_
_
_
_
_
campeonato espanhol

Um sábio manejo dos tempos

O Atlético de Madri golpeia o Betis no momento certo, depois da pueril expulsão de Braian Gabi e Diego Costa foram os autores dos gols

Rafael Pineda
Gabi comemora o primeiro gol do Atlético.
Gabi comemora o primeiro gol do Atlético.Marcelo del Pozo (REUTERS)

Deixou correr uma hora. Golpeou logo depois de o Betis dar o enésimo tiro no pé. A equipe andaluza ficou em inferioridade numérica por causa uma ação infantil de Braian, e o Atlético aproveitou com perfeição esse momento. A fruta acabou caindo de madura, com um chute espetacular de Gabi que superou Adán e mostrou a verdade do futebol ao Villamarín. O caos que é a sua equipe, a máquina de ganhar em que se transformou o Atlético, que derrotou o Betis sem se despentear, agradecendo os presentes de um rival digno, mas sem capacidade de competir, esquecido nos infernos da classificação e deprimido pela eliminação europeia perante o Sevilla.

BETIS, 0 - ATLÉTICO, 2

Betis: Adán; Amaya (Nono, min. 26), Paulão, Jordi, Chica; Juanfran, N'Diaye, Lolo Reyes (Matilla, min. 74), Juan Carlos (Cedric, min. 69); Jorge Molina e Braian. Não utilizados: Sara, Varella, Vadillo e Rubén Castro.

Atlético: Courtois; Juanfran, Miranda, Godín, Filipe Luis; Koke (Sosa, min. 83), Gabi, Mario Suárez, Arda Turan (Villa, min. 65); Raúl García (Diego, min. 59) e Diego Costa. Não utilizados: Aranzubía; Insúa, Alderweireld e Cebolla Rodríguez.

Gols: 0 x 1, min. 58, Gabi, num chute forte, de direita, de fora da área; 0 x 2, min. 63, Diego Costa, de perto, com passe de Koke.

Árbitro: Estrada Fernández. Expulsou Braian (min. 55) por duplo cartão amarelo. Deu cartão amarelo a Filipe Luis, Jorge Molina e Diego.

31.313 espectadores no Benito Villamarín.

Foi cômodo para o Atlético, que, não obstante, poderia ter sentenciado a partida muito antes. Inclusive correu alguns riscos, com um chute de Juan Carlos na trave, assim que começava a segunda etapa, e que poderia ter complicado o confronto. Nada disso ocorreu. O Betis mostrou o caminho para sair de qualquer eventual atoleiro. Em especial seu atacante Braian, que foi titular porque Calderón deixou no banco o seu melhor homem, Rubén Castro. O uruguaio viu o segundo amarelo, por mão na bola, e foi expulso. Assim de fácil foi a ida do Atlético a Sevilha, uma parada altamente aprazível para a voracidade do elenco de Simeone.

Com chumbo nas pernas e moralmente destroçado depois do massacre europeu, o Betis esperava um dilúvio. Encontrou apenas uma garoa, um domínio efetivo e pouco firme do Atlético, seguro na zaga, mas com esse ar dissimulado que costuma acompanhar o time na maioria dos encontros. Realmente, a equipe madrilenha joga assim, ordenada, ocupando muito bem os espaços à espera de uma chibatada de Diego Costa. Um controle dos confrontos, que, no entanto, convinha ao Betis, acostumado a que os rivais se atirem ao seu pescoço, farejando a sua debilidade.

O gol de Gabi mostrou a verdade: o caos bético e a máquina vermelha e branca

Só que o elenco andaluz melhorou um pouco nas últimas semanas, mostrando certo nível competitivo, impensável há apenas dois meses, quando foi um cadáver na visita do Real Madrid ou um emaranhado de nervos ante o Athletic. O plano do Betis era simples. Esperar e esperar, deixar passar os minutos em busca de uma oportunidade e sonhar com três pontos para alcançar esse paraíso que seria a permanência na primeira divisão. Contra o lanterna, do qual um mundo o separa, o Atlético foi apenas aspirante ao título em termos de defesa e organização, muito menos forte quando jogadores do porte de Koke e Arda somem em campo. Diante de um boneco quebrado, o Atlético optou por deixar os minutos passarem à espera da oportunidade, na forma de um erro andaluz ou da genialidade de Diego Costa. Certamente o Atlético não tem a qualidade e a capacidade do Barcelona ou do Real para desmontar defesas bem organizadas. Com todas as suas limitações, e apesar da lesão de Amaya e da falta de condicionamento de muitos dos seus jogadores, o Betis se plantou bem diante de Adán, com N’Diaye varrendo todas as bolas perdidas para a sua equipe.

Mesmo sem aquela pitada de imaginação que desmontaria a barricada andaluza, o Atlético chegou a marcar um gol legal. Aos 23 minutos, Diego Costa fez um arremate fabuloso dentro da área, mas o gol foi anulado devido a um inexistente impedimento. O erro arbitral é algo que o laboratório de Simeone não tem como controlar. Assim como não controla que Costa, faça o que fizer, seja culpado ou inocente, leve a arquibancada ao paroxismo. Seu duelo com Paulão pareceu uma vingança da temporada passada. O bético achou que Costa o havia empurrado contra a placa de propaganda e enlouqueceu. Na jogada seguinte, merecia a expulsão por um solada monumental na coxa do novo jogador da seleção espanhola. Curiosamente, a confusão foi conveniente para o Betis, que conseguiu assim chegar ao intervalo sem sofrer gol, vivendo do erro do bandeira e da sua organização defensiva, e surpreso por encarar de igual para igual um aspirante ao título.

Com a vitória, o time de Simeone manda uma mensagem de resistência ao Real Madrid e ao Barcelona

A partida teve uma ação crucial, a única de perigo em verde e branco. Juan Carlos mandou a bola na trave para assustar o Atlético, que decidiu então que já estava bom de jogar andando. Zangado, o time de Simeone deu um passo à frente. Vieram a expulsão de Braian e o chute de Gabi. Seco, de dentro para fora. Um golaço, inalcançável para Adán, que é uma das poucas coisas dignas no Betis. A bomba de direita de Gabi acabou com o jogo e silenciou o Villamarín, que decidiu chiar com o árbitro. De passagem, mandou um novo recado para os grandes. Oculto no seu trabalho e na sua pegada, o Atlético resiste e quer continuar brigando pela Liga. Depois do gol de Costa, além do mais, o Atlético passou a ter piedade desse Betis que tem pinta de segunda divisão e que completou uma das semanas mais duras da sua história depois da derrota frente ao Sevilla.

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_