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O Rei vende nos Emirados o fim da crise e pede confiança na Espanha

O Monarca intercede por 15 empresários que brigam por contratos milionários

O Rei junto ao príncipe herdeiro emiradense, nesta segunda-feira durante o início do fórum empresarial hispano-emiradense.Foto: atlas | Vídeo: ALI HAIDER (EFE) | ATLAS
NATALIA JUNQUERA (ENVIADA ESPECIAL)

O Rei da Espanha lançou nesta segunda-feira em Abu Dhabi uma mensagem às autoridades e empresários emiradenses, e outra aos espanhóis. Na primeira mensagem, em perfeita sincronização com o Governo (que é quem redige seus discursos), foi sobre a recuperação econômica da Espanha. E a segunda, dirigida aos seus compatriotas, foi sobre a sua própria recuperação. Don Juan Carlos queria demonstrar, em sua primeira viagem longa depois de sua última operação de quadril —pela quinta vez—, realizada em novembro e que deixou para trás as suas entradas e saídas na sala de cirurgia, que pode ajudar as empresas espanholas a regar o deserto das caras infraestruturas que a Espanha está há anos sem poder se permitir fazer.

“Nosso país sofreu uma crise que provocou uma dolorosa perda de postos de trabalho”, disse o Rei no primeiro encontro empresarial Espanha-Emirados Árabes Unidos. “Mas hoje saímos da recessão, o capital estrangeiro está regressando com força à Espanha e a economia espanhola voltou a crescer e a criar emprego”.

Conflito pendente

O ministro de Indústria, José Manuel Soria, dedicou quase 100% de sua jornada desta segunda-feira em Abu Dhabi para tratar de arrefecer o conflito com Masdar, empresa do fundo soberano de Abu Dhabi que demandou à Espanha ante a instituição de arbitragem do Banco Mundial pelos recortes à retribuição das energias renováveis que impõe o Governo espanhol. Esses recortes reduzem os benefícios que os emiradenses pensavam obter das centrais termosolares que gerenciam em Sevilla e Cádiz junto à espanhola Sener.

O conselheiro delegado de Masdar levou Soria em um helicóptero para ver a termosolar maior do mundo, equivalente a 250 campos de futebol. Fontes do Governo mostraram-se otimistas sobre a possibilidade de que finalmente se chegue a uma solução. Nas próximas semanas estão previstos novos encontros para discutir o caso.

Espanhóis e emiradenses vão estudar juntos qual é “a estrutura real de custos” das plantas afetadas para chegar a um acordo. “Buscaremos uma saída o mais airosa possível para todos”, prometem fontes diplomáticas.

Don Juan Carlos agradeceu aos Emirados “a confiança” que depositaram na Espanha, inclusive quando poucos o faziam — “olhando para além do sentido do investimento”, afirmou—. E pediu que sigam confiando. “Sabemos de seus ambiciosos planos”, disse o Rei para o ministro de Estado dos Emirados Árabes, o sultão Ahmed Al Jaber, referindo-se ao plano Abu Dhabi 2030 e à exposição internacional de Dubai 2020, onde serão investidos mais de 20 bilhões de dólares.

O ministro das Relações Exteriores, José Manuel García Margallo, lembrou que empresas espanholas conseguiram já importantes contratos como o da AVE e a La Meca; e, dirigindo-se aos opulentos emiradenses, acrescentou: “Podemos fazer mais, bem mais para alargar as nossas relações econômicas”.

Margallo tratou de aplacar os possíveis temores dos emiradenses: “Investir na Espanha é um bom negócio”, assegurou. “O déficit baixou e os mercados recuperaram a confiança no nosso país”. O ministro defendeu a “mudança de modelo” espanhol, que deixou para trás, prometeu, na época do “endividamento profundo”. E apresentou a Espanha como a ponte perfeita, pela posição geográfica, tradição e idioma, com a UE, América Latina e África.

Ao final do dia, não havia grandes contratos assinados. Só a ministra de Fomento, Ana Pastor, anunciou que a espanhola Ineco obtinha a entrega do início do novo terminal do aeroporto de Abu Dhabi —construído pela ACS— por 12,5 milhões de euros. Envolvidos na cor favorita dos anfitriões, o ouro, que estava em todos os lugares —tapetes, paredes, colunas—, duas longas filas de homens —uns, os emiradenses, vestidos com a kandora branca, e outros, os empresários espanhóis, como Florentino Pérez (ACS), Javier Monzón (Indra) ou José Manuel Revuelta (Navantia), uniformizados de terno e gravata — dedicavam a manhã, basicamente, a se conhecer.

Esse era o objetivo principal da viagem: apresentar-se aos emiradenses pela mão do Rei, amigo da família mais poderosa de um dos países mais ricos do mundo, os Al Nahyan. E assim se fez. Em um imenso salão do ostentoso hotel Emirates, que parecia quase vazio embora estivesse ocupado por 50 pessoas, delas só duas mulheres empresárias: a presidenta de FCC, Esther Alcocer Koplowitz, e Noura Abdula, produtora de cinema dos Emirados.

Nos próximos meses será comprovado se, como pediu Margallo, as boas relações entre ambos países “deram frutos”. Se o convênio assinado entre os estaleiros de Abu Dhabi e a Navantia para desenhar (os espanhóis) e construir (os emiradenses) seis lanchas chegaram a um bom lugar; se a OHL ganha o contrato para construir um hospital militar por 100 milhões de euros; se a Construcciones San José ou a FCC construíram um complexo médico por 750 milhões de dólares; se constroem 12 novas estações do metrô de Abu Dhabi ou 28 quilômetros de bonde... Se a Espanha rega o deserto.

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