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Os uruguaios defendem com unanimidade o seu herói amaldiçoado

O presidente José Mujica diz sobre Luis Suárez: “Eu não vi ele morder ninguém”

Luis Suárez após de morder Chiellini. / TONY GENTILE (REUTERS)
Luis Suárez após de morder Chiellini. / TONY GENTILE (REUTERS)

Milhares de uruguaios voltaram a passar o dia falando de seu herói Luis Suárez, após uma bela vitória contra a Itália que ficou marcada por uma mordida já escrita na história das Copas do Mundo. A operação de menisco do atacante do Liverpool já tinha sido objeto das preocupações da torcida celeste, que agora volta a ver cair seu herói, artífice da vitória contra a Inglaterra que abriu o caminho da seleção para as oitavas de final.

Desde terça-feira, os 3,2 milhões de habitantes desta nação apaixonada por futebol se sentem protagonistas de um drama épico de repercussão mundial – a maioria firme na defesa do jogador nascido na cidade de Salto. O presidente José Mujica resumiu o sentimento geral: “Eu não vi Luis Suárez morder ninguém”, afirmou, durante uma visita ao departamento de Florida, no sul do país. “Ele leva cada chute e cada rasteira, e sempre banca tudo”, acrescentou o mandatário, convencido de que existe uma “campanha” contra o jogador. “Não o escolhemos para ser filósofo, nem mecânico, nem para ter bons modos. É um excelente jogador”, concluiu Mujica.

A maioria dos uruguaios se mostrou claramente contra qualquer sanção contra a estrela da seleção, mas foram criados vários grupos de opinião com diferentes abordagens do assunto.

Mujica parece ter se unido à turma dos “negadores” (muito numerosa), que insistem em que não houve mordida alguma. O interessante dessa teoria são as insólitas explicações sobre como os dentes de Suárez chegaram ao ombro do italiano Chiellini. Quando a lógica se esgota, a resposta é a mesma dada pela AUF (a Associação Uruguaia de Futebol) à comissão disciplinar da FIFA, na quarta-feira, afirmando que não existem provas da agressão.

Em um documento de 17 páginas que deveria ficar guardado para ser objeto de estudo para futuras gerações, os três representantes do Uruguai no processo disseram: “Possuímos imagens de uma possível lesão que Chiellini tinha naquela área do ombro esquerdo. Por isso, pedimos um relatório de um legista para saber se as imagens que surgiram depois da partida contra o Uruguai correspondem ou não a uma lesão adquirida no jogo ou se o jogador italiano já não tinha uma lesão ali”. O primeiro relatório legista por mordida na história de um Mundial?

No segundo grupo, o mais numeroso, estão aqueles que aceitam a mordida e a condenam, mas consideram desproporcional qualquer sanção por parte da FIFA. Recorrem a psicólogos para justificar Suárez, apresentado como o protótipo do gênio perturbado por alguma disfunção interna que o impede de controlar seus maxilares. Naturalmente, o trauma tem origens familiares: “A propensão a morder seus rivais é uma conduta reativa e reiterada, não adaptativa”, afirmou da maneira mais séria possível o psicólogo do esporte Carlos Ferrés à imprensa uruguaia, na quarta-feira.

Há ainda um terceiro bando, em clara minoria, que celebra Suárez como “o paradigma da masculinidade esportiva”, segundo disse ao EL PAÍS um torcedor de Montevidéu. É nesse grupo que se pode situar o ex-capitão da Celeste Diego Lugano, que declarou sobre Chiellini: “Como homem, ele me decepcionou totalmente. Eu o admirava”. E acrescentou: “Não é normal no futebol italiano que um atleta abandone o campo chorando e acusando um rival”.

Diante desse quadro, a torcida da Celeste teme perder Suárez antes do jogo contra a Colômbia, no próximo sábado. Uma suspensão seria uma catástrofe nacional vivida como uma enorme injustiça. A Copa do Brasil não poderia oferecer emoções mais fortes aos uruguaios: presentes nas oitavas de final depois de eliminar a Inglaterra e a Itália, armados com grandes jogadores como Diego Godín, Edinson Cavani e agora um Luis Suárez transformado em herói amaldiçoado.

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