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Um centroavante longe da bola

Diego Costa mostra deficiências no jogo coletivo e pode ir para o banco

Diego Costa, durante um treinamento em Curitiba.
Diego Costa, durante um treinamento em Curitiba.ALEJANDRO RUESGA

Vicente del Bosque não teve certeza de que Diego Costa iria à Copa do Mundo até que a Espanha jogou contra El Salvador, no sábado passado. Ele começou a suspeitar quando Xabi Alonso deu dois passes longos, ao mais puro estilo de um quarterback da NFL, nas costas dos zagueiros salvadorenhos, e o sergipano brigou por elas sem levar a mão à coxa. Quando, aos 28 minutos do segundo tempo, Xavi entrou em campo e o atacante chegou ao banco com cara de alívio, com os fantasmas das dores musculares do fim da temporada espantados, Del Bosque percebeu que a federação poderia dar férias definitivas a Deulofeu: Costa iria jogar no Brasil.

Acabaram, assim, seis meses de incertezas que passaram pela dúvida, mais do que razoável, de que além da lesão, o jogador do Atlético de Madri poderia ter recebido uma ligação de última hora de Luiz Felipe Scolari, o técnico brasileiro, apesar de ter assinado uma carta pedindo para não ser convocado para a Seleção. Del Bosque não tinha todas as certezas. Mas, finalmente, Costa está no Brasil vestido de vermelho, ansioso para que a Copa comece, mais integrado ao grupo do que ao esquema tático, mais cômodo com as brincadeiras do que com os treinamentos com bola, buscando lugar em um time que tende a jogar sem um atacante de referência.

Del Bosque só teve certeza da presença de Costa na Copa depois do amistoso de sábado

O certo é que Costa mostrou suas carências no jogo coletivo e, contra a Holanda de Van Gaal, que esperará a Espanha com cinco jogadores na defesa, não está claro se Del Bosque preferirá um jogador que desafogue o centro de ataque e busque o passe antes de transformar a área em uma multidão de pernas. Pela cabeça do treinador passa, com certeza, o que Milijan Miljanic, então seu treinador no Real Madrid, costumava dizer a Roberto Martínez, um argentino do Real que também fez carreira no Espanyol. "Você, fique longe da bola, da jogada, e concentre-se nas finalizações". Roberto Martínez, um atacante alto, de meias sempre baixas e pernas quilométricas que lhe deram o apelido de Pipi Calzaslargas (personagem sueco que adquiriu esse nome na Espanha pelo aspecto, de pernas longas), tentava participar mais do jogo, mas a técnica não era sua melhor qualidade. As finalizações e a luta sem trégua diante do gol adversário, sim.

Por enquanto, Costa tenta se adaptar, tanto à equipe quanto a seus compatriotas. "Felipão nunca me chamou", alegou Costa em entrevista à Globo, na única exclusiva que concedeu até agora e, ao que parece, na única que dará durante a Copa, segundo já avisou o departamento de imprensa da Federação Espanhola. Nessa mesma entrevista, deixou uma coisa clara: "Sou brasileiro, sempre serei brasileiro e mantenho os costumes de um brasileiro, mas quero ganhar a Copa com a Espanha". Dias antes, ainda em Washington, ele reprovou a ideia do diário AS de posar para uma foto com uma bandeira da Espanha.

Del Bosque, com Diego Costa, Iniesta e Javi Martínez.
Del Bosque, com Diego Costa, Iniesta e Javi Martínez.LLUIS GENE (AFP)

"Meus pais estão felizes por me verem com a Espanha na Copa, porque eu fico mais perto de casa", disse Costa na terça-feira, quando deu entrevista coletiva ao lado de Busquets. "Muita gente aqui entendeu minha decisão e me trata de maneira especial", insiste o jogador, quase desconhecido da torcida local, a ponto de Del Bosque ter de explicar quem é ele. "Não é de se estranhar que na Espanha ele seja mais conhecido, porque a formação dele foi ali, onde ele já joga há muitos anos. É um garoto com personalidade, ajuda muito a equipe e teve méritos suficientes para estar aqui conosco", disse o técnico espanhol.

"Prefiro ter a Costa do meu lado, em campo e, especialmente, na concentração", afirma o treinador. "Tínhamos muito boas referências dele e elas se confirmaram", disse Busquets. "Eu já o conhecia. O único problema que ele poderia ter era físico, mas, sinceramente, noto que ele está bem. Caso contrário, ele seria o primeiro a avisar o treinador", acrescentou.

Costa tornou-se amigo inseparável de Sergio Ramos, com quem já havia se estranhado, mas que agora considera um irmão. É normal que, no fim dos treinamentos, eles se desafiem para ver qual dos dois acerta mais bolas no travessão, desde o meio-campo. Ramos sempre vence.

Costa tem 163 minutos jogados com a seleção da Espanha e ainda não marcou gols. "Os gols chegarão na Copa", disse, depois de quase marcar contra El Salvador. O que não está muito claro é se ele será titular. Ele disputa posição com Fernando Torres e David Villa, que tem certeza de que o companheiro de Atlético poderá ajudar muito. "Ele fez uma grande temporada. É diferente de todos que estamos aqui. Tem ótima finalização e muita vontade. Também tem uma fome enorme para construir seu nome no futebol e por ser um jogador lendário". Palavra do "Guaje".

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