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“Este ano a Fórmula 1 é menos espetacular”

Vettel, o piloto alemão da Red Bull e tetracampeão do mundo, analisa a mudança nos carros e sua evolução

Oriol Puigdemont
Vettel, no circuito de Sepang.
Vettel, no circuito de Sepang.paul gilham (Getty)

Em poucos meses, a vida de Sebastian Vettel (Heppenheim, Alemanha, 26 anos) teve uma grande mudança. O campeão mais jovem da história da F-1 foi pai de uma menina, Emily, e passou apuros nos treinamentos deste inverno por culpa de um carro que quebrada a todo momento. Mas como fica claro na conversa que teve com este jornal na última quinta em Sepang, onde hoje (10h, Antena 3, Movistar TV e TV3) começa em segundo, a pressa que tem o tetracampeão alemão por dar a volta por cima a esta situação é tão descomunal como seu desejo de manter seus entes próximos longe dos holofotes. Em sua fila estará pela frente Hamilton, enquanto Rosberg se classificou em terceiro e Alonso, quarto.

Pergunta: Como mudou a vida ser pai?

Resposta: É uma experiência absolutamente diferente de tudo, mas sempre tentei separar meu trabalho do âmbito mais pessoal.

P. No ano passado, depois de ganhar as últimas nove provas seguidas, reconheceu que tinha problemas de espaço para colocar seus troféus. Fez algo a respeito?

R. Sim, uma sala nova. Teria sido muito triste construí-la e logo não ter troféus para enche-la.*Às pessoas podem se encantar com a mudança, mas nós pilotos vemos diferente”

À gente pode-lhe encantar a sacudida, mas os pilotos vemo-lo diferente”


P. Também coleciona macacões e capacetes. Algo mais?

R. Sempre gostei dos carros, os de agora e os clássicos, essa é minha paixão. E claro, se o que te apaixona é a F-1, imagine.

P. Quantos fórmulas tem em sua garagem?

R. Todos com que fui campeão.

P. Considerando como foram as coisas na Austrália, o que te espera nas próximas três ou quatro corridas?

R. É impossível prever. Para nós foi bom descobrir que o carro é rápido, que o potencial está aí e que depende de nós aproveitá-lo. Evidentemente, o pior foi meu abandono e que Daniel [Ricciardo] fosse desclassificado. Não é assim que gostaríamos de começar, mas chegamos aqui com muitas melhoras, peças que devem fazê-lo mais resistente e também mais rápido.

P. Ao chegar em casa e ver esses carros, se perguntou alguma vez: “Porque tinham que mudar tudo em um ano”?

R. É muito sensível: as pessoas podem gostar dessa sacudida porque quebrou a ordem que se havia estabelecido. Nós vemos diferente porque somos os que conduzimos. Agora há menos potência e devemos levar em conta muito mais coisas que antes, quando realmente o que queremos os pilotos é sentir que nos sentamos em uma fera e que tem um poder enorme e que nosso trabalho é leva-la ao limite, mas sem perder o controle.

P. Vê a possibilidade de se recuperar como a melhor forma de comprovar-se?


R. Não creio que deva demonstrar nada a ninguém, em qualquer caso seria a mim mesmo. Saio e faço o possível para ser o mais rápido, não para terminar em quinto, décimo ou 15º.

P. Essas dificuldades te fizeram mudar?

R. Não creio que isso me tenha feito mudar, ou ao menos não noto, ainda que evidentemente amadurece e aprende de todo o mal que te acontece.

P. Há alguma razão para se apaixonar por essa nova F-1?

R. [Pausa grande] Não há nenhuma. Mas o que é para você esta nova F-1?

P. O desejo de querer vender esse campeonato como um banco de provas dos carros de rua.


R. A tecnologia que se a empregado sempre na F-1 vai muito além da que se põe em prática no dia a dia das pessoas. Há coisas que utilizamos aqui que nunca estarão na rua, mas também há as que sim. As mudanças na norma essa vez são muitas, e se os engenheiros e os pilotos estamos passando apuros para entender tudo, imagine para a imprensa e ainda mais para os fãs. No final das contas estamos aqui para que o show seja o mais vistoso possível. A F-1 tem que ser espetacular e este ano entrou em cena vários elementos que fazem que seja menos.

P. As enquetes de popularidade colocam Fernando Alonso e Lewis Hamilton na sua frente. Te surpreende levando em conta o que conseguiu?

R. Creio que é uma boa classificação. Fernando foi o primeiro campeão de todos nós, Lewis foi em 2008 e eu depois. Há os que têm mais popularidade de forma natural.

P. Na temporada passada, especialmente depois de este grande prêmio [ignorou as ordens da equipe e atacou a Webber], recebeu varias vaias. Se propõe a recuperar essa gente?

R. Não lhes guardo nenhum rancor. Estou convencido de que o que fiz no momento estava certo e seguimos adiante, também em relação com Mark. Tínhamos um grande respeito um com o outro e isso não significava que coincidíssemos em tudo.

P. Se dá melhor com Ricciardo que com ele?

R. É diferente, não se pode compara porque quando eu cheguei à Red Bull [2009] sabia muito pouco de Mark, nos separava a idade e minha falta de experiência. Agora faria algumas coisas de forma diferente ao que fiz com 20 anos, e coisas que então não as repetiria porque creio que são estúpidas. Daniel o conheço há muito tempo e quase somos contemporâneos [Ricciardo é dois anos mais jovem]. Mas hoje por hoje é muito difícil que entre os pilotos se criem vínculos de amizade, cada um fica na sua. No passado, a F-1 era muito mais perigosa, havia os que morriam na pista, e isso os unia.

P. Tem algo hoje que agora você aproveite e que com 20 anos não gostava?

R. Seguramente, relaxar, não fazer nada. De algum modo, tive que aprender a aproveitar os momentos de calma porque a temporada é muito intensa.

P. O que faz em uma semana de folga?

R. Recessos ao longo do ano só temos duas: um mês no verão e algo mais no inverno. Neste caso, tento aproveitar da calma. Com minha filha minhas prioridades também mudaram, mas basicamente faço o mesmo que qualquer pessoa de minha idade: estar com meus amigos. Cada vez custa mais vê-los não só pelo meu trabalho, mas sim porque todos temos nossas vidas e já não nos vamos cada manhã no colégio. Tentamos nos encontrar, sair para tomar algo e nos divertir. Ainda tenho que ir com cuidado porque dependendo do lugar a que vou é melhor que não me vejam bancando o idiota.

P. Se vê algum dia dirigindo uma equipe?

R. Não sou nada político, e para ser chefe de uma equipe tem de ser. Não creio que seja feito para mim.

P. Alguns de seus rivais compraram aviões, outros vivem em castelos e outros têm hobbies dos mais bizarros. Entende que há quem veja os pilotos como gente de outro planeta?

R. Eu sou um cara normal com um trabalho nem tanto. As pessoas creem que todos os pilotos têm muito dinheiro e que suas vidas sejam cheias de purpurina. Mas esse não é o meu estilo, eu prefiro uma tarde tranquila. Gosto de bancar o idiota com meus amigos, mas sem que necessariamente tenhamos que gastar muito dinheiro.

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