A insurreição deixa a Ucrânia em ruínas
A chefe da diplomacia da UE negocia em Kiev um amplo programa de ajuda As disputas internas atrasam a formação de um governo de unidade nacional
Os jovens que vigiavam a entrada do parlamento ucraniano pedem os documentos aos visitantes, conectaram o sistema de segurança e seguem todos os procedimentos de credenciamento. Mas, como suas roupas de camuflagem, seus capacetes daqui e dali e seus escudos de metal, tudo está impregnado de precariedade. Na terça-feira seria nomeado um governo de unidade nacional para tentar destravar a situação política, mas os mesmos políticos reagrupados agora em novas maiorias são incapazes de chegar a um pacto. A decisão foi adiada até quinta-feira e está tudo no ar. A economia, a beira da falência. As tensões entre o leste, de influência russa, e o oeste, pró-europeu, são novamente visíveis.
“Não há dinheiro para pagar as dívidas, a produtividade caiu, a economia está em coma”, explica o economista Alexander Paskhaver. O presidente em exercício, Alexander Turchinov, não economizou dramatismo quando disse há dois dias que a economia “se precipita no abismo”. Tampouco na quarta-feira, quando mostrou preocupação pelos “sinais separatistas” que observa na Crimeia, no sul, onde a maioria da população fala russo e onde houve protestos em Sebastopol contra as novas autoridades de Kiev surgidas depois dos protestos.
Nenhum desses constrangimentos serviu até agora. A deterioração financeira avança e não existe um poder executivo real depois da fuga do ex-presidente Victor Yanukóvich, que continua em busca e captura. Por isso agora a economia “depende do Governo que for escolhido e de como esse decidir gastar o dinheiro. O risco é que peçam agora bilhões e dentro de quatro meses digam ‘precisamos de outro tanto”, acrescenta o economista Paskhaver.
A União Europeia sabe que essa necessidade de fundos imediatos foi um dos fatores que impulsionaram o país a buscar a ajuda de Moscou e por isso busca rapidamente fundos para a sua sobrevivência econômica. “Estamos em contato com nossos sócios para encontrar vias que ajudem a Ucrânia a superar os desafios econômicos. Estamos pensando em combinar empréstimos de curto prazo com outros de longo prazo”, adiantou na terça-feira em Kiev a chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton.
Bruxelas tenta mobilizar todos os meios ao seu alcance para estabilizar a Ucrânia que precisa de reformas democráticas e de estabilidade política, mas, a curto prazo, o mais imperioso é dinheiro. Kiev estima essas necessidades em 35 bilhões de dólares (81,7 bilhões de reais), uma quantidade muito superior aos 15 bilhões de dólares concedidos por Moscou, cujo desembolso agora – depois de um primeiro pagamento de três bilhões – é uma incógnita.
Klitschko será candidato a presidente
Vitali Klitschko, de 42 anos, ex-campeão mundial de boxe, tem sido um dos principais líderes da oposição desde que estouraram as manifestações contra o Governo, por causa da recusa deste em assinar um acordo comercial com a UE, em novembro passado.
As fontes consultadas se recusam a falar de dinheiro porque os detalhes estão sendo negociados por muitas partes. Mas as discussões mantidas com as autoridades de Kiev no final do ano passado, quando a assinatura do acordo de associação com a Europa parecia certa, dão uma ideia das quantidades disponíveis. Naquele momento, a EU estava disposta a conceder à Ucrânia uns 20 bilhões de euros (64,2 bilhões de reais) em sete anos, numa combinação de dinheiro a fundo perdido e linhas de crédito vantajosas. Os fundos seriam procedentes de diferentes instrumentos, incluindo o Banco Europeu de Investimentos e o Banco Europeu para a Reconstrução e o Desenvolvimento.
Se na época o desembolso atingia essa magnitude, agora, depois da violência e da derrubada do poder na Ucrânia, a comunidade internacional pode se aproximar mais da quantia solicitada pelas autoridades provisórias de Kiev. “A situação na Ucrânia está muito frágil, nossa prioridade é estabilizar o país politicamente e depois economicamente”, afirmou o vice-presidente de Assuntos Econômicos da Comissão Europeia, Olli Rehn, partidário de criar uma conferência de doadores para colocar dinheiro sobre a mesa, como pediu o novo poder ucraniano.
Além dos recursos europeus, a maior parte da ajuda da qual a Ucrânia precisa provavelmente virá do Fundo Monetário Internacional, com o qual a alta representante de Política Externa da UE já negocia. Tanto a ajuda do FMI como a europeia apresentam uma desvantagem em relação à procedente da Rússia: os prazos de concessão são mais dilatados – algo que Ucrânia não pode se permitir agora – e estão condicionados à adoção de reformas no país. “Nossa ajuda é muito importante e se baseia no compromisso de adotar reformas”, afirmou o comissário (ministro) europeu de Ampliação e Vizinhança, Stefan Fülle, pelo Twitter. Essas reformas, além disso, não serão muito populares, e podem incluir medidas como a duplicação do preço do gás, avalia um especialista ouvido pela Reuters.
Os investidores estrangeiros na Ucrânia também estão inquietos por causa do acordo com o FMI. “Muitos estão preocupados com qual será o novo Executivo e como [os partidos] irão se virar para obter o acordo”, comenta Julian Ries, um advogado que trabalha com empresas internacionais que desejam se estabelecer na Ucrânia, um país onde os políticos têm a tradição de anteporem seus próprios interesses aos dos cidadãos.
Tu suscripción se está usando en otro dispositivo
¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?
Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.
FlechaTu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.
Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.
En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.
Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.