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Uma grande coalizão de centro-esquerda desafia o peronismo

Cinco candidatos presidenciais de oposição criam o Frente Amplo-UNEN com o objetivo de chegar à Casa Rosada em 2015

Francisco Peregil
Cristina Kirchner no último dia 9.
Cristina Kirchner no último dia 9. HANDOUT (REUTERS)

Falta um ano e meio para que se celebrem as eleições presidenciais na Argentina, no dia 18 de outubro de 2015. Mas há meses o tema entrou na pauta. A presidenta Cristina Fernández de Kirchner não decide qual candidato deve apoiar e o peronismo se encontra dividido. A oposição de esquerda e de centro-esquerda arrasta também uma história legendária de divisões. No entanto, nesta terça-feira conseguiu apresentar por fim a cinco candidatos presidenciais agrupados sob uma flamante coalizão com o nome de Frente Amplo-UNEN. As pesquisas e os resultados que obtiveram alguns desses dirigentes nas legislativas de 2013 alimentam esperanças nesse grupo para derrotar o peronismo. Mas não foi fácil consolidar essa aliança. E não vai ser fácil mantê-la.

O ato de apresentação do Frente Amplo, em um teatro portenho, já veio precedido pelo que pode ser o grande problema da coalizão: as diferenças ideológicas e a disputa entre egos. Para que ninguém atraísse mais focos que o resto, os candidatos —Julio Cobos, Ernesto Sanz, Elisa Carrió, Fernando Solanas e Hermes Binner— pactuaram que nenhum deles falaria e que seria Luis Brandoni, dirigente da União Cívica Radical, quem leria um comunicado.

Pouco antes de apresentar a sociedade do Frente Amplo, os dirigentes mostraram publicamente sua divisão sobre um tema chave: Incluir ou não incluir nessa aliança ao prefeito de Buenos Aires, Mauricio Macri, pertencente à centro-direita? Elisa Carrió mostrou-se claramente a favor e Pino Solanas se opôs de forma frontal. Para o esquerdista Solanas e para o socialista Hermes Binner, mencionar Macri é mencionar tudo aquilo a que eles sempre se opuseram. Mas Julio Cobos, deputado da União Cívica Radical ,que entre 2007 e 2011 chegou a ser vice-presidente no Governo de Cristina Fernández de Kirchner, opina que se existe uma “verdadeira vocação de poder” é preciso “dialogar com todos”.

Se, apesar de todas as diferenças ideológicas, os cinco dirigentes conseguirem preservar a unidade, em agosto de 2015 deverão concorrar nas eleições Primárias Abertas Simultâneas e Obrigatórias (PASO) que celebram todos os partidos na Argentina. Em teoria, quem conseguir mais votos dos cinco terá o apoio dos outros quatro. A partir daí, as chances ficarão abertas para derrotar o peronismo, algo que só aconteceu em duas ocasiões nos últimos 31 anos: durante o Governo de Raúl Alfonsín (1983-1989) e o de Fernando de la Rúa (1999-2001).

De la Rúa também chegou à Casa Rosada sob outra aliança, a que formou então a União Cívica Radical e o Frente País Solidário (Frepaso). As divisões internas daquela coalizão e a difícil situação econômica que atravessava o país provocou a demissão de Fernando de la Rúa dois anos antes de que terminasse seu mandato em meio de uma grande revolta popular sob o grito de “vão todos embora”.

No dia 20 de dezembro de 2001 Fernando de la Rúa abandonou a Casa Rosada de helicóptero e com isso alimentou-se de novo, para muitos, a crença de que só o peronismo pode governar a Argentina. “Isso é um mito alimentado pelos próprios peronistas”, explica um analista que prefere preservar o anonimato. “Na Argentina o eleitorado valoriza às vezes a governabilidade que podem oferecer os peronistas, mas também se cansam da forma mafiosa que eles têm de governar. Além disso, as condições em que nasceu e governou a Aliançaa de De La Rúa não têm nada a ver com as que enfrenta hoje o Frente Amplio. Agora mesmo existe um enorme mercado eleitoral fora do peronismo. Falta ver se é possível conseguir construir um produto para esse mercado”.

O país já está de olho em outubro de 2015. Até a presidenta Cristina Fernández de Kirchner referiu-se na segunda-feira de forma explícita a este período e disse em um discurso na TV: “Quero deixar ao próximo presidente um país muito melhor do que o que nós encontramos”. Enquanto o peronismo —e dentro deste, o kirchnerismo— avalia quais serão seus candidatos presidenciais, os dirigentes do Frente Amplo aproveitam para insistir com uma mensagem eleitoral baseada na luta contra a corrupção. Falta um ano e meio para as presidenciais, mas não querem deixar de aproveitar nem um só dia do caminho para a Casa Rosada.

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