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O México desbota o Brasil

A seleção tricolor arranca um empate com um grande jogo coletivo e o goleiro Ochoa como destaque

Ladislao J. Moñino
Guillermo Ochoa pára um arremate de Thiago.
Guillermo Ochoa pára um arremate de Thiago.MIKE BLAKE (REUTERS)

As ruas lotadas por uma população multirracial. Mulatos, brancos e negros bebendo cerveja em quiosques onde ecoa o samba e o pagode. Uma gigantesca bandeira do Brasil pendurada no guindaste de uma obra. Um estádio que canta entusiasmado o hino a cappella para uma seleção que veste as suas cores tradicionais: camisa amarela, calção azul e meias brancas. Cores que sempre evocam lembranças de fantasia nas Copas. Mas, em campo, o Brasil não foi o Brasil e empatou sem gols contra uma seleção mexicana robusta, bem posicionada, com ideias claras ao ter a posse de bola e um goleiro, Guillermo Ochoa, que deu um show de reflexos quando foi exigido.

O Brasil foi esse sucedâneo desbotado, musculoso e fabril, sustentado pelo resultadismo, por aquela conquista da Copa dos EUA de 94, que acabou por enterrar o futebol-arte. Por mais que vença jogando assim, esse futebol quase sem jogadores virtuosos em seu elenco é um manifesto contra a sua tradição e contra a alegria de seu povo, contra os craques que fazem a delícia dos turistas em qualquer espaço onde se juntem, nas ruas e nas praias.

Por alguns momentos, o México chegou a sacudir a seleção de Scolari, incapaz de armar o jogo a partir de uma escalação em que só cabem os talentos de Neymar e Oscar como representantes de outros tempos, de um Brasil mais romântico, genuíno e divertido. Nas poucas vezes em que Neymar pôde dançar com a bola ele dignificou a história, mas não foi suficiente. Outra característica do Brasil, os laterais, não chega a ser definitiva. Nem Daniel Alves nem Marcelo parecem passar por seu melhor momento. Tentam e de vez em quando avançam, mas não chegam a se impor.

Deu certo desgosto no primeiro tempo ver a dificuldade da criação de jogo com Luiz Gustavo, Paulinho e Ramires, um tridente defensivo dissimulado. Nesse primeiro tempo sombrio, os brasileiros só conseguiram gerar perigo a partir de jogadas primárias. Primeiro num cruzamento de Alves, no qual Neymar voou sobre Márquez para conectar uma cabeçada certeira e à meia altura, que trouxe Pelé à memória. Ochoa respondeu à testada com uma mão prodigiosa. A segunda ocasião clara veio de uma jogada de estratégia, matada no peito por Thiago Silva para David Luiz, em que Ochoa fechou bem o ângulo para tampar o arremate do zagueiro. Sua atuação foi memorável, com outras duas intervenções salvadoras quando o Brasil atacava desesperadamente, numa alvoroçada ofensiva final. Neymar voltou a parar no goleiro em outro cruzamento, e Thiago Silva também se topou com o peito do inspirado Ochoa em uma cabeçada à queima-roupa.

Isso foi o máximo que o Brasil pôde criar, submetido que estava pela pressão e pelo ritmo intenso do México, que jogou sem complexos e com simplicidade. Em meio dos industriais meias brasileiros apareceu Vázquez, um armador leve e baixinho, que governou a partida com tanta simplicidade como acuidade no passe. Dele a bola partia em circuitos que potencializavam Aguilar e Herrera na direita e Layun e Guardado na esquerda. Herrera e Vázquez testaram Julio César de longe várias vezes, favorecidos pela mobilidade de Peralta e Giovani dos Santos. A atividade da dupla de ataque mexicana foi admirável, no trabalho discreto e na busca dos espaços. Sempre foram uma ameaça que manteve Thiago Silva e David Luiz ocupados.

Na outra área, Márquez deu uma lição de colocação e têmpera, bem escoltado por Héctor Moreno e Maza Rodríguez. Essa defesa de três zagueiros sepultou Fred e foi um muro para Neymar sempre que ele tentou superá-la com arrancadas individuais. Scolari, que colocou algo mais de futebol quando permitiu a entrada de Bernard no lugar de Ramires, após o intervalo, levantou os polegares festejando o empate. Chicharito e Raúl Jiménez, já nos descontos, colocaram o Brasil à beira de uma derrota que teria gerado um terremoto.

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