A Croácia aposta na arte
Modric e Rakitic opõem hoje seu jogo elegante ao estilo industrial da Canarinha de Scolari
Embora a Croácia não figure como candidata para ganhar a Copa, a maioria dos rivais prefere não cruzar com ela, um mau inimigo em campo e, de outro lado, uma equipe habitualmente grata ao espectador que, satisfeito com jogadores como Modric e Rakitic, vai ao estádio pelo prazer de desfrutar de uma partida de futebol. Curiosamente, enquanto o Brasil, o berço da arte, confirma seu espírito industrial, a Croácia pega o pincel e desenha com seus dois meio-campistas sobre um lenço verde. A abertura da Copa do Mundo tem, no mínimo, um ar pedagógico.
Imprevisíveis como equipe, os croatas reúnem hoje uma geração de jogadores que evoca os tempos de Suker, Boban, Prosinecki e Jarni e aspiram a protagonizar uma Copa parecida com a que os levou às semifinais de 1998 contra a França.
Modric tem sido um jogador decisivo no Real Madrid campeão da Europa. A saída de Özil propiciou, de certo modo, o reencontro com o meio-campista que fez sucesso no Tottenham. Modric subiu na hierarquia depois de atrasar sua posição no campo, e a oferta ofensiva do Real Madrid cresceu ao mesmo tempo que melhorava o controle do jogo.
Jogador aplicado, decisivo na intermediária, bom na hora de definir os passes, Modric sabe como atravessar o campo rival e tem um bom chute de meia distância. Ancelotti soube encontrar-lhe o lugar que Mourinho não conseguiu. A torcida já não pergunta pelos 44 milhões de euros (132,8 milhões de reais) que Florentino Pérez pagou em 2012. “Não foi um problema de jogo sem resultados”, desculpa-se Modric quando lhe perguntam sobre sua demorada explosão em Chamartín.
Queremos ter a bola e o Brasil fará bem em não nos subestimar" Luka Modric
Com 28 anos, já sem a clássica cabeleira, aspira agora a liderar uma seleção pela qual disputou 75 partidas e marcou oito gols. “O Brasil fará bem em não nos subestimar”, argumenta. “Sempre jogamos bem nas grandes competições, e esperamos que a Copa do Brasil não seja uma exceção. “Que os brasileiros não me levem a mal”, prossegue Modric, “mas queremos ter a posse da bola para controlar a partida, por mais difícil ou impossível que isso possa parecer. Não pensamos em como defender, mas em atacar. Queremos que nos respeitem”.
Técnico e fortalecido fisicamente na Premier League, Modric se apresenta como um diretor de jogo moderno, com uma boa leitura e visão de jogo, muito mais solto graças à boa temporada que fez pelo Real Madrid. Inclusive seu tímido sorriso está mais largo em São Paulo. “Não temos pressão”, diz, “exatamente o contrário do Brasil”.
Ao seu lado, está um jogador igualmente cotado depois de uma temporada de sucesso com o Sevilha. Eleito como o melhor jogador da Liga Europa, Rakitic certamente passará a formar parte da seleta linha de meio-campistas do Barcelona. Tem um grande repertório, muito dinamismo e um excelente chute: marcou 15 gols, 12 na Liga, e fez 10 assistências, números melhores inclusive que os de Neymar (14 e 8), seu rival de hoje na abertura da Copa. A precisão é uma de suas melhores qualidades agora que completou 26 anos. O bom físico o ajuda a se desdobrar pelo campo, pode jogar no meio ou caindo pelos lados, e combina bem passes curtos e longos.
Admirador de Prosinecki, Rakitic quis ser um arquiteto suíço antes de acabar sendo um jogador croata. Nascido na cidade de Möhlin e formado no Basel e no Schalke 04, já completou 60 partidas com a Croácia. “Meu coração, meus pais, meus amigos, todos são croatas”, afirma.
Rakitic e Modric serão jogadores fundamentais na equipe capitaneada pelo inesgotável Srna, 113 partidas com a seleção, ídolo do Shakthar Donetsk. Apesar de que não poderá contar de saída com Mandzukic por sanção, o centroavante que pediu para sair do Bayern de Munique, porque não se adaptou ao estilo de jogo de Pep Guardiola, a Croácia dispõe de excelentes jogadores como Eduardo, nascido no Rio de Janeiro. A sanção de 10 partidas a Simunic por um gesto fascista lhe privou de disputar a Copa e deixou a Croácia com uma defesa ainda mais limitada. Não é estranho que Modric afirme que irão atacar: “Para cima deles!”. O Brasil não mudará sua maneira de jogar.
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