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Coluna
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Dias de ira

Os fins nunca justificam os meios: as reivindicações de trabalhadores não podem sequestrar os direitos da sociedade

Espantado com o acúmulo de brutalidades? Quer entender o que está se passando na terra da cordialidade na véspera de converter-se em palco de uma festa global? Então separe, tente diferenciar os tipos de agressão e de agressores. A carga de violência continuará igual, porém a descompactação do fenômeno facilitará a compreensão das partes e do todo.

O que está sendo designado como “manifestação popular” é geralmente uma ação política oportunista, claramente orquestrada para obter ganhos imediatos de autoridades perplexas e atônitas num momento de grande tensão e nervosismo. Chantagem pura. Neste conjunto situam-se as greves inesperadas, intempestivas, fora do calendário, fruto de cisões e disputas entre lideranças sindicais e seus padrinhos políticos.

Foi o caso da greve de ônibus que paralisou o Rio de Janeiro na última quinta-feira. A incrível depredação de 467 ônibus tem a ver com a Operação Anti-UPP em curso, tática de exploração emocional de cada incidente adotada pela grande delinqüência -- o crime organizado – com o propósito de desmoralizar a política de pacificação das favelas e debilitar a capacidade de reação do sistema de segurança.

Os fins nunca justificam os meios: as reivindicações de trabalhadores não podem sequestrar os direitos da sociedade nem levar a extremos que impliquem na destruição das ferramentas de trabalho. É suicídio. A propagação da violência só pode partir daqueles que dela necessitam para ocupar espaços e manter o poder.

Algo diferente são as combinações extremas de insanidade com crueldade, representadas por dois impressionantes assassinatos ocorridos com um dia de diferença, portanto não isolados: no Recife, no Estádio do Arruda, depois de um jogo do Paraná com o Santa Cruz um torcedor jogou dois vasos sanitários contra um arquiinimigo do Sport que comemorava o empate no meio da torcida paranaense. Uma das latrinas (15 quilos convertidos pela altura de 24 metros em 300) acertou e matou instantaneamente o adepto do Sport.

Não é a primeira vez em que o Esporte-Rei converte-se em cenário de tragédia. Poderá ser a última quando o circo futebolístico perder a sua condição de fomentador de surtos de antropofagia e canibalismo.

Na etapa seguinte do torneio de brutalidades está o linchamento da dona de casa Fabiane Maria de Jesus, 33 anos, mãe de dois filhos, moradora no balneário do Guarujá, litoral de São Paulo confundida com uma seqüestradora de crianças a serviço de uma seita que as imolava para rituais religiosos.

Linchadores formam-se espontaneamente, agregam-se quando o Estado parece débil, quando leis, juízes e tribunais estão desacreditados e onde campeia a impunidade. São ancestrais na Europa os registros de supostos assassinatos rituais, também os castigos através de linchamentos, fogueiras e lapidações. Ocorriam onde a religiosidade era rústica, primária, e tênue o processo civilizatório.

Aquela remediada comunidade no Guarujá é servida pela Internet: os covardes linchadores e os insensíveis espectadores fotografaram e postaram cenas do crime. A ira contagiosa, viral, a afunda na Idade Média.

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