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Oposicionista ucraniano é encontrado com sinais de tortura

ONG denuncia dezenas de casos de ataques policiais contra jornalistas e médicos. A ONU pede uma investigação rápida e independente das mortes de manifestantes.

Dmitri Bulátov, um líder do grupo Automaidan, durante entrevista.Foto: reuters_live

Dmitry Bulátov, o líder do grupo Automaidan de Kiev (especializado em fazer monitoramentos), que havia desaparecido em 22 de janeiro, apareceu vivo na cidade de Vishenski, nos arredores de Kiev, com sinais evidentes de tortura. Ele teve a orelha cortada e foi esfaqueado em todo o corpo, exibindo até mesmo sinais de que tentaram crucificá-lo. Bulátov procurou a ajuda de camponeses para chamar seus amigos. Eles o pegaram e o levaram para uma clínica em Kiev, onde foi internado. O ex-ministro ucraniano da Defesa Anatoly Grizenko, que conversou com Bulátov, disse que os autores dos maus-tratos provavelmente eram russos.

Enquanto isso, a organização Human Rights Watch (HRW) denunciou dezenas de casos de ataques da polícia contra jornalistas e médicos durante os violentos confrontos no centro de Kiev de 19 a 22 de janeiro. Em um comunicado publicado em seu site, a HRW diz que “documentou 13 casos” de repressão policial “com o uso de cassetetes, balas de borracha e bombas de efeito moral”, enquanto que outras ONGs ucranianas registraram cerca de 60 incidentes do tipo.

A maioria desses ataques ocorreu durante os motins na rua Grushevski em 19 de janeiro, apesar de todos os jornalistas portarem credenciais de imprensa e câmeras, de acordo com a organização internacional. “É possível ferir um jornalista ou um médico por descuido durante confrontos violentos, mas não dezenas”, disse a vice-diretora de programas e emergências da HRW, Anna Neistat, em visita a Kiev.

“A polícia enfrentou sérios desafios durante os tumultos, mas isso não é desculpa para ataques premeditados contra repórteres e médicos, nem para não ter tomado precauções e protegê-los”, acrescentou. Os protestos da oposição eclodiram em Kiev há pouco mais de dois, depois que o presidente ucraniano, Viktor Yanukovych, adiou a assinatura do Acordo de Associação com a União Europeia prevista para o fim de novembro do ano passado.

Diante das crescentes manifestações favoráveis à integração europeia no centro de Kiev, que está ocupado pela oposição, a maioria parlamentar governista aprovou no dia 16 uma série de leis que restringe o direito de reunião e de outras liberdades civis. Três dias depois, foram registradas na capital confrontos violentos entre manifestantes e policiais que deixaram vários mortos – seis, segundo a oposição; três, de acordo com a versão oficial – e centenas de feridos.

O Escritório do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos pediu nesta sexta-feira uma investigação “rápida, completa e independente” sobre as mortes de manifestantes em Kiev, capital da Ucrânia, nos protestos dos últimos dias. “Solicitamos também que sejam investigados os relatos que apontam para casos de sequestro e tortura”, disse em Genebra o porta-voz Rupert Colville, que convocou as partes a “se esforçarem para criar condições para facilitar o diálogo e a reconciliação no país”.

O porta-voz também elogiou o fato de o Parlamento da Ucrânia ter abolido nesta semana o pacote de leis aprovado em 16 de janeiro, que “limitava o exercício de direitos como a liberdade de reunião, associação e expressão e o direito de operação da ONG”. “Fazemos um apelo ao presidente da Ucrânia para que sancione o mais rápido possível a abolição deste pacote de leis”, reiterou Colville.

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