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O novo czar da economia chavista

Com a queda de Jorge Giordani, o ministro do Petróleo, Rafael Ramírez, se torna o homem mais poderoso da Venezuela

Rafael Ramírez, vice-presidente da área econômica da Venezuela.
Rafael Ramírez, vice-presidente da área econômica da Venezuela.M. K. (Bloomberg)

Com a saída do economista Jorge Giordani do gabinete de Nicolás Maduro, Rafael Ramírez se tornou o ministro que mais tempo permaneceu no gabinete chavista em uma década e meia. Nomeado por Nicolás Maduro como vice-presidente da Área Econômica, Ramírez, além disso, é desde 2004 presidente da companhia estatal Petróleos da Venezuela (PDVSA), responsável pela arrecadação de 96% das divisas do país, e ministro do Petróleo e Mineração desde 2002. Em torno dele se concentra um poder que nunca antes nenhum funcionário deteve na Venezuela.

A cabeça degolada de Giordani manda muitas mensagens. Há muitos modos de interpretar o legado de Hugo Chávez. Na interpretação de Ramírez, não se pode ignorar ou minimizar a contribuição do setor privado para a economia, como pretendiam as políticas impulsionadas por Giordani, que Chávez adotou como suas a partir de 2010, ao liquidar o mercado de capitais e fortalecer o peso do Estado. A morte de Chávez, em março de 2013, fez com que cada um dos seus mais estreitos colaboradores passasse a trabalhar de acordo com sua visão e buscasse impô-la. No setor petroleiro, Ramírez convenceu Maduro de que seria preciso procurar financiamento para incrementar a produção petroleira, a única forma de manter o elevado gasto social – chave para a longa permanência do chavismo no poder. No ano passado, Ramírez obteve empréstimos de dez bilhões de dólares das empresas National Petroleum Corporation (CNPC), Rosneft, Chevron, Gazprombank e Schlumberger para realizar diferentes projetos.

Ramírez, diz o jornalista venezuelano Juan Carlos Zapata, é crucial para Maduro porque possui as conexões no cenário internacional necessárias para oxigenar as arcas públicas e manter um governo debilitado por sua minguada popularidade. Não é a primeira vez que Ramírez, engenheiro mecânico formado em 1989 na Universidade dos Andes, com mestrados em Estudos Energéticos na Universidade Central da Venezuela, demonstra sua solidariedade com um presidente em momentos de crise.

Ramírez foi uma peça irremovível durante o Governo de Chávez

Durante a greve da indústria petroleira entre dezembro de 2002 e fevereiro de 2003, ele ajudou o Governo Chávez a lidar com a crise, impondo duros golpes contra a equipe que na época dirigia o coração tecnológico da petroleira. Desde então, ele foi uma peça irremovível do gabinete, apesar de alguns escândalos ocorridos durante sua longa gestão: a descoberta de mantimentos básicos apodrecidos que foram importados pela Produtora e Distribuidora Venezuelana de Mantimentos (Pdval), uma filial da PDVSA, e a apreensão em um aeroporto da Argentina, em 2007, de uma maleta com 800.000 dólares pertencentes à estatal petroleira venezuelana e destinados a financiar a campanha presidencial da então candidata Cristina Fernández de Kirchner. Em todos esses casos caíram seus subordinados, mas ele se manteve firme. As marolas da investigação jamais o afetaram.

Desses contatos não poderia se gabar Giordani, um velho professor da Universidade Central da Venezuela, com fama de honesto e casado com suas ideias marxistas. Só Ramírez, um conhecedor das perspectivas do negócio petroleiro, tem dentro do chavismo a capacidade de viajar pelo mundo para passar tranquilidade aos mercados. Na semana passada esteve em Londres, onde garantiu que a Venezuela em curto prazo unificaria seu sistema cambial, num esforço por eliminar as distorções da sua economia, em torno de 15% do PIB. Na época de Chávez, esses anúncios jamais seriam feitos por um ministro.

Há quem note nessa conduta os primeiros sinais de um projeto próprio. O artigo de Giordani aponta nessa direção. Em silêncio, Ramírez foi se tornando um polo de poder que poucos levaram em conta quando traçaram os cenários posteriores à morte de Hugo Chávez. Hoje, o presidente da PDVSA não só tem nome próprio dentro do chavismo. A partir desta semana, será preciso dizer que, na Venezuela, o poderoso presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabelo, não é mais o único candidato à sucessão de Maduro.

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