_
_
_
_

A Espanha contra a vertigem

O grupo de Del Bosque não combina com a pirotecnia, mas sente que tem de dar uma resposta impactante

José Sámano
Vicente del Bosque, durante um treino em Curitiba.
Vicente del Bosque, durante um treino em Curitiba.alejandro ruesga

A seleção espanhola se encontra na situação mais drástica e abismal de sua fase de sucesso. Os campeões também se defrontam com a vertigem, e La Roja debate nestes dias consigo mesma depois da hecatombe com a Holanda. Diante do Chile a Espanha continuará toureando como sempre, ou fará investidas como nunca? Fruto da ansiedade, uma repentina mudança de padrão deixaria a equipe em uma situação de risco, em desequilíbrio perante o desconhecido. Essa equipe de suprema moderação jamais se pôs à prova na combustão, e isso poderia se tornar ortopédico, estrepitoso. O grupo espanhol nunca se deparou com a pirotecnia, mas contra o Chile sente que tem de dar uma resposta contundente e impactante, o que o pode levar a uma perigosa falta de comedimento, à desordem vista depois do segundo gol da Holanda. Um dilema mental que a Espanha terá que resolver com tentativas, com a máxima de que o terceiro gol não chega antes do primeiro. Não há necessidade de imolar-se, por mais que a estocada holandesa tenha chegado ao osso.

Em suas entranhas, os espanhóis, que ontem no meio da tarde viajaram para o Rio de Janeiro, sabem que uma simples vitória contra o Chile amanhã no Maracanã pode ser estéril, ao mesmo tempo que causa angústia um fracasso que faça encerrar um ciclo celestial sem a dignidade merecida. A Espanha luta tanto por uma classificação muito intrincada quanto por uma despedida em conformidade com sua trajetória nos últimos tempos. Nenhuma das duas questões será fácil, mas a passagem pelo topo durante seis anos convida a pensar na conveniência de fortalecer as certezas antes de propor uma cirurgia extrema. É aí onde Vicente del Bosque terá que agir, ele que nunca foi um radical, mas um homem equilibrado, nada propenso ao populismo.

Diante dos chilenos seria uma surpresa maiúscula que o técnico revolucionasse a escalação. É previsível, como é lógico, que haja retoques, com Javi Martínez, Koke e Pedro escalados como titulares para revigorar e dar energia ao conjunto. Na intervenção de Del Bosque será preciso ver a reação na concentração. Quem quer que saia da equipe será um peso-pesado, porque quase todos tomaram parte na funesta partida inicial. O treinador insistiu que ninguém deve sentir-se na mira, mas em seu íntimo ele sabe que isso será inevitável. Ao conhecer a escalação alguém terá que responder com a grandeza da estrela que leva ao peito e deverá fazê-lo com total generosidade. É bem provável que para quem se veja jogado no banco seja sua última participação na equipe, e que em seus planos não figurava um adeus em uma tristíssima, indesejável e desagradável partida final contra a Austrália. Sem umbiguismo, depende de todos, titulares e reservas, o sonho de que as oitavas contra o Brasil se tornem realidade. Nada melhor para tentar estancar a confusão da sexta-feira passada ou até para pôr o ponto final à grande trajetória do futebol espanhol.

No Chile se vê um adversário de corpo inteiro, mas se a Espanha recupera sua constância deve sair-se galantemente. Sem alardes, no primeiro tempo contra a Holanda deixou parte de seu rastro. Mas coisa diferente será conseguir fazer os gols necessários para obter a classificação. O futebol não é uma ciência, é rebelde, e nas análises prévias só resta agarrar-se, ainda que seja com alfinetes, aos antecedentes. Nem em sua trajetória no topo a Espanha deus aulas de como golear, e em sua grande aventura somente deslanchou contra a Rússia na Eurocopa de 2008 e contra uma Itália de dez jogadores na final do mesmo torneio quatro anos depois. Em ambos os casos, o fez à sua maneira, com sua equipe à frente. É a receita que melhor conhece. E diante de um precipício, como se encontra a Espanha, nada é mais intrépido que ser a Espanha pré-Holanda.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_