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Neymar faz tudo

O futebol criativo do atacante dá um novo frescor ao Brasil, que enfrentará o Chile nas oitavas

Ladislao J. Moñino
Neymar comemora um dos seus gols contra Camarões.
Neymar comemora um dos seus gols contra Camarões.F. X. M. (AFP)

Se havia por acaso alguma dúvida de que o Brasil até agora é Neymar, o jogo contra Camarões a dissipou totalmente. A seleção anfitriã se classificou como primeira do Grupo A e agora enfrentará o Chile nas oitavas de final, mas, em alguns momentos de um confronto contra um adversário que lutava apenas por um regresso honroso ao seu país, o time deixou no ar resquícios de sua vulnerabilidade e dos problemas no seu jogo. A única certeza do Brasil é que Neymar está disposto e preparado para liderar o caminho até o título mundial, valendo-se para isso do seu fantasioso futebol libertino, mas que também produz gols. Com um repertório de arabescos trazido da rua para o futebol profissional, o 10 do Brasil honrou o nome do estádio Mané Garrincha. Como o famoso ponta-direita, Neymar foi a alegria do povo, que várias vezes gritou seu nome em coro. A adoração maciça é um sintoma a mais dessa dependência. Em alguns momentos, dava a sensação de que a torcida tentava empurrar o seu jogador-fetiche, e não uma seleção inteira.

O Brasil está viciado no seu astro, no jogador que mais e melhor atua como elo com um passado que fez do Brasil um nome mítico com a bola nos pés. Neymar se divertiu com ela, mas também foi eficaz quando precisou perfurar a meta adversária. Por causa da escassez de jogo ao seu redor, o atacante precisa jogar como 7 e como 11. Assim, desde o começo da Copa, se tornou um 10 para toda obra. Joga, dribla, tabela, bate faltas e marca gols.

Pela primeira vez, o Brasil começou jogando com a formação da Copa das Confederações. Reapareceu a marcação forte, e Camarões enfrentou uma ofensiva inicial com jogadas rápidas e efervescentes. Duas bolas longas para Hulk e Neymar bastaram para provar que a seleção africana tinha uma defesa deficiente. Fred e Luiz Gustavo estiveram prestes a abrir o placar, graças a esse assédio precoce, que incendiou a arquibancada.

O primeiro gol, logo depois dos 15 minutos, deixou entrever que Camarões seria uma seleção reduzida à metade. Atacava com alegria e descaramento, mas defendia sem nenhum rigor em todos os setores. Nyom fez um passe errado ao sair jogando, Marcelo e Luiz Gustavo se somaram para o desarme, e veio o contragolpe. O cruzamento rasante do volante, pela esquerda, foi desviado por Neymar com um giro de tornozelo perfeito. Os dois zagueiros camaroneses deixaram um clarão no gramado imperdoável e assistiram à prodigiosa abertura do pé de Neymar para direcionar a bola.

Foi com essa primeira vantagem no placar que o Brasil deixou entreabertas as dúvidas que levará para as fases eliminatórias. De repente, Nguemo, Choupo Moting, Aboubakar e Enoh começaram a invadir a área de Julio César. Chegavam quase sempre com tabelas antecedidas por mudanças de ritmo, nos quais sobretudo Alves e Marcelo sofriam. Matip deu o aviso com uma cabeçada que bateu no travessão, antes de finalizar à vontade numa jogada em que Alves voltou a ser superado por Nyom. Também Thiago Silva e David Luiz sofreram muito em cada cruzamento ou cobrança de escanteio pelo alto. Essa falta de contundência da dupla de zaga chamou a atenção, já que até agora esse era um dos pilares mais sólidos do time de Scolari.

Com seus arabescos, o astro do Barça fez jus ao nome do estádio: Mané Garrincha

No meio desse desconcerto e da inquietação que embargava o treinador no banco, surgiu novamente Neymar. Outra vez uma roubada de bola e um contra-ataque, o cenário em que melhor joga este Brasil. Neymar conduziu de dentro para fora e da meia-lua chutou rasteiro e no centro. A má intuição de Itandje transformou o arremate em uma espécie de pênalti. O goleiro camaronês chegou atrasado ao seu canto esquerdo.

O quarto gol de Neymar na competição acabou por desarticular Camarões, que a partir de então pouco perigo levou. Foi devorado por outra saída avassaladora do Brasil no segundo tempo – de novo, liderada pelo jogador do Barcelona, que seguiu com a sua demonstração de jogadas preciosas. Foi muito significativa a mudança feita por Scolari no intervalo. Deixou Paulinho no banco para dar lugar a Fernandinho. O volante do Manchester City deu sinais ao treinador de que é agora um jogador mais assentado do que Paulinho, que foi lento, atrapalhado com a bola, e perdeu várias jogadas que acabaram por condená-lo. Enfrentando escassa resistência, até Fred marcou. Foi de cabeça, sem ninguém que o marcasse no segundo pau.

Camarões já não voltava correndo para a defesa, e Scolari optou por poupar Neymar e Hulk, que haviam levado cartões. Fernandinho fechou a conta contra um rival que, no segundo tempo, foi anulado, sem conseguir representar um verdadeiro teste para o nível do Brasil. A única certeza é que Neymar está aí para fazer de tudo.

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