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Adeus Tito, adeus Liga

O Barcelona sofre o empate nos acréscimos (2 x 2) diante do Getafe e fracassa em sua luta pela defesa do título

Ramon Besa
Bandeira gigante em homenagem a Tito Vilanova.
Bandeira gigante em homenagem a Tito Vilanova.

O Barça se despediu da Liga de maneira ridícula, preso à tristeza, como um ninguém, incapaz de defender o título conquistado com Tito. O fracasso foi tão lento como previsível desde que os azul-grenás tropeçaram contra Valladolid e Granada. Não foi uma surpresa que tenha sido o Getafe quem assinou a rendição do Barcelona, simplesmente porque contra o Getafe sempre acontecem coisas extraordinárias, inclusive no Camp Nou, nem tampouco que o empate tenha acontecido nos acréscimos e numa bola parada, porque não tem havido ultimamente jogos sem suspense, acidentes ou raridades, coisas próprias a uma equipe menor, sem controle do jogo, fraca como é agora a de Martino.

Os barcelonistas jogam mal, o técnico substitui ainda pior, e os torcedores só pedem que acabe logo a temporada, mais atentos ao futuro, e sobretudo a Luis Enrique, e ao passado, especialmente a Tito, do que ao presente e, portanto, a Tata. As partidas são um suplício, falta futebol e ilusão, a maioria melancólica, sangrenta com as debilidades do Barça, generoso em suas concessões, agradecido com um manso Getafe, que precisou apenas finalizar para marcar dois gols. O Barça foi perdendo tantas peças que ao final não foi suficiente nem o gol de Messi, nem a jogada de Cesc nem a lembrança de Tito.

BARCELONA 2 X 2 GETAFE

Barcelona: Pinto; Alves, Bartra, Mascherano (Fábregas, min. 21), Adriano; Xavi (Song, min. 87), Busquets, Iniesta; Alexis, Messi e Pedro (Tello, min. 90). Não utilizados: Oier; Montoya, Afellay e Sergio Roberto.

Getafe: Júlio César; Valera, Alexis, Rafa, Escudero; Sarabia, Juan Rodríguez, Sammir (P. Mosquera, min. 67), Lacen (Michel, min. 86), Lafita; e Colunga (Gavilán, min. 45). Não utilizados: Codina; Lago, Arroyo e Borja.

Gols: 1 x 0, min. 23, Messi; 1 x 1, min. 36, Lafita; 2 x 1, min. 66, Alexis; 2 x 2, min. 92, Lafita.

Árbitro: Teixeira Vitienes: Mostrou cartão amarelo para Mascherano, Daniel Alves, Lafita, Gavilán e Adriano.

Camp Nou: 70.110 espectadores. Foi celebrado um minuto de silêncio em homenagem Tito Vilanova.

Não é fácil despedir-se de Tito. Diariamente se repetem as homenagens e sua lembrança vai perdurar no barcelonismo e especialmente no Camp Nou, apesar de suas cinzas já estarem no Mediterrâneo. Contra o Getafe se realizou um minuto de silêncio com letra maiúscula no estádio: 60 segundos no relógio e não 30 como os árbitros têm costume; sem música, por mais famoso e admirado que seja Pau Casals; tempo respeitado pela torcida, que só levantou a voz para gritar a pleno pulmão: “Tito!”.

Tito sempre gostou mais do silêncio que do barulho, da linguagem corporal que da palavra, da careta como sinal de aprovação ou consentimento, como se as muitas coisas que aconteceram a seu redor fossem imprevisíveis: a doença, a separação de Guardiola, o dedo de Mourinho e a nomeação de Zubizarreta: “E por que não Tito?, exclamou o diretor-técnico quando o nomeou treinador: não se contava com ele e, no entanto, pareceu a decisão mais certa, coerente e natural do mundo.

Assim era a vida de Tito. O minuto em sua homenagem foi mais sentido do que a partida inteira, demorada e acidentada, como se o Barcelona soubesse há bastante tempo que não ganharia a Liga e o Getafe estivesse convencido de que sua permanência não passava precisamente por pontuar no Camp Nou. Os homens de Contra jogaram muito fechados, sem um atacante, com três meio-campistas centralizados e muitos jogadores recolhidos diante de Julio César. O Barcelona também não jogava bem. A tarde foi tão rara e distinta como o tempo no Camp Nou. Não houve mais jogadas até o intervalo além dos gols de Messi e Lafita. O gol do 10 foi bonito pela arrancada do argentino, o passe de Xavi, a abertura do volante para a chegada do lateral pela direita e o cruzamento de Daniel Alves, concluído de primeira pela canhota do próprio Messi. Um gol a favor muito do Barça, assim como muito do Barça foi o gol sofrido após uma falta cobrada por Sarabia. A execução foi tão medonha e surrealista como a finalização de Lafita.

Ninguém soube o que aconteceu depois que resvalou em Mascherano. O rosário de calamidades foi espantoso no Barça. Os problemas se sucedem em cada jogada de estratégia, e nem sempre Pinto responde bem. Ele reclamou de falta de Lafita e, aparentemente, deu razão a ele o bandeirinha, para quem correram todos os jogadores de Martino. O árbitro, no entanto, ficou de longe, apitou contra seu auxiliar e confirmou o 1 x 1. A partida recuperou a quietude, o jogo lento, sempre dependendo do interesse de Messi. O 10 passava de primeira, como se estivesse incomodado ou lesionado, para voltar de maneira rápida, agora com um chute, depois com um drible, mais tarde com uma bola perdida. No vácuo de Messi, o Barça foi atrás do gol da vitória com o faro de Iniesta e a condução de Daniel Alves, ícone contra o racismo desde que comeu a banana jogada nele por um torcedor do Villarreal no El Madrigal. Também não houve jeito, de forma que Martino recorreu a Cesc, inócuo como titular, revolucionário como substituto, também no Camp Nou.

Cesc apareceu e no ato seguinte aconteceu a jogada impossível: um gol com a canhota de Alexis depois de um chute de Pedro, rebatido por Rafa, em uma jogada iniciada pelo meio-campista. Com o 2 x 1 no placar, a equipe azul-grená surpreendentemente ficou pela metade do caminho, sem saber o que convinha fazer: ir em busca do terceiro gol ou garantir a vitória apertada. As dúvidas confundiram Martino, que se complicou nas substituições, e prejudicaram os jogadores, desordenados e desnorteados, sem intensidade nem emoção, obcecados em perder tempo como perderam a Liga. Ninguém estranhou quando Lafita empatou a partida depois de um cruzamento de Gavilán: um gol saído do nada que animou o Getafe para salvar a categoria e condenar o Barcelona.

A torcida azul-grená assumiu o empate com a mesma inquietação com que havia celebrado a vitória. Ninguém vaia, nem canta nem protesta no Camp Nou, como se fosse um estádio furtivo, preso à negatividade, rendido depois do último adeus a Tito Vilanova.

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