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Espanha e Itália se somam à pressão da Comissão e do FMI sobre Draghi

“Estou convencido de que o Banco Central vai atuar”, garante o ministro espanhol da Economia, Luis de Guindos

Claudi Pérez
O ministro de Finanças da Alemanha, na segunda-feira na reunião dos ministros das Finanças em Atenas.
O ministro de Finanças da Alemanha, na segunda-feira na reunião dos ministros das Finanças em Atenas.A. M. (AFP)

Volte amanhã, versão Mario Draghi. Questionado sobre o risco de deflação, ou pelo menos de um longo período de baixa inflação que ameaça a fraca recuperação e dificulta o ajuste dos países periféricos, o presidente do Banco Central Europeu respondeu na terça-feira com um lacônico “venha a Frankfurt na quinta-feira”, referindo-se à entrevista coletiva posterior ao conselho do banco europeu. A inflação da zona do euro está em 0,5 %, distante da meta do BCE há seis meses. Vários países, incluindo a Espanha, já estão experimentando taxas negativas. Com o euro muito forte, a economia europeia enfrenta uma espécie de síndrome nem-nem: nem recuperação, que apenas decola e está exposta ao menor sopro de ar, nem inflação, que castiga um continente muito endividado. Nada disso parece alterar o BCE, embora a pressão não pare de crescer: Espanha e Itália se juntaram na terça-feira, em Atenas, às advertências do Fundo Monetário Internacional, da Comissão Europeia e de grande parte dos institutos de opinião e analistas, cada vez mais preocupados com inação de Draghi.

O banco europeu não reconhece a pressão. Draghi apenas mencionou rapidamente o risco de inflação baixa em um breve discurso para os ministros da zona do euro, de acordo com fontes presentes na reunião. Ele rejeitou, uma vez mais, a ameaça de deflação. E depois desta referência, não houve debate, não houve nenhum tipo de discussão. “Nem um único ministro tentou pressioná-lo”, segundo as fontes citadas, embora perante a imprensa tenha havido várias referências sobre o assunto.

A fraqueza política nos países mais afetados pelas baixas taxas de inflação não permite uma pressão real sobre o banco central, guardião feroz de sua independência sacrossanta. A França está enfrentando uma crise de Governo. Na Itália, o novo Governo de Matteo Renzi está apenas há algumas semanas no comando. A Espanha acaba de encerrar o pacote de resgate financeiro. Até mesmo a Comissão está de saída. “Ninguém é capaz de discutir o conjunto Frankfurt-Berlim”, explicaram fontes europeias. Isso deixa Draghi protegido atrás de uma Alemanha que não está só confortável com a situação atual, mas que, inclusive, em documentos internos, apela para um aumento das taxas de juros.

Apesar de Draghi ter evitado, diante de jornalistas, qualquer referência a esse debate, o seu vice-presidente, Vitor Constancio, admitiu que a inflação baixa “é motivo de inquietude”. “Pode pesar sobre a recuperação e prejudica os Governos com dívidas acumuladas mais elevadas”, disse ele. Constancio também descartou a deflação – uma baixa generalizada dos preços, muito difícil de combater – e se aventurou a dizer que as taxas vão se recuperar em abril, e, em geral, à medida que a recuperação se consolide, “desde que os riscos de baixa não se concretizem”. Isto é, desde que se considerem as diversas ameaças que se escondem no horizonte, em uma Europa que conta com um bom punhado de riscos, tanto pela situação econômica e financeira nos países resgatados – e, o mais preocupante, na Itália e França – como pelas ameaças à estabilidade política.

“Não há problemas de deflação na Europa, mas uma inflação muito baixa Luis de Guindos, ministro da Economia Luis de Guindos, ministro de Economía

Apesar desses riscos, quase ninguém no Eurogrupo vai desafiar Draghi. Apenas o anfitrião em Atenas, o grego Yanis Stournaras, lembrou que as expectativas de inflação “permanecem em níveis historicamente baixos, bem abaixo da meta do BCE”, de acordo com um documento assinado pela Grécia, que está atualmente na presidência rotativa da União Europeia. Mais tarde, diante de jornalistas, o italiano Pier Paolo Padoan explicou que uma inflação tão baixa “dificulta o ajuste da dívida”, mas afirmou, sobretudo, que “pode prejudicar o crescimento” na zona euro. O ministro espanhol Luis de Guindos foi ainda mais explícito: “Estou convencido de que o BCE agirá”. “Não há problemas de deflação na Europa, mas uma inflação muito baixa, que possui algumas vantagens como uma evolução moderada dos salários, mas que também representa algumas dificuldades aos países endividados, como a Espanha”, disse o ministro, que se alinhou com o vice-presidente e comissário de Assuntos Econômicos, Olli Rehn.

Com as taxas de juro oficiais muito próximas a 0%, Draghi enfrenta dificuldades políticas para entrar em acordo sobre medidas extraordinárias, como a compra de títulos à moda americana. “O BCE não vai se mover amanhã (quarta-feira)”, previu o diretor do Bruegel, Guntram Wolf. “Pelo menos”, disse ele, “não com medidas realmente heterodoxas, que exigem um consenso difícil”. “Primeiro, porque não quer que as compras de ativos distorçam as análises que está fazendo no banco. E, segundo, porque apenas está desconfortável com a inflação baixa do centro, não na periferia, e é muito difícil ativar medidas eficazes que afetem só a Alemanha e outros países no coração do euro”, concluiu Wolf.

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