva a várias seleções africanas, prenunciava-se infinita. Aclamados por sua boa partida contra a Alemanha, os atletas de Appiah tornaram impossível a vida do seu treinador e da sua federação, chegando a ameaçar uma greve no jogo contra Portugal se não recebessem antecipadamente os prêmios pela participação na Copa.

Um furgão blindado chegou à concentração de Gana antes do jogo, e cada atleta apanhou um maço de 225.000 dólares. Não se sabe se Muntari e Kevin Prince Boateng receberam, uma vez que haviam sido excluídos – o jogador do Milan por bater num membro da delegação, e o do Shalke 04 por insultar Appiah.

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Autodestruída fora do campo, Gane parecia bucha de canhão para Portugal. Boye se atrapalhou e por alguns momentos atenuou o desespero de Cristiano. O gol lhe havia sido negado três vezes seguidas: arrematou um cruzamento no travessão, e o goleiro espalmou uma boa cabeçada, além de interceptar também uma cobrança de falta do capitão de Portugal. O tendão rotuliano limitava o seu jogo.

Cristiano Ronaldo não está bem, e Portugal é uma seleção desgastada, sem futebol nem jogadores, carente de uma profunda renovação depois da sua saída do Brasil. A incapacidade portuguesa e um gol contra os EUA do alemão Müller – já candidato a artilheiro, com 4 gols – despertaram a irregular Gana, capaz de dar um tiro no pé por causa dos seus conflitos internos e também de protagonizar uma grande partida, como se viu perante a Alemanha.

Os ganeses apertaram, e Gyan empatou, cabeceando no segundo pau um maravilhoso cruzamento de Asamoah pela direita. Aí, por muito pouco não veio o segundo. O capitão desperdiçou o que seria o tento da virada, e o árbitro não viu pênalti em uma falta de Alves. Erráticos na área contrária, os africanos também falharam na sua própria. Dauda rebateu mal uma bola, deixando Cristiano livre para fuzilar. Ele nem comemorou o gol.

Com a partida aberta, houve novas chances, mas o placar não se mexeu. Não deu para Cristiano, tão esforçado quanto errático na definição, atormentado por sua lesão e por sua equipe, que foi uma calamidade, retratada no pranto dilacerador do contundido Beto. A vitória da Alemanha e a classificação dos Estados Unidos foram, afinal de contas, a melhor notícia do grupo, porque foi respeitosa com o futebol das equipes (e com o 4 x 0 com o que a Alemanha condenou Portugal na primeira partida). Diante desse panorama, nada pôde fazer por sua conta e risco o dolorido Cristiano Ronaldo, melhor jogador do mundo em 2013.

CR7 em Copas

  • Três edições disputadas: Alemanha-2006 (tinha 21 anos e foi eleito o melhor jogador jovem), África do Sul-2010 e Brasil-2014.
  • 13 jogos: 5 vitórias, 4 empates e 4 derrotas.
  • 1. 202 minutos.
  • 3 gols marcados: No Brasil-2014, marcou o último gol de Portugal 2 x 1 Gana, aos 35 do segundo tempo; Na África do Sul-2010, fechou de pênalti a goleada (7 x 0) sobre a Coreia do Norte, aos 42 do segundo tempo; Na Alemanha 2006, fez de pênalti o segundo gol de Portugal 2 x 0 Irã, aos 35 do segundo tempo.
  • 2 cartões amarelos

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