Premiê da Ucrânia diz que o país nunca será uma filial da Rússia

O primeiro-ministro Arseni Yatseniuk pede a Moscou que não apoie “terroristas e separatistas” e assegura que ninguém “no mundo civilizado” reconhecerá a “decisão ilegal” da Crimeia

O premiê ucraniano, Arseni Yatseniuk, durante entrevista coletiva em Kiev.POOL (REUTERS)

O primeiro-ministro ucraniano, Arseni Yatseniuk, denunciou nesta sexta-feira na sede do Governo a “decisão ilegal” tomada ontem pelo Parlamento da Crimeia, ao votar a favor de sua união com a Rússia. “Nenhuma decisão dos separatistas será reconhecida pelo mundo civilizado”, afirmou, de forma solene, ante dezenas de jornalistas. O dirigente disse sentir “a unidade em torno da Ucrânia e o respaldo” da Europa ao país frente a Moscou. Yatseniuk mostrou-se aberto ao diálogo com a Rússia, mas “com condições". Para que isso ocorra, o Kremlin "deve retirar seu Exército do território ucraniano, deve deixar de apoiar os separatistas e terroristas e entender que nunca estaremos subordinados a ele, que nunca seremos uma filial da Rússia”, advertiu.

Yatseniuk regressou de sua viagem a Bruxelas –para onde seguiu convidado para a cúpula de chefes de Estado e de Governo dos 28 Estados-membros da União Europeia– na quinta-feira, com um prazo para assinar a parte política do acordo de associação entre a UE e a Ucrânia –“Angela Merkel me disse que é questão de semanas”, disse. Embora seja menos comprometida para Bruxelas, Yatseniuk celebrou esse passo e afirmou que a Ucrânia caminha para o bloco europeu.

O premiê também trouxe a Kiev promessas para direcionar a economia ucraniana em crise, à beira da quebra e necessitada de um resgate. “A UE tomou a decisão unilateral de abrir seu mercado aos produtos agrícolas ucranianos. Só falta assinarmos. Esperamos que isso tenha um efeito positivo e aumente as exportações, com um acréscimo para a economia de 400 milhões de dólares em um ano”. Sobre a abertura do mercado ucraniano à Europa, explicou que vai realizar mais consultas para avaliar os riscos. A Ucrânia deveria ter assinado o acordo de livre comércio com a UE em 28 de novembro na cúpula de Vilna, na Lituânia, mas no último momento o então presidente ucraniano, Viktor Yanukovich, se retratou e decidiu não assinar, o que incendiou os protestos que duraram três meses.

Além disso, Yatseniuk assegurou que há “claras perspectivas de que a UE cancele a petição de vistos para os ucranianos” que viajem à Europa, embora não tenha concretizado uma data.

Um grupo de especialistas do Fundo Monetário Internacional (FMI) está desde a segunda-feira em Kiev para avaliar as necessidades econômicas do país, que as novas autoridades tinham avaliado em 35 bilhões de dólares. O diretor do Departamento Europeu do FMI, Reza Moghadam, disse nesta sexta-feira em um comunicado que estava “impressionado” com a “determinação das autoridades, o sentido de responsabilidade e o compromisso com uma agenda de reformas econômicas e a transparência”, depois de sua visita a Kiev na quinta e na sexta-feira. Yatseniuk pediu na semana passada um resgate urgente ao organismo internacional para evitar a bancarrota, e anunciou que estava disposto a aplicar as medidas de austeridade que a mudança exigisse.

Como complemento, a União Europeia anunciou na quarta-feira que vai liberar um pacote de 11 bilhões de euros de ajuda à Ucrânia, que se somam ao 1 bilhão de dólares (730 milhões de euros) prometido pelos Estados Unidos.

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