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Octavio Paz, o poeta e pensador da liberdade

Vargas Llosa, Felipe González, Savater, Edwards e Krauze prestam homenagem ao escritor em seu centenário

Homenagem a Octavio Paz com a presença de Rafael Tovar, Enrique Krauze, Mario Vargas Llosa, Felipe González, Jorge Edwards e Fermando Savater.
Homenagem a Octavio Paz com a presença de Rafael Tovar, Enrique Krauze, Mario Vargas Llosa, Felipe González, Jorge Edwards e Fermando Savater.LUIS SEVILLANO

Por trás do nome de Octavio Paz está a poesia. À frente, suas poesias, críticas, paixões, pensamentos, ideais de liberdade e democracia, reflexões sobre o passado e seus efeitos no presente e no futuro. Seu olhar oscilante sobre o tempo povoado de seres como ele, pessoas, simplesmente pessoas organizadas em sociedade para viver e se desenvolver. E, mais adiante, as palavras sobre ele, como as pronunciadas ontem por escritores como Mario Vargas Llosa e Jorge Edwards, filósofos e escritores como Fernando Savater, ensaístas como Enrique Krauze e políticos como Felipe González.

Cinco expoentes da cultura e da política contemporânea dos países de língua espanhola reuniram-se para homenagear o escritor mexicano no centenário de seu nascimento (31 de março de 1914 – 19 de abril de 1998) durante o colóquio Século XXI, a experiência da liberdade. Homenagem a Octavio Paz, realizado na Casa da América em Madri. O evento foi organizado pelo Conselho Nacional para a Cultura e as Artes, Conaculta, em parceria com a embaixada do México e outras instituições mexicanas.

A marca que deixou em nosso tempo, segundo esses expoentes, é a difusão e a defesa da cultura e da liberdade, bem como seu mal-estar com relação ao totalitarismo. “Foi um pensador avesso a estereótipos, que questionou todas as formas de conformismo”, afirmou Vargas Llosa. O ganhador peruano do prêmio Nobel e Krauze enfatizaram que Paz viveu além de seu tempo. Soube ver o que ocorreria com o pós-comunismo, enquanto, sob sua direção, revistas como Plural e Vuelta receberam lufada de ideias e necessidades democráticas. “Ele transcendia seu tempo e suas ideias eram de uma atualidade feroz. Um progressista”, acrescentou González.

Agradeceram e falaram sobre a figura pessoal, artística e intelectual de Paz, e sobre como foram influenciados por ele. Falaram de sua passagem pela Espanha. De sua clareza ao escrever e expressar o difícil de maneira simples, o que foi, segundo Savater, “sua grande cortesia”. Isso permitiu a ele exercer o trabalho pedagógico de convencer as pessoas a pensar. Um dinamizador cultural, “como um redemoinho que não deixa estancar a água da cultura”.

"Suas ideias são de uma atualidade feroz”, afirmou o ex-premiê

Falaram do Octavio Paz afilhado de Voltaire, filho de família espanhola, pelo lado materno, e de indígenas mexicanos, pelo lado paterno, que ganhou o Nobel de Literatura em 1990. E do grande leitor. E do tradutor. Um homem para o qual tudo estava carregado de poesia e todas as artes se interligavam por fios poéticos. “Sempre me interessou, e mais, me fascinou, a experimentação e a exploração de formas e territórios poéticos pouco conhecidos, novos”, disse em uma conferência em 1975.

Paz, exaltado, ensimesmado, como no primeiro dia em vários temas sobre os quais discorreu em ensaios diversos: arte, política, antropologia, literatura, história, poder-autoridade e, claro, México e os mexicanos. Muitos de seus versos e análises comentados na Casa da América estão polvilhados de México, de suas raízes e sementes. O jovem Octavio Paz, que estreou aos 19 anos em 1933 com Lua Silvestre, e encerrou a carreira em 1995, transformado em figura tutelar com o ensaio Vislumbres da Índia. E entre a primeira e a última, obras como À Margem do Mundo, Liberdade sob Palavra... E ensaios: O Labirinto da Solidão, O Arco e a Lira, O Ogro

“Sua grande cortesia” era falar de coisas difíceis de maneira simples, diz Savater

Filantrópico, Sóror Juana Inés de la Cruz ou as Armadilhas da Fé...

Um Octavio Paz que também fazia uma crítica da cultura e da sociedade: “Uma das heterodoxias do mundo moderno, há séculos, tem sido a poesia. A poesia e a arte sucessivamente expulsas e, depois, hipocritamente consagradas pelos poderes sociais. Outra transgressão das sociedades modernas tem sido o amor. Ambos, amor e poesia, são experiências não produtivas, são antiprodutivas, foram e continuam sendo negações do mundo moderno”.

Mito e lenda em vida, Paz foi um feliz aprendiz entre os mortais. Como seu poema La calle (“A rua”), no qual recria sua curiosidade, sua busca e seu estar no mundo: “É uma rua longa e silenciosa./ Ando no escuro e tropeço e caio / e me levanto e piso com pés cegos / as pedras mudas e as folhas secas / e alguém atrás de mim também as pisa: / se me detenho, se detém; / se corro, corre. / Volto o rosto: ninguém. / Tudo está escuro e sem saída,/ e dou voltas e voltas em esquinas / que levam sempre à rua /onde ninguém me espera nem me segue, / onde eu sigo um homem que tropeça / e se levanta e, ao me ver, diz: ninguém”.

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