Bruxelas prepara multas imediatas contra a Rússia

Se Moscou não der sinais de que reduzirá a tensão com a Ucrânia “sofrerá outras sanções ainda esta semana"

Tusk, Hollande, Cameron, Merkel e Renzi, na semana passada em uma reunião prévia à cúpula da UE sobre a crise ucraniana.Y. H. (EFE)

A União Europeia está a ponto de tornar realidade sua ameaça de multar a Rússia por invadir a península da Crimeia. Esta semana os especialistas comunitários estão calculando as sanções, sobre as que os chefes de Estado e de Governo reunidos em Bruxelas discutiram na quinta-feira passada. Se Moscou não der sinais que tem a intenção de reduzir a tensão com a Ucrânia “sofrerá outras multas que poderiam ser adotadas nesta semana”, avisou nesta terça-feira o ministro francês de Exteriores, Laurent Fabius. As medidas estão sendo preparadas para a próxima segunda-feira, segundo informam fontes comunitárias.

Bruxelas esgota todas as opções de diálogo antes de dar um passo inédito em suas complexas relações com a Rússia: aprovar medidas de multa a vários de seus dirigentes. Os representantes diplomáticos trabalham em iniciativas que incluem “congelação de bens pessoais de russos e ucranianos e sanções sobre viagens e vistos”, explicou Fabius. Essa enumeração coincide com o que os líderes da UE denominaram na passada semana de duas fases da escalada contra a Rússia e que deviam começar dentro de alguns dias, caso o Kremlin não inicie o diálogo com o Governo ucraniano para reduzir a tensão. Algo que até o momento não ocorreu.

A advertência francesa foi respaldada por declarações do primeiro-ministro britânico, David Cameron, nas que prevê “multas pesadas caso Moscou não mude de rumo”, segundo declarou à imprensa alemã. Cameron é um dos líderes europeus que se mostram mais firmes contra Putin, de acordo com a atitude norte-americana, partidária desde o primeiro momento de castigar a Rússia pelos seus excessos neste conflito.

Precisamente em Londres foi celebrada nesta terça-feira uma reunião entre representantes da diplomacia britânica, norte-americana e de outros países comunitários e não-comunitários para coordenar uma espécie de resposta internacional à afronta russa, segundo informam fontes diplomáticas. Trata-se de pactuar um conjunto de multas que fortaleçam a resposta do Ocidente ao episódio da Crimeia e ao apoio que Moscou está prestando aos dissidentes contra o Governo ucraniano.

Ainda existe uma possibilidade de que todas estas medidas não cheguem a entrar em vigor, pelo menos não de maneira iminente. Se o diálogo que o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, tenta manter com as autoridades russas avança, “as multas não serão imediatas”, segundo o ministro francês de Exteriores. Em todo caso, a diplomacia europeia é a cada vez mais consciente de que a atitude do presidente russo, Vladimir Putin, não alenta essa esperança.

A imposição de multas foi, até o momento, uma opção com pouco respaldo da UE. Por experiências anteriores, Bruxelas sabe que o Kremlin costuma reafirmar sua atitude em resposta aos desafios, uma opção que não beneficia nem a Europa nem Kiev. Além de suas próprias dúvidas sobre a efetividade destas medidas, em Bruxelas também pesa o medo que os próprios ucranianos têm da Europa penalizar seus vizinhos russos. “O principal objetivo das multas não deveria ser castigar a Rússia, mas reduzir a tensão. O mais inteligente seria um apoio generoso e coordenado à Ucrânia”, assegura o embaixador ucraniano, Kostiantyn Yelisieyev, ao EL PAÍS e outros três meios europeus.

Mais que atacar a Rússia, o que este representante ucraniano espera da União Europeia é que lhe ofereça um horizonte crível de adesão ao clube comunitário como resposta ao levantamento popular motivado pela atitude de seu ex-presidente, Victor Yanukovich, que se negou a assinar um acordo de associação com a UE, e que acabou com a queda do regime. “Deveriam dar-nos uma perspectiva de integração o quanto antes, como se fez com os Bálcãs”, considera este diplomata.

Os representantes comunitários não quiseram precisar se a relação que oferecem à Ucrânia culminaria em algum momento com a oferta de adesão aos vinte e oito países do bloco, pois não existe acordo sobre isso. O único que se mostrou claramente a favor disso foi o Partido Popular Europeu, majoritário até agora no continente. No congresso celebrado na semana passada em Dublin, na Irlanda, seus dirigentes defenderam oferecer à Ucrânia um horizonte de entrada no clube comunitário.

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