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A Repsol e o Governo da Argentina assinam o acordo da YPF

Dois diretores da petroleira espanhola fecham acordo com Buenos Aires após dois anos de litígios com o Executivo de Cristina Fernández pela expropriação

Francisco Peregil

Não teve champanhe nem grandes celebrações. Desta vez não se ouviram pelas ruas de Buenos Aires as vozes de milhares de jovens militantes apoiadores do Governo, como ocorreu no dia da expropriação. Mas na quinta-feira pela tarde Repsol e no Governo da Argentina concluíram um longo caminho de desencontros. Ambos assinaram o documento, segundo o qual o Executivo de Cristina Fernández se compromete a pagar a Repsol 11,7 bilhões de reais, 5 bilhões de dólares em bônus como compensação pela expropriação de 51% das ações da YPF, decretada em abril de 2012. E a Repsol assume a retirada de todas as denúncias colocadas contra o Governo. Os diretores da companhia encarregados de colocar sua rubrica no documento foram Nemesio Fernández-Cuesta, diretor-geral e mão direita do presidente Antonio Brufau, e Luis Suárez de Lezo, um dos 16 conselheiros da companhia e chefe da equipe jurídica.

O encontro foi realizado no ministério de Fazenda e Brufau não compareceu a ele. A intenção da empresa era fechar o capítulo da expropriação como um mero trâmite administrativo em que o credor vai a cobrar sua dívida. Os diretores da Repsol fugiram da pompa dos grandes acordos e deveriam sair do país logo após assinar o acordo.

A partir de agora, a Junta de Acionistas da Repsol deverá referendar o acordo. E, por sua vez, o Congresso argentino, controlado pela maioria da base governista, deverá se pronunciar também sobre o pacto.

A imprensa mais crítica com o Governo argentino tem salientado o fato de que, com os juros somados aos bônus que a Argentina deverá pagar nos próximos anos, o valor total superará 18,7 bilhões de reais, ou 8 bilhões de dólares. Mas o ministro da Economia, Axel Kicillof, grande líder da expropriação, indicou que isso era buscar “pelos em ovo”.

“Seria ridículo pagar em cotas o mesmo que tinha sido combinado. Claro que se deve pagar os juros em prestações, senão seria uma fraude. Mas esse juros são muito bons e menores que o que vocês pagam quando vão comprar algum eletrodoméstico. Nós falamos com a Repsol e isso será pago em prestações até 2033, por suposto não é o que desejava Repsol”, disse Axel Kicillof durante uma entrevista à Rádio Continental, emissora pertencente ao grupo Prisa, editora deste jornal.

Efetivamente, o que a Repsol desejava era receber de uma vez os 11,7 bilhões de reais. Como isso não acontecer, a empresa conseguiu amarrar um acordo com todo tipo de garantias jurídicas e financeiras. Provavelmente 11,7 bilhões de reais -embora seja em bônus- não é a cifra que o Governo gostaria de fechar. De fato, ao longo de 22 meses, houve quatro tentativas fracassadas de alcançar um acordo. E em quase todos elas, o Governo argentino tentou pagar a Repsol com participações minoritárias em empresas que exploram a poço de Vaca Muerta. Mas a Repsol evitou entrar em novas alianças empresariais com o Governo.

Pode que não tenha um claro perdedor nem ganhador no pacto. Mas as duas partes saíram razoavelmente satisfeitas. A pergunta ainda não respondida pelo Governo é: por que não pagou esta compensação no momento de expropriar?

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